1. A pergunta fundamental
A filosofia é a base para o estudo da
mente. É ela que fará – e tentará responder – a pergunta fundamental: o que sou
eu? Esse “eu” age de acordo com aquilo
que o sustenta, de acordo com aquilo que lhe dá um sentido, um fim. O mito de Ésquilo
de Prometeu (aquele que tem “antevisão”) e de seu irmão Epimeteu (aquele
que tem “pós-visão”) conta a criação do mundo. Epimeteu criou os animais, mas
não tinha mais nada para atribuir ao homem. Prometeu vai ao Monte Olimpo e
rouba o fogo dos deuses, dando aos seres humanos a capacidade de cognição e
entendimento da realidade.
A partir desse mito se pode compreender que
a existência humana não é exatamente uma tragédia, como a expressão “tragédia
grega” poderia sugerir, mas um “drama”, ou seja, um ambiente ou espaço dentro
do qual devemos exercer o “fogo dos deuses” e cumprir a obrigação de nos
aperfeiçoar, de nos desenvolver, e alcançar o mais que possível o estado para o
qual fomos criados.
No diálogo A Apologia de Sócrates,
Platão mostra ao leitor a imortalidade da alma e, mais do que isso, que o
processo que o levou a descobri-la é a busca pela verdade. Essa mesma
verdade é aquela buscada pelo “fogo dos deuses” roubado por Prometeu.
2. O apogeu
Na história humana, o apogeu foi a
encarnação de Jesus Cristo, o Verbo. Em nossas vidas também há de haver um
apogeu, mas isso depende da resposta a esta pergunta fundamental: qual a vida
que você deseja viver?
Em seu Da Tranquilidade da Alma,
Sêneca, motivado pela ética estoica, procura ensinar o viver bem, o viver uma
vida bem vivida, uma vida que se aproxime da perfeição humana. Segundo Sêneca,
essa vida bem vivida, essa “vida tranquila”, só é possível alcançá-la mediante
a integração de todas as faculdades da alma, numa unidade em equilíbrio.
Tomás de Aquino, por seu lado, desenvolve com
base na metafísica aristotélica o conhecimento acerca das paixões da alma. “Paixão”,
como se sabe, é aquilo que a alma recebe do exterior, ou seja, aquilo que lhe sobrevém
(sentir) e a modifica (compreender). A paixão, portanto, está no
plano da afetividade, da “receptividade” do que vem de fora, e repercute na
alma em forma de carência e desejo. A paixão é mais própria da potência sensitiva
do que intelectiva, pois é a parte sensitiva que provoca mudanças corporais.
Os sofrimentos estão relacionados com o
modo como nós nos afetamos (eis a paixão) pelas nossas vivências. A psicologia,
portanto, lida com os movimentos da pessoa humana. As paixões, portanto, podem
ser as centelhas que vão mover a pessoa a buscar bens – não bens materiais,
mas bens imateriais.
3. O declínio
Em sua Sabedoria dos Antigos, Francis Bacon recorda personagens dos mitos da antiguidade clássica e os usa como fonte de inspiração para tratar 4 temas que lhe são caros: a distinção entre filosofia e teologia, o lugar do materialismo naturalista, o lugar do método científico e o realismo político. Embora seus temas tenham sido uma tentativa genuína de recobrar as verdades descobertas pelos antigos e medievais, fato é que, com ele e Descartes, inicia-se o período moderno, e as sucessivos erros causados pelas sucessivas revoluções.
Por outro lado, Romano Guardini foi capaz, em meio
às turbulências do mundo contemporâneo, de refletir e conceber o conceito de encontro.
O encontro é aquilo que marca o homem, ao passo que o mundo é o lugar no qual
se dão os encontros. São eles, os encontros, que permitem a relação do homem
com a bondade e a verdade. O declínio do mundo contemporâneo é marcado pela destruição,
ou pelo menos obstaculização, dos encontros que permitem tal engajamento
espiritual.
Fonte: Paulo
Pacheco, Psicologia em 3 atos, YouTube, 2024.