21 de outubro de 2024

Dez práticas em psicoterapia


No cerne do drama da imaturidade está a paradoxal busca da felicidade pelo homem ao tentar satisfazer apenas seus próprios impulsos. 

Patricia Elena Schell

Eis um brevíssimo resumo de 10 práticas da psicoterapia tomista:

1. Consciência pessoal e inter-relação. Trata-se de fazer um autoexame antes de se engajar com os outros (e antes de culpar os outros), identificando suas emoções, padrões de pensamento, comportamento, expectativas, crenças etc. Sem isso não há desenvolvimento da virtude intelectual da prudência. Por outro lado, a convivência com outras pessoas é indispensável para o desenvolvimento das faculdades morais e intelectuais do indivíduo.

2. Moralis. Trata-se de aprender a distinguir o bem e o mal para orientar o comportamento do paciente. O paciente deve ser levado a entender que o dever é algo que está para além das responsabilidades comezinhas, alçando, assim, um patamar mais alto no qual o paciente se compromete com o bem. O paciente, portanto, deverá entender que a moral não tem a ver com o cumprimento de regras de etiqueta e boas maneiras, mas tem a ver com o aperfeiçoamento de sua própria pessoa. Eis porque o paciente é levado a comprometer-se a comunicar a verdade, aprendendo a discerni-la com precisão e conter seus impulsos primários e meramente reativos, de modo que suas ações sejam criteriosamente intencionais. A moral é a expressão de um caráter autêntico, ou seja, não apenas fazer o bem por fazer (por aparência), mas querer fazer o bem por convicção interna.

3. Percepção contextual. Trata-se da interação do indivíduo com os vários ambientes em que se insere, levando-a a discernir em quais contextos se vê mais ordenado ou desordenado, alinhando suas ações externas com seu eu. O paciente é levado a assumir uma postura ativa nos contextos em que vive, e não apenas aceitá-los como são (ou como estão). Os ambientes em que vive (e/ou os ambientes que evita viver) podem ser oportunidades de ouro para o crescimento.

4. Personale vs. opus. Trata-se da habilidade de gerenciar a fronteira entre a vida pessoal e a vida profissional, ordenando tempo e stress e, mais ainda, tornando o ambiente profissional uma oportunidade valiosa para transformá-lo em fonte de ordenamento e virtude, para além do caráter meramente obrigatório (ou algo somente para o “sustento”, ou algo meramente para a “satisfação pessoal”). O paciente é levado a manter uma identidade coerente entre casa e trabalho.

5. Ordem e liderança. Trata-se de desenvolver a capacidade de se ordenar para a liderança, ou seja, de promover uma hierarquia interior na qual as potências superiores (intelecto e vontade) estejam no comando do ser, sob pena de sujeitar-se aos ditames do apetite concupiscível. Note que liderança, aqui, é liderança de si mesmo.

6. Percepção pedagógica. Trata-se de desenvolver a observação atenta, superando as impressões superficiais e os devaneios. O paciente é levado a estabelecer critérios claros para o que espera descobrir, entender e aprender mediante a observação, seja na contemplação da natureza, na leitura de uma obra ou na vivência de relacionamentos. O paciente é levado a abandonar a postura meramente curiosa em relação à vida e lançar um olhar mais intencional, racional, isto é, humano.

7. Assimilação prática. Trata-se do complemento da prática 6, mas voltada à ação, ou seja, à construção de hábitos que nutram as lacunas de seu caráter ou comportamento.

8. Resistência e resiliência. Trata-se de desenvolver no paciente a capacidade de enfrentar as adversidades da vida, recuperando-se em seguida. Isso inclui a promoção da força física e emocional, além de exercícios de autocontrole e gestão de stress. Em suma, trata-se do fortalecimento da vontade no qual o paciente não se “quebrará” (resistência) e se adaptará (resiliência) às dificuldades. O paciente aprenderá que tudo aquilo que estiver dentro do horizonte do bem estará ipso facto dentro do horizonte da vontade. Ele aprenderá a lidar com a urgência em livrar-se da ira em prol de um bem. É claro que também deverá aprender a evitar a armadilha da invencibilidade, reconhecendo em si suas limitações. É um trabalho de equilíbrio cujo fiel da balança é o bem e a verdade buscados.

9. Stabilitas. Trata-se da aquisição e aplicação de conhecimento. Há duas fases, a primeira das quais o paciente se dedica a construir um repertório de conceitos, virtudes ou habilidades que precisa incorporar em sua vida. Na segunda fazer, aplica-se o conhecimento adquirido.

10. Sacrifício pelo bem comum. Trata-se de desenvolver no paciente a capacidade para realizar sacrifícios conscientes pelo benefício alheio, pois é parte da natureza humana a sociabilidade. Em especial, ensina-se ao paciente a que o próximo experimente o amor, ou seja, que sacrifique não apenas recursos materiais, tempo, conforto, preferências, mas que tudo isso resulte em um verdadeiro avanço positivo no desenvolvimento pessoal do próximo. Trata-se de amor, e não extrair afeto do próximo. O alvo é o próximo, não o paciente. O efeito sobre o paciente será colateral.

Fonte: Rafael de Abreu, Práticas em psicoterapia tomista, Editora Domine, Osasco, SP, Brasil, 2024.