19 de dezembro de 2007

São Nicolau, o Taumaturgo

Hoje comemora-se o dia de São Nicolau, o Taumaturgo, um dos mais famosos santos da Cristandade, e que é especialmente venerado na Igreja Ortodoxa Russa.

Vamos aproveitar este dia para lembrar que a figura deste venerável santo é exatamente o oposto do "Papai Noel", a quem supostamente São Niculau teria inspirado. Papai Noel não existe, é uma invenção humana feita para iludir crianças em favor de adultos mal-intencionados. São Nicolau existe, está vivo no Reino dos Céus, e intercede junto ao Cristo por todos aqueles que rezam com humildade e mansidão. Papai Noel é a esperança mórbida daqueles que só têm olhos para este mundo. São Nicolau é a esperança viva daqueles que sabem que Cristo salvou a humanidade e abriu Seu Reino para os dignos e justos. Papai Noel sufoca e mata o sentido do Natal. São Nicolau nos faz lembrar que este Natal é, afinal, o Natal de nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo.

Segue uma pequena biografia de São Nicolau, traduzida do site da Orthodox Church in America.

São Nicolau, interceda por nós junto a Cristo para que Ele tenha piedade de nós, perdoe nossos pecados e nos dê coragem, humildade e mansidão para levarmos uma vida digna e justa, a fim de sermos aceitos em Seu Reino eterno. Amém.

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São Nicolau, o Taumaturgo, Arcebispo de Mira, é famoso por ser um grande santo. Ele nasceu na cidade de Patara, na região da Lícia (litoral sul da península da Ásia Menor, atual Turquia), e era filho único de pais piedosos, chamados Teófanes e Nonna, que prometeram dedicá-lo a Deus.

Tendo sido fruto das orações de seus pais, que eram desprovidos de filhos, o jovem Nicolau, desde os primeiros dias de seu nascimento, revelara ao povo a luz de sua futura glória como taumaturgo [taumaturgo significa aquele que faz milagres]. Sua mãe, Nonna, após dar à luz, foi imediatamente curada de uma doença. O recém-nascido, quando estava na fonte batismal, ficou de pé por três horas, sem ajuda de ninguém, honrando assim a Santíssima Trindade. São Nicolau jejuava desde a infância, e as quartas e sextas-feiras ele não aceitava leite de sua mãe até que seus pais tivessem terminado as orações da noite.

Desde a tenra infância, Nicolau dedicou-se ao estudo das Sagradas Escrituras; de dia ele não deixava a igreja e, de noite, rezava e lia, fazendo de si próprio uma morada digna para o Espírito Santo. O Bispo Nicolau de Patara regozijava-se com o sucesso espiritual e com a profunda piedade de seu sobrinho. Ele o ordenou leitor e, mais tarde, elevou-o ao sacerdócio, tornando-o seu assistente e confiando-lhe o ensino do rebanho.

Servindo ao Senhor, o jovem era fervoroso de espírito; sua proficiência nas questões da fé o fazia parecer um ancião, despertando espanto e profundo respeito por parte dos fiéis.
Enérgico e laborioso, em oração incessante, o Padre Nicolau era sempre amável com seu rebanho e com aqueles que vinham em busca de ajuda, distribuindo sua herança aos pobres.

Certa vez, São Nicolau impediu que um habitante rico de Patara cometesse um grave pecado. O sujeito tinha três filhas e, em desespero, planejava vender seus corpos a fim de conseguir dinheiro para comprar comida. O santo ficou sabendo da pobreza desse homem e de suas vis intenções e à noite, em segredo, atirou um saco de ouro pela janela de sua casa. Com o dinheiro, o homem conseguiu arranjar um casamento honorável para sua filha. São Nicolau também deu ouro para as demais filhas, salvando a família de uma grande catástrofe espiritual. São Nicolau sempre fazia caridade em segredo, ocultando suas boas obras.

O Bispo de Patara resolveu peregrinar aos lugares santos de Jerusalém, e confiou o guiamento de seu rebanho a São Nicolau, que cumpriu a tarefa com esmero e amor. Quando o bispo retornou, Nicolau pediu sua bênção para uma peregrinação à Terra Santa. Ao longo do caminho, o santo previu que uma tempestade surgiria, ameaçando o navio em que estava. São Nicolau viu o diabo subindo no navio, afundando-o e matando todos os passageiros. Atendendo às súplicas dos peregrinos desesperados, ele acalmou as ondas do mar com suas orações. Pelas suas orações, certo marinheiro, que havia caído do mastro e encontrava-se gravemente ferido, foi curado.

Quando ele chegou à antiga cidade de Jerusalém, a caminho do Gólgota, São Nicolau deu graças ao Salvador. Ele visitou e adorou em todos os lugares santos. Certa noite, no Monte Sião, as portas da igreja se abriram sozinhas para o grande peregrino. Foi visitando os lugares santos ligados ao Filho de Deus que São Nicolau decidiu retirar-se para o deserto, mas foi barrado por uma voz divina que lhe encorajou a retornar a seu país de origem. Ele retornou à Lícia e, desejoso de uma vida em quietude, o santo entrou na irmandade de um mosteiro chamado Santo Sião, fundado por seu tio. Mas novamente o Senhor indicou outro caminho a ele: “Nicolau, este não é o vinhedo onde tu darás fruto para Mim. Retorne ao mundo, e, lá, glorifique Meu Nome”. Assim, ele deixou Patara e foi a Mira, na Lícia.

Com a morte do Arcebispo João, Nicolau foi escolhido Bispo de Mira da seguinte maneira. Um dos bispos do concílio afirmou que um novo arcebispo seria revelado por Deus, e não escolhido por homens. Um dos bispos, um ancião, teve uma visão na qual um Homem radiante lhe dissera que aquele que viesse à igreja de noite e fosse o primeiro a entrar seria feito arcebispo. Ele seria chamado Nicolau. O bispo entrou na igreja, aguardando Nicolau. O santo, que era sempre o primeiro a chegar à igreja, foi interrompido pelo bispo. “Qual seu nome, filho?”, perguntou. O escolhido de Deus respondeu: “Meu nome é Nicolau, Mestre, e sou teu servo”.

Após sua consagração como arcebispo, São Nicolau continuou sendo um grande asceta. Seu rebanho tinha dele uma imagem de cordialidade, bondade e amor pelo povo. Tais traços foram especialmente importantes para a Igreja de Lícia durante a perseguição aos cristãos no governo de Diocleciano (284-305). O Bispo Nicolau, preso junto com outros cristãos por se recusar a adorar ídolos, deu-lhes sustento, exortando-os a suportar as algumas, castigos e torturas. O Senhor o preservou intacto. Após a ascensão de São Constantino (21 de maio) como imperador, São Nicolau foi devolvido ao seu rebanho, que recebeu seu guia e intercessor com grande alegria.

Apesar de sua cordialidade de espírito e pureza de coração, São Nicolau era um zeloso e ardente combatente da Igreja de Cristo. Para combater os espíritos malignos, o santo destruiu os ídolos e templos pagãos da cidade de Mira.

Em 325, São Nicolau participou do Primeiro Concílio Ecumênico. Neste Concílio, foi proclamado o Símbolo de Fé de Nicéia, e nele São Nicolau levantou-se contra o herege Ário, ao lado de São Silvestre, Bispo de Roma (2 de janeiro), Santo Alexandre de Alexandria (29 de maio), São Spyridon de Trimitonto (12 de dezembro) entre outros Padres.

São Nicolau, cheio de zelo pelo Senhor, atacou o herege Ário com palavras, inclusive batendo-lhe no rosto. Por causa disso, foi desprovido das honras episcopais e colocado sob vigilância. Mas muitos Santos Padres tiveram a visão de que o próprio Senhor e a Mãe de Deus estavam lhe restaurando o Evangelho e o omofórion. Os Padres do Concílio entenderam, então, que a audácia do santo era agradável a Deus, e o reabilitaram ao seu ofício de bispo.

Retornando à sua diocese, o santo levou paz e bênçãos, semeando a palavra da Verdade, eliminando heresias, nutrindo seu rebanho com sãs doutrinas e fornecendo-lhes comida.

Mesmo em vida, o santo operava vários milagres. Um dos maiores foi quando libertou três homens de uma morte injusta, condenados pelo governador, que fora subornado. O santo agiu com coragem, levantando-se e tirando a espada do executor, que já estava suspensa sobre a cabeça dos condenados. O governador, denunciado por São Nicolau pelos seus atos, arrependeu-se e pediu perdão.

Neste evento estavam presentes três oficiais militares, enviados à Frígia pelo Imperador Constantino a fim de sufocarem uma rebelião. Eles não suspeitavam que, em breve, estariam pedindo a intercessão de São Nicolau. Homens malignos os caluniaram diante do imperador, tendo sido condenados à morte. Mas São Nicolau apareceu em sonho a São Constantino, pedindo-lhe para que revertesse a injusta sentença dos oficiais militares.

Ele operou diversos outros milagres, permanecendo em combate por muitos anos. Pelas orações do santo, a cidade de Mira foi poupada de uma fome terrível. Ele apareceu a certo mercador italiano, deixando com ele três moedas de ouro a título de promessa de pagamento. Ele pediu que velejasse até Mira e lá entregasse grãos. Mais de uma vez, o santo salvou náufragos, prisioneiros e escravos.

Em idade avançada, São Nicolau repousou em paz no Senhor. Suas relíquias incorruptas foram preservadas na catedral local, cujo bálsamo vertia com abundância e curava a muita gente. Em 1087, suas relíquias foram transferidas para a cidade italiana de Bari, onde permanecem até hoje.

O nome deste grande santo de Deus, o hierarca e taumaturgo Nicolau, tornou-se famoso nos quatro cantos da terra. Na Rússia, há uma multidão de catedrais, mosteiros e igrejas consagradas a seu nome. Não há, talvez, uma única cidade que não contenha uma igreja dedicada a ele.

O primeiro príncipe russo, Askold (+ 882), foi batizado em 866 pelo Patriarca Photius (6 de fevereiro) com o nome de Nicolau. No túmulo de Askold, Santa Olga (11 de julho) construiu o primeiro templo de São Nicolau na Igreja Russa de Kiev. As primeiras catedrais foram dedicadas a São Nicolau em Izborsk, Ostrov, Mozhaisk e Zaraisk. Em Novgorod, uma das principais igrejas da cidade, a igreja de Nikolo-Dvorischensk, tornou-se mais tarde uma catedral.

Igrejas e mosteiros famosos e venerados foram dedicados a São Nicolau em Kiev, Smolensk, Pskov, Toropetsa, Galich, Archangelsk, Ustiug, Tobolsk. Moscou possui dezenas de igrejas que levam o nome do santo, e lá há também três mosteiros com seu nome: o Nikolo-Grega (Staryi) no bairro chinês, o Nikolo-Perervinsk e o Nikolo-Ugreshsk. Uma das torres principais do Kremlin foi batizada de Nikolsk.

Muitas igrejas devotadas ao santo foram estabelecidas em bairros comerciais por navegantes, viajantes e comerciantes russos, venerando o taumaturgo Nicolau como protetor dos viajantes por mar e terra.

Muitas igrejas no interior da Rússia foram dedicadas ao taumaturgo Nicolau, veneradas por camponeses como um intercessor misericordioso diante do Senhor. E nas terras russas São Nicolau não cessou suas intercessões. A antiga Kiev preserva a memória do resgate miraculoso de um bebê pelo santo. O grande taumaturgo, ouvindo as preces de seus pais pela perda de seu único filho, tirou a criança das águas, ressuscitou-a e colocou-a no sótão de coral da igreja da Santa Sabedoria (Hagia Sophia) diante de seu ícone taumaturgo. De manhã, a criança foi encontrada sã e salva pelos seus pais, que então louvaram a São Nicolau, o Taumaturgo.

Diversos ícones milagrosos de São Nicolau surgiram na Rússia, inclusive vindos de outros países. Há uma antiga imagem bizantina do santo, trazida de Novgorod para Moscou, e uma grande imagem pintada no século XIII por um mestre de Novgorod.

Dois ícones do taumaturgo são especialmente conhecidos na Igreja Russa: São Nicolau de Zaraisk, retratado de corpo inteiro, com sua mão direita em posição de bênção e sua mão esquerda segurando o Evangelho (essa imagem foi trazida de Ryazan em 1225 pela Prinicesa Eupraxia, a futura esposa do Prícipe Teodoro. Ela faleceu em 1237, juntamente com seu marido e filho, durante a incursão de Batu); e São Nicolau de Mozhaisk, também de corpo inteiro, com uma espada em sua mão direita e uma cidade na esquerda, para lembrar o resgate miraculoso da cidade de Mozhaisk de invasões inimigas, por meio das orações do santo. É impossível listar todos os ícones de São Nicolau nem listar todos os seus milagres.

São Nicolau é patrono dos viajantes, e rezamos a ele pelo livramento de enchentes, pobrezas e quaisquer desgraças. Ele prometeu ajudar àqueles que se lembrarem de seus pais, Teófanes e Nonna.

São Nicolau também é lembrado no dia 9 de maio (translado de suas relíquias) e em 29 de julho (seu nascimento).