No cerne do drama da imaturidade está a paradoxal busca da felicidade pelo homem ao tentar satisfazer apenas seus próprios impulsos.
Patricia Elena Schell
Eis um brevíssimo resumo de 10 práticas da
psicoterapia tomista:
1. Consciência pessoal e inter-relação.
Trata-se de fazer um autoexame antes de se engajar com os outros (e antes de
culpar os outros), identificando suas emoções, padrões de pensamento,
comportamento, expectativas, crenças etc. Sem isso não há desenvolvimento da virtude
intelectual da prudência. Por outro lado, a convivência com outras pessoas é
indispensável para o desenvolvimento das faculdades morais e intelectuais do
indivíduo.
2. Moralis. Trata-se de aprender a
distinguir o bem e o mal para orientar o comportamento do paciente. O paciente
deve ser levado a entender que o dever é algo que está para além das
responsabilidades comezinhas, alçando, assim, um patamar mais alto no qual o
paciente se compromete com o bem. O paciente, portanto, deverá entender que a
moral não tem a ver com o cumprimento de regras de etiqueta e boas maneiras,
mas tem a ver com o aperfeiçoamento de sua própria pessoa. Eis porque o
paciente é levado a comprometer-se a comunicar a verdade, aprendendo a discerni-la
com precisão e conter seus impulsos primários e meramente reativos, de modo que
suas ações sejam criteriosamente intencionais. A moral é a expressão de um
caráter autêntico, ou seja, não apenas fazer o bem por fazer (por aparência),
mas querer fazer o bem por convicção interna.
3. Percepção contextual. Trata-se da
interação do indivíduo com os vários ambientes em que se insere, levando-a a discernir
em quais contextos se vê mais ordenado ou desordenado, alinhando suas ações
externas com seu eu. O paciente é levado a assumir uma postura ativa nos contextos
em que vive, e não apenas aceitá-los como são (ou como estão). Os ambientes em
que vive (e/ou os ambientes que evita viver) podem ser oportunidades de ouro
para o crescimento.
4. Personale vs. opus. Trata-se da habilidade
de gerenciar a fronteira entre a vida pessoal e a vida profissional, ordenando
tempo e stress e, mais ainda, tornando o ambiente profissional uma oportunidade
valiosa para transformá-lo em fonte de ordenamento e virtude, para além do
caráter meramente obrigatório (ou algo somente para o “sustento”, ou algo
meramente para a “satisfação pessoal”). O paciente é levado a manter uma
identidade coerente entre casa e trabalho.
5. Ordem e liderança. Trata-se de desenvolver
a capacidade de se ordenar para a liderança, ou seja, de promover uma
hierarquia interior na qual as potências superiores (intelecto e vontade)
estejam no comando do ser, sob pena de sujeitar-se aos ditames do apetite concupiscível.
Note que liderança, aqui, é liderança de si mesmo.
6. Percepção pedagógica. Trata-se de
desenvolver a observação atenta, superando as impressões superficiais e os
devaneios. O paciente é levado a estabelecer critérios claros para o que espera
descobrir, entender e aprender mediante a observação, seja na contemplação da
natureza, na leitura de uma obra ou na vivência de relacionamentos. O paciente
é levado a abandonar a postura meramente curiosa em relação à vida e lançar um
olhar mais intencional, racional, isto é, humano.
7. Assimilação prática. Trata-se do
complemento da prática 6, mas voltada à ação, ou seja, à construção de hábitos
que nutram as lacunas de seu caráter ou comportamento.
8. Resistência e resiliência. Trata-se
de desenvolver no paciente a capacidade de enfrentar as adversidades da vida,
recuperando-se em seguida. Isso inclui a promoção da força física e emocional,
além de exercícios de autocontrole e gestão de stress. Em suma, trata-se do
fortalecimento da vontade no qual o paciente não se “quebrará” (resistência) e
se adaptará (resiliência) às dificuldades. O paciente aprenderá que tudo aquilo
que estiver dentro do horizonte do bem estará ipso facto dentro do
horizonte da vontade. Ele aprenderá a lidar com a urgência em livrar-se da ira em
prol de um bem. É claro que também deverá aprender a evitar a armadilha da
invencibilidade, reconhecendo em si suas limitações. É um trabalho de equilíbrio
cujo fiel da balança é o bem e a verdade buscados.
9. Stabilitas. Trata-se da aquisição
e aplicação de conhecimento. Há duas fases, a primeira das quais o paciente se
dedica a construir um repertório de conceitos, virtudes ou habilidades que
precisa incorporar em sua vida. Na segunda fazer, aplica-se o conhecimento
adquirido.
10. Sacrifício pelo bem comum.
Trata-se de desenvolver no paciente a capacidade para realizar sacrifícios
conscientes pelo benefício alheio, pois é parte da natureza humana a
sociabilidade. Em especial, ensina-se ao paciente a que o próximo experimente o
amor, ou seja, que sacrifique não apenas recursos materiais, tempo, conforto,
preferências, mas que tudo isso resulte em um verdadeiro avanço positivo no
desenvolvimento pessoal do próximo. Trata-se de amor, e não extrair afeto do
próximo. O alvo é o próximo, não o paciente. O efeito sobre o paciente será
colateral.
Fonte: Rafael de Abreu, Práticas em psicoterapia tomista, Editora Domine, Osasco, SP, Brasil, 2024.