9 de outubro de 2024

Viela ensanguentada


Hoje não sou o mesmo de ontem e nem sei até quando serei o mesmo de hoje, porque o homem muda com o tempo, mas a essência continua a mesma.

Que as palavras continuem a brotar e eu consiga atravessar a ponte, porque esse é o destino de todo homem que sonha e luta.

* * *

A realidade é como uma flor
Cheia de espinhos no corpo
Suas pétalas jazem na calçada
E seu perfume cheira a esgoto
Eu via todos os dias a coitada
Caminhando para lá e para cá
Realidade ensanguentada
Realidade baleada na favela
Realidade feita de corpos negros
Corpos de homens e mulheres
Jogados na viela da periferia
A cara da realidade é triste
Não chega nem a ter alegria
É como a comida ausente
Na barriga magra da esperança

Fonte: Wesley Barbosa, Viela ensanguentada, Ficções Editora, São Paulo, SP, Brasil, 2022.