Uma maneira inteligente, e mais adequada a nosso tempo, de apresentar uma analogia à Trindade é brevemente delineada por Joseph P. Farrell. Aqui algumas notas da leitura mescladas com observações pessoais.
(1) Farrell foi cuidadoso ao distinguir espaço adimensional do "vácuo" espacial (o "vácuo" que se aprende na escola, que obviamente não é vácuo).
(2) Por isso a representação gráfica e só um apoio imaginativo à explicação, o que ele fez bem em deixar claro ao referir-se à distinção como we cannot assign any real dimensionality to any of the entities thus distinguished.
(3) Essa metáfora é mais pertinente do que a velha metáfora da luz usada pelos medievais porque, hoje sabemos, o sol não é feito de luz.
(4) As três distinções oddly enough compartilham o mesmo hiperconjunto vazio Ø. Lembre-se, são distinções adimiensionais, aespaciais, atemporais, aformais, "a-tudo".
(5) Nos Vedas, Vishnu se diferencia em três, embora Vishnu seja uma dessas diferenciações. Impossível não notar uma semelhança com a Trindade, na qual o Pai (monarquia, princípio único) se diferencia em três, embora o Pai seja uma dessas diferenciações (hipóstase). Vishnu, assim com o Pai, tem a função de unir os opostos (Brahma/Shiva, Filho/Espírito). No entanto, não é explícito, na doutrina trinitária cristã, que o Pai possa ser impessoal, como o é nos Vedas, embora na versão ocidental tomista haja uma visão beatífica da essência divina, algo impessoal portanto.
(6) As pessoas, nos Vedas, são associadas às suas funções, o que pode gerar a tentação de reduzir a pessoa à sua função. No entanto, Farrell observa que é impossível atribuir ao hiperconjunto vazio original seja uma essencialidade, seja uma pessoalidade.
(7) Ora, a metáfora védica pode apresentar dois tipos de leitura: a "fecundidade" de Vishnu para com a criação (cuja "resolução" se dá pela ascese intelectual) ou o "endividamento" da criação para com Vishnu (cuja "resolução" se dá pelo sacrifício).
(8) O problema é que a expressão matemática da metáfora topológica não permite a segunda leitura. Não existe nenhuma conexão lógica entre diferenciação e sacrifício, e tal conexão é uma distorção da metáfora topológica em termos religiosos: a dívida da "culpa", do "pecado" etc.
É claro que ainda fica aquela velha "pulga atrás da orelha": quem disse que metáforas matemáticas, abstrações de segunto grau que são, podem servir como descrições metafísicas, que são abstrações de terceiro grau? Claro, trata-se de uma analogia, e com tal tem de ser vista.
Fonte: Joseph P. Farrell, Financial Vipers of Venice, Feral House, Port Townsend, WA, EUA, 2010, capítulo 2, seção B.