15 de março de 2024

A tríade trágica


Todo ser humano passa pela tríade trágica: dor/sofrimento (todo mundo vai sofrer), culpa (todo mundo vai errar) e morte (todo mundo vai morrer). A única forma de não passar por essa tríade seria não existir.

Passo 1. Aceitar/admitir a tríade trágica com coragem. Portanto, a pergunta "por que eu?" não faz sentido à luz da tríade trágica. O que faz sentido é perguntar-se "por que agora?" ou, melhor ainda, "por que não eu?"

Passo 2. Compreender o trauma. Em outras palavras, buscar compreender o sofrimento mediante a contextualização, entendendo como o sofrimento aconteceu. A ideia não é encontrar uma "explicação" para o sofrimento, mas preparar para a posterior conferência de novos significados às experiências traumáticas. O sentido da vida continua a existir nas experiências traumáticas porque elas fazem parte da vida. A ideia não é buscar um "porquê", mas um "para quê". O homem que enfrenta o sofrimento e é capaz de transformar o sofrimento em conquista é o que Frankl chama de homo patiens e também de “homem superior”, por ser esta a maior capacidade humana. Alberto Nery chama esta transformação de “alquimia do sentido”.

Passo 3. Aprender a praticar o perdão. O perdão é uma escolha, mas pode ser aprendido e exercido. Perdoar é uma noção de magnanimidade, ou seja, é colocar-se acima do sofrimento. Mas note que a ideia é não apenas perdoar o próximo quando somos vítimas, mas perdoar a si mesmo porque boa parte do nosso sofrimento tem a ver com culpa. Quando nos culpamos nos colocamos como vítimas de nós mesmos. Lembre-se: a culpa faz de você outra pessoa, portanto culpar-se prolongadamente é não apenas prejudicial, mas irracional. A culpa é um privilégio que nos faz refletir, mas não podemos nos deter na culpa. Para as pessoas religiosas, perdoar a Deus é fundamental porque as experiências traumáticas podem fazer com que elas percam sua fé.

Portanto, superar um trauma significa que aquilo não vai doer mais, ou pelo menos não dói a ponto de lhe “ferir” novamente. O trauma será lembrado como um pesadelo, como algo que durou pouco. É como uma cicatriz que aponta para uma ferida que um dia doeu.

Fonte: Alberto Nery, A logoterapia e a superação de traumas emocionais, YouTube, 2019.