26 de junho de 2011

Os fundamentos da música


O objetivo do curso em vídeo Understanding the Fundamentals of Music, do Dr. Robert Greenberg, é fazer com que o ouvinte, sobretudo o ouvinte de música clássica, adquira ferramentas intelectuais que aprofundem sua experiência auditiva. Talvez a principal característica do curso seja desobrigar o aluno a conhecer notação musical, o que é visto pelo Dr. Greenberg como uma vantagem, uma vez que estimula o aluno a usar os ouvidos em vez dos olhos para entender os conceitos fundamentais da música.

É exatamente por isso que este resumo jamais poderia substituir as aulas, uma vez que o Dr. Greenberg faz uso intensivo de seu piano e de gravações de obras clássicas dos grandes compositores para ensinar os conceitos mais importantes. Se você gosta de música clássica e gostaria de aprofundar seus conhecimentos sem tornar-se músico, recomendo vivamente este curso. Vale a pena. É claro que há muitíssimo mais por aprender, e treinar piano, violino ou outro instrumento ajudaria certamente, mas esta é uma decisão que você pode tomar depois de aprender um pouco de teoria. Talvez este conhecimento prévio possa auxiliá-lo em sua decisão. Não se esqueça de anotar o que aprender durante as aulas, ou pelo menos acompanhá-las com a apostila.

Timbre (som)

O Dr. Greenberg define música como “som no tempo” ou “tempo ordenado pelo som”. É uma definição simples, mas, no seu entender, mais correta do que as definições de dicionários, que tendem a ser incompletas, quando não simplesmente erradas.

O aspecto mais simples da música é o timbre. O timbre nada mais é do que o som que ouvimos dos instrumentos. Há cinco classes de instrumentos, ordenados segundo a maneira como produzem e sustentam seus sons:

a)      Cordas (strings). São tocadas com o arco (violino, viola, violoncelo, contrabaixo; correspondem às cinco oitavas da voz humana – SATB / soprano, alto, tenor, baixo) ou tangidas/beliscadas (ex: harpa, violão).

b)      Madeiras ou sopros (woodwind). São tocadas com sopro direto (ex: piccolo, flauta), sopro em palhetas simples (ex: clarinete, saxofone) ou sopro em palhetas duplas (ex: oboé, corne inglês, fagote).

c)      Metais (brass). São tocadas com sopro direto (ex: trombone, trompete, tuba, trompa francesa).

d)      Percussão (percussion). São tocados quando um objeto é batido, arrastado ou amassado contra outro (ex: tímbano, címbalo, pandeiro, xilofone).

e)      Teclados (keyboards). Podem ser tocados como as cordas tangidas (ex: cravo), como um instrumento de percussão (ex: piano) ou como uma madeira (ex: órgão).

Muitos instrumentos são transpositores, ou seja, suas notas são anotadas na partitura de maneira que soem diferentes quando tocadas, em função dos diferentes tamanhos (ex: saxofone alto e saxofone tenor) e mesmo sistema de dedilhado (ex: oboé/não transpositor e corne inglês/transpositor). Este fenômeno é relativamente comum em madeiras e metais.

Em uma apresentação musical, os instrumentos podem ser agrupados de três formas:

  • Solo. Apenas um instrumento toca.
  • Câmara. Dois ou mais instrumentos tocam, com apenas um músico por parte (ex: quarteto de cordas, que é composto por dois violinos, uma viola e um violoncelo).
  • Orquestra. Muitos instrumentos tocam, com dois ou mais músicos por parte (ex: vários violinos, várias violas etc.).

A dinâmica (dynamics) refere-se à intensidade sonora, coloquialmente conhecida como “volume” da música. A dinâmica pode ser fixa, como nas indicações forte, piano, mezzo-forte etc., ou gradual, como nas indicações de crescendo ou diminuendo.

Ritmo (tempo)

O Dr. Greenberg chama de batida (beat) ou pulsação (pulse) da música à menor divisão temporal possível dentro da qual somos capazes de mover confortavelmente nossos corpos. A batida afeta o corpo humano de maneira metabólica, fazendo com que ele “dance”, nem que seja estalando os dedos, batendo o punho ou qualquer reação semelhante que marque a batida.

A velocidade com que se dá a batida em uma música é chamada de andamento (tempo): presto, allegro, lento, largo etc. Modernamente, utiliza-se o metrônomo para indicar a freqüência exata de cada andamento.

A métrica (meter) é a medida musical para o número de batidas que se agrupam. Há quatro métricas principais: binário, ternário, composta e aditiva. A métrica se detecta auditivamente, acompanhando as batidas acentuadas (accents) que ocorrem regularmente, mas que nem sempre são as mais altas ou as primeiras dentro do grupo/compasso. A métrica binária refere-se a duas ou quatro batidas agrupadas, enquanto a ternária refere-se a três batidas agrupadas (sarabanda, minueto, valsa, mazurka, polonesa etc.). A música amétrica é aquela na qual não se detecta nenhum compasso (p.ex: canto gregoriano).

As marcas de tempo (time signature) é a marcação nas partituras que indicam a métrica. Por exemplo, 4/4 significa métrica binária (numerador), 3/4 métrica ternária (numerador).  O denominador indica o tipo de nota musical que marca uma batida.

Síncope (syncopation) é o nome que se dá a batida acentuada que ocorre quando não a esperamos uma batida acentuada. Ela é usada para criar ambigüidade, interesse e tensão, ou mesmo para marcar a mudança da métrica em uma determinada passagem da música.

A métrica composta é qualquer métrica que apresenta uma subdivisão tripla dentro de cada batida. Se a batida primária estiver em métrica binária, então a métrica composta será binária. Caso contrário, será métrica composta ternária.

A métrica aditiva é aquela que soma métricas binárias e ternárias (p.ex., a abertura do 2º movimento da 6ª sinfonia de Tchaikovsky em si menor, op.74) está em métrica 5, ou seja, ternária mais binária (3 + 2). Assim como a assimetria métrica (ausência de métrica fixa em uma música ou movimento, como no Ritual da Primavera, de Stravinsky), a métrica aditiva ganhou espaço apenas no século XX.

Altura (freqüência)

Em termos musicais, ruído é todo som no qual o ouvido humano é incapaz de identificar uma freqüência fundamental (altura). A altura é, portanto, o som caracterizado por uma freqüência fundamental e por um timbre. Quando um lá é tocado em um piano, a freqüência fundamental é de 440 Hz; no entanto, a altura não é apenas o som desta freqüência, mas a somatória dela com os sobretons dela, que inevitavelmente são produzidas conjuntamente. Esta somatória dá a característica típica do timbre. A propósito, esta altura, chamada de “lá de concerto”, é a altura na qual os instrumentos são afinados em uma orquestra.

É importante não confundir altura com nota. A nota, além da freqüência fundamental e do timbre, apresenta também uma duração. Portanto, não se diz “me dê uma nota ré maior no piano”, a não ser que a altura tenha sido devidamente anotada com uma duração.

A grande maioria das obras de música clássica ocidental apresenta três coleções de alturas (pitch collections): maior, menor e cromática. A palavra escala (scale) não é apropriada porque implica em uma ordem de alturas, o que não ocorre em uma simples coleção.

O intervalo (interval) característico das coleções é a oitava (octave). Pitágoras compreendeu que duas alturas tocadas simultaneamente com uma oitava de diferença, ou seja, em uma relação 2:1 em suas freqüências fundamentais, não se parecem com sons distintos, mas combinam-se como se fossem um mesmo som em uma mesma altura. São, portanto, sons consonantes. A palavra oitava surgiu quando, no Ocidente, o sistema de alturas possuía sete alturas. A oitava era, portanto, a oitava altura a partir de uma altura cuja freqüência era o dobro (ou a metade).

A coleção cromática divide uma oitava em 12 alturas. A distância entre alturas adjacentes é chamada de semitom. No entanto, a música ocidental caracteriza-se por coleções de alturas com apenas 7 alturas, o que inclui as coleções maior e menor. Uma coleção de sete alturas é chamada de diatônica. O intervalo entre alturas adjacentes em uma coleção diatônica consiste de quatro tons (1 tom = 2 semitons) e dois semitons. Por exemplo, a coleção dó maior consiste nas teclas brancas do piano, de dó a dó (cinco tons inteiros e dois semitons). Em uma coleção diatônica, a primeira altura é chamada de altura tônica (tonic pitch).

As sete possíveis coleções diatônicas produzem sete modos. O modo jônio (ionian mode) é produzido no piano pelas teclas brancas de dó a dó: tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom. Este modo também é chamado de modo maior. O modo eólio (aeolian mode) é produzido no piano pelas teclas brancas de lá a lá: tom, semitom, tom, tom, semitom, tom, tom. Este modo também é chamado de modo menor. Os modos jônio e eólio (ou maior e menor) são os mais utilizados na música ocidental. Apenas para constar, os outros cinco modos são: dórico, frígio, lídio, lócrio e mixolídio.

O terceiro grau de um modo determina se ele é brilhante ou soturno. O terceiro grau do modo jônio (maior) está quatro semitons acima da tônica, enquanto no eólio (menor) está três semitons acima da tônica. Os quatro semitons conferem brilhantismo ao modo maior, enquanto os três semitons conferem certa escuridão ao modo menor.

A série de sobretons estudada por Pitágoras a partir de um monocórdio permitiu-lhe chegar a algumas conclusões interessantes. Alguns intervalos, chamados de “justos” (perfect), são particularmente empolgantes e essenciais: a oitava, a quinta e a quarta.
A quinta é o segundo intervalo mais importante depois da oitava, e é por isso chamada de altura dominante (dominant pitch). Na escala dó maior, por exemplo, a quinta justa é o sol. O acorde (chord) produzido nesta dominante cria uma tensão.

A quarta é o terceiro intervalo mais importante depois da oitava e da quinta, e é por isso chamada de altura subdominante (subdominante pitch). Nas cadências (fins de frases, seções ou movimentos), o acorde subdominante precede o dominante, que em seguida é finalizado ou “resolvido” pelo acorde tônico. É a progressão IV-V-I.

Na Renascença, descobriu-se que se empilhando quintas uma sobre as outras, na 13ª altura, chegava-se novamente a altura original. Na realidade, alcança-se 1/8 de tom mais grave do que a 13ª altura. Assim, esforços para resolver esta situação resultaram no que hoje chamamos de afinação de temperamento igual (equal temperament), na qual a oitava é dividida em 12 semitons exatamente iguais.

Assim, esta afinação permite que tenhamos 12 coleções em modo maior e 12 coleções em modo maior, contanto que se mantenha o esquema T-T-S | T-T-T-S (T=tom; S = semitom) para o modo maior e T–S–T | T–S–T–T para o modo menor.

Tonalidade é a tendência que uma determinada altura ou harmonia tem para ser o centro gravitacional de uma determinada seção ou movimento musical. A palavra tom (key) refere-se precisamente à tonalidade específica que será a altura tônica da música, bem como indica a coleção que se dará a partir desta altura.

O tom da música é percebido de três formas:

  • Implicação melódica: quando a melodia claramente se resolve ou repousa sobre a tônica.
  • Resolução harmônica: o som simultâneo de três ou mais alturas, chamado de acordo harmônico, segue as alturas mais importantes da coleção diatônica; assim, a resolução de acordes de tensão pelos acordes de repouso também indica onde está o tom da música.
  • Afirmação: quando o tom fica evidente pela repetição ou sustentação por um longo período; chama-se tom pedal (pedal tone) ou apenas pedal.

O círculo de quintas (circle of fifths) apresenta as 12 alturas da coleção cromática em forma circular. Ele mostra os tons maiores e menores distantes uma quinta entre si nas cunhas adjacentes, bem como apresenta a armadura (key signature) de cada tom, com seus sustenidos e bemóis, reproduzido nas partituras para indicar em qual tom está a seção ou movimento. O círculo também é útil para indicar proximidade ou distância entre os tons. Por exemplo, o tom dó maior e o tom lá menor possuem a mesma armadura, ou seja, sem sustenidos ou bemóis: é o que chamamos de tons relativos, pois compartilham as mesmas alturas, mas tônicas distintas. Por outro lado, os tons paralelos são assim chamados por compartilharem a mesma tônica, mas com alturas distintas (ex: dó menor e dó maior).

O trítono (tritone) é o intervalo mais dissonante e mais instável do sistema tonal e, portanto, precisa ser resolvido (ex: fá e si). É importante notar que a nomenclatura dos intervalos é composta pela distância da segunda altura em relação à primeira, não se esquecendo que a primeira já conta como “um”. Por exemplo, o intervalo entre dó e ré é uma segunda maior, ou seja, um tom de diferença entre elas. O intervalo entre dó e ré b (ré bemol) é chamado de segunda menor. Os intervalos compostos por quatro semitons são as terceiras maiores (ex: dó-mi), enquanto os intervalos compostos por três semitons são as terceiras menores (ex: dó-mi b). Os intervalos compostos por cinco semitons são as quartas perfeitas (ou justas), enquanto os intervalos compostos por sete semitons são as quintas perfeitas (ou justas). Quanto às quartas e quintas, não dizemos que elas possuem “maiores” ou “menores”, mas “aumentadas” ou “diminuídas”, pois tais modificadores nos lembram que os sons assim modificados não soam como os intervalos originais (p.ex., uma segunda maior e uma segunda menor soam como segundas), mas como outros intervalos maiores e menores (p.ex, uma quarta diminuída soa como uma terceira maior; uma quinta aumentada soa como uma sexta menor). É tudo uma questão de percepção auditiva. Por fim, uma quinta diminuída e uma quarta aumentada (ambas contêm seis semitons de intervalo) soam como um trítono. Os intervalos compostos por oito semitons são as sextas menores, enquanto os intervalos compostos por nove semitons são as sextas maiores. Os intervalos compostos por dez semitons são as sétimas menores, enquanto os intervalos compostos por onze semitons são as sétimas maiores.

Estes intervalos são complementares, no sentido de que alguns deles, quando combinados, produzem uma oitava:

  • Dois trítonos produzem uma oitava. Naturalmente, som resultante é dissonante.
  • Uma quarta perfeita e uma quinta perfeita produzem uma oitava. Consonante.
  • Uma terceira menor e uma sexta maior produzem uma oitava. Consonante.
  • Uma segunda menor e uma sétima maior produzem uma oitava. Dissonante.
Os intervalos percebidos sucessivamente são chamados de intervalos melódicos (raramente os percebemos consonantes ou dissonantes), enquanto os intervalos percebidos simultaneamente são os intervalos harmônicos.

Melodia (sons sucessivos)

A melodia é o som que percebemos em sucessão temporal. A principal idéia melódica de uma seção ou movimento é chamada de tema (theme), embora a palavra tema também se refira ao ritmo ou harmonia característicos de um movimento.

Há quatro tipos principais de melodias:

(a)    Melodia verbal: as palavras cantadas são a causa principal da melodia, ou seja, são elas que determinam as mudanças de altura (p.ex., canto gregoriano; Eurídice, de Jacopo Peri).

(b)   Melodia vocal: as palavras e a música desempenham papéis igualmente importantes, mas a música tenta expressar sentidos que se encontram para além da música (p.ex., as árias (solos dramáticos independentes) e recitativos (eventos pertinentes, como diálogos) das óperas do século XVII; Giuseppe Verdi, Rigoletto (1851), ato 3, “La donna è mobile).

(c)    Melodia instrumental vocalmente concebida: apresenta o fenômeno do lirismo, ou seja, quando a música de certa forma imita o falar humano (p.ex., Johann Sebastian Bach, Suíte Orquestral nº 3 em ré maior, BWV 1068 (1731), 2º movimento; Wolfgang Amadeus Mozart, Sonata para Piano em lá maior, K. 331 (1781–1783), 3º movimento; Frédéric Chopin, Impromptu nº 4 em dó s menor, op. 66 (1835); Piotr Ilyich Tchaikovsky, Concerto para Violino em ré maior, op. 35 (1878), 1º movimento, 1º tema).

(d)   Melodia instrumental: os motivos (motives), que são breves sucessões de notas, compõem o tema melódico por repetição e transformação (p.ex., Ludwig van Beethoven, Sinfonia nº 5 em dó menor, op. 67 (1808), 1º movimento, 1º tema).

(e)    Melodia de acompanhamento: quando um instrumento dá auxílio melódico à melodia principal, como os contrabaixos, ou quando uma linha melódica secundária gira em torno da primária (p.ex., Piotr Ilyich Tchaikovsky, Concerto para Violino em ré maior, op. 35, 1º movimento, linha de contrabaixo).

(f)     Contramelodia: quando uma melodia secundária assume momentaneamente a frente das melodias temáticas principais (p.ex., Piotr Ilyich Tchaikovsky, Concerto para Violino em ré maior, op. 35, 1º movimento, melodia temática e contramelodia).

(g)    Melodia periódica: quando uma seção musical apresenta com clareza começo, meio e fim (p.ex., os movimentos da era clássica, como Wolfgang Amadeus Mozart, Quarteto para Piano em sol menor, K. 478 (1785), 1º movimento, ou Wolfgang Amadeus Mozart, Sinfonia em dó maior, K. 551 (Júpiter, 1788), 1º movimento, abertura, nas quais se percebe claramente que as frases melódicas antecedentes terminam em acordes dominantes e as frases conseqüentes terminam na tônica).

(h)    Melodia contínua: quando não há um meio e um fim bem determinados (p.ex., Richard Wagner, Götterdämmerung (1874), “A Jornada de Siegfried pelo Reno”).

Em melodia, a textura (texture) é o número de melodias presentes em uma seção ou movimento. Há quatro tipos principais:

(a)    Monofonia: uma única linha melódica (p.ex., canto gregoriano; Wipo, Victimae paschali (c. 1040)).

(b)   Polifonia (ou contraponto): duas ou mais linhas melódicas, todas de igual importância, podendo ser imitativa (as linhas se imitam, como em Johann Sebastian Bach, Invenção em Duas Partes nº 8 in fá maior, BWV 779 (c. 1723) e não imitativa (duas ou mais melodias são ouvidas simultaneamente, como ocorre no jazz).

(c)    Homofonia: uma linha melódica principal e as demais como melodias de acompanhamento (p.ex., a linha de contrabaixo em Wolfgang Amadeus Mozart, Variações em Ah, vous dirai-je, maman, K. 265, tema; a harmonização de acorde em Ludwig van Beethoven, Sonata para Piano nº 8 in dó menor, op. 13 (Pathétique, 1799), abertura; a contramelodia em Ludwig van Beethoven, Sinfonia nº 9 in ré menor, op. 125 (1824), 4º movimento, tema do Ode à Alegria).

(d)   Heterofonia: diferentes partes unem-se para produzir uma única melodia, como na música indonésia, ou uma melodia é acompanhada de uma versão ornamentada de si mesma, como da música vocal oriental; há pouquíssimos casos de heterofonia na música ocidental.

Harmonia (sons simultâneos)

A tríade maior (major triad) é o principal componente do sistema harmônico ocidental. Ele é composto de duas terceiras, resultando assim em três alturas. Há quatro tipos de tríades: maior, menor, diminuída e aumentada. Por exemplo, no tom dó maior, a tríade maior é dó-mi (terceira maior) e mi-sol (terceira menor); no tom dó menor, a tríade menor é dó-mi b (terceira menor) e mi b-sol (terceira maior). Observe que as tríades maiores e menores são invertidas entre si, que o intervalo entre suas tônicas e suas terceiras alturas é uma quinta, e que todas são consonantes.

As tríades diminuídas são, por sua vez, constituídas de duas terceiras menores, como em dó-mi b e mi b-sol b. O intervalo total corresponde a uma quinta diminuída (um trítono, portanto) e seu som é dissonante.

As tríades aumentadas são constituídas de duas terceiras maiores, como em dó-mi e mi-sol s. O intervalo total corresponde a uma quinta aumentada e seu som é dissonante.

As tríades também são classificadas de acordo com a maneira como ocorrem. Por exemplo, na coleção maior, há as seguintes tríades:

(a)    Tríade tônica é a tríade maior formada sobre a altura tônica de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo I). Por exemplo: dó-mi-sol.

(b)   Tríade supertônica é a tríade menor formada sobre o segundo grau de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo II). Por exemplo: ré-fá-lá.

(c)    Tríade mediante é a tríade menor formada sobre o terceiro grau, ou seja, a meio caminho entre as alturas tônica e dominante, de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo III). Por exemplo: mi-sol-si.

(d)   Tríade subdominante é a tríade maior formada sobre o quarto grau de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo IV). Por exemplo: fá-lá-dó.

(e)    Tríade dominante é a tríade maior formada sobre o quinto grau de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo V). Por exemplo: sol-si-ré.

(f)     Tríade submediante é a tríade menor formada sobre o sexto grau de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo VI). Por exemplo: lá-dó-mi.

(g)    Tríade líder é a tríade diminuída formada sobre o sétimo grau de uma coleção maior (simbolizada com o algarismo VII). Por exemplo: si-ré-fá. Ela é importante porque a tensão criada por ela (afinal, é um trítono) tende a ser resolvida pela tríade tônica, cujo intervalo é de apenas um semitom. O uso melódico e harmônico combinado da tríade líder é extensamente empregado na música clássica ocidental.

As tríades de primeira inversão são aquelas na qual o terceiro grau do acorde está na linha de baixo. Por exemplo, a tríade mi-sol-dó. As tríades de segunda inversão, por sua vez, são aquelas na qual o quinto grau do acorde está na linha de baixo. Por exemplo, a tríade sol-dó-mi. As inversões são úteis para vozes, não para música, e dão apoio à linha de soprano.

A progressão harmônica (harmonic progression) é o movimento de um acorde para o próximo. A cadência (cadence) é a progressão harmônica mais conhecida, pois é ela quem termina uma frase, seção ou movimento. Há as cadências fechadas ou autênticas (é um “ponto final” claramente percebido), as abertas (é uma “vírgula”) dividem o tema em duas partes, as falsas (resolvem-se fora da tônica) e as do tipo amém (progressão de tríades IV para I).

Modulação (modulation) é o processo através do qual a música tonal muda seu tom durante o movimento, criando certa instabilidade e transitoriedade harmônica. Há inúmeras e complexas técnicas para se fazer isso, como o uso do círculo das quintas e do tom comum ou pivô (duas ou mais alturas são comuns às duas harmonias).