“Deus se fez homem para que o homem se faça
Deus”. Esta famosíssima injunção de Santo Atanásio nos lembra qual é o ponto de
partida para a perfeição cristã. Diz-se também na Escritura: “Sede vós
pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:48). A
união do homem com Cristo é não apenas conveniente, mas necessária para a
consecução do aperfeiçoamento humano. Isso significa que a graça é
fundamental para a superação dos pecados e vícios que maculam o pleno
desenvolvimento do homem em sua natureza. E para a obtenção da graça é
fundamental a fé (“O justo viverá pela fé” (Hebreus 10:38)), ou seja, a
adesão à revelação que nos vem por Jesus Cristo.
E o Cristo começa seus ensinamentos
públicos precisamente pelo fim, ou seja, a quê somos chamados. Em outras
palavras, como alcançar a perfeição, ou seja, as felicidades, isto é, as
bem-aventuranças. Eis o fim, a causa das causas, da vida humana: a
felicidade (“bem-aventurança”).
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.
A riqueza, não apenas material, mas
espiritual, impede que os possui a se aproximar de Deus. Tais riquezas têm de
ser abandonadas para que tomemos uma riqueza infinitamente superior, que é a
riqueza divina. Isso não significa que as riquezas do mundo sejam más, mas
simplesmente que não são apreciáveis.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Os que choram são os que encontram a
vanglória e presunção do mundo comparado com a realidade divina, e também
aqueles que choram por ação do Espírito Santo.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
A verdade encontra-se obstruída pela
injustiça porque o que reina no mundo é a injustiça. A injustiça impede a visão
da verdadeira natureza do homem e de Deus. Se a verdade não nascer em nós
seremos incapazes de vencer a injustiça e alcançar a união com Cristo.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
A purificação do coração aqui se refere
como coração enquanto afeto e coração enquanto olhar. Limpar o coração enquanto
afeto significa tornar a vontade reta (justa) pela graça, ou seja, tornar a
vontade misericordiosa, ou seja, capaz de ver a miséria do próximo. A graça
aqui é necessária porque só o Cristo é capaz de tirar nossa miséria. Os
misericordiosos, portanto, são aqueles unidos ao Cristo, unidos à paixão do
Cristo. Limpar o coração enquanto olhar é precisamente a capacidade de ver o
próprio Deus, o qual, como dissemos ao início, exige pobreza sensitiva e
pobreza intelectual. “A fé tem seus olhos”, dizia Santo Agostinho.
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.
Os pacificadores são os que trabalham pela
paz, ou seja, pelo Cristo. O trabalho é, evidentemente, o trabalho
sobrenatural.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Os que vivem na injustiça naturalmente perseguirão os que trabalham pela justiça.
Fonte: Ignacio Andereggen, Camino de perfeciõn cristiana, YouTube, 2025.