18 de agosto de 2008

A doença da religião e sua cura

Este ensaio é parte integrante de um estudo do Pe. João Romanides chamado “Os Sínodos da Igreja e a Civilização”, apresentado na VI Encontro da Comissão Luterano-Ortodoxa, realizado entre 31 de maio e 8 de junho de 1991 em Moscou, Rússia. Eles foram posteriormente revisados e impressos pelo Mosteiro Koutloumousiou do Monte Athos, sob o título de “A Religião é uma Doença Neurobiológica e a Ortodoxia é sua Cura”, na coletânea “O Helenismo Ortodoxo Rumo ao Terceiro Milênio”, volume II, pág. 67-87, 1996.

Leia outros artigos do Pe. Romanides em português: O que é o nous?, Qual o núcleo da tradição ortodoxa? e Conservadores e liberais.

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Prefácio
A principal diferença entre os três Evangelhos dos Apóstolos Mateus, Marcos e Lucas e o Evangelho do Apóstolo João [1] reside nos dois estágios de cura do segundo núcleo da personalidade humana, isto é, do coração (responsável pela circulação do sangue). O primeiro núcleo da personalidade humana encontra-se no cérebro ou intelecto, que é parte integrante do sistema da medula espinhal (responsável pela circulação do líquido cefalorraquidiano, ou “líquor”). É o coração que precisa ser curado pela purificação e iluminação, cuja consumação poderá se dar na glorificação da pessoa inteira. Os Evangelhos dos Apóstolos Mateus, Marcos e Lucas, juntamente com textos do Velho Testamento, sobretudo os Salmos, eram usados como parte do processo de purificação e iluminação dos corações dos catecúmenos, culminando-se na celebração da Paixão e Crucificação do Senhor da Glória, quando eram batizados no Sábado Santo [conhecido no Ocidente como “Sábado de Aleluia”, isto é, o sábado que antecede a Páscoa – N. do T.]. A esses batismos seguia-se a celebração da Ressurreição do Cristo que, por sua vez, era concluída com a Eucaristia da Páscoa, a partir da qual o Evangelho do Apóstolo João começava a ser lido e interpretado, num período de 50 dias, até o Domingo do Pentecostes. Durante este período de instrução joanina, esperava-se que o recém-batizado progredisse do estado de purificação do coração ao estado de iluminação por meio de salmos e orações incessantes, em contraste aos salmos e orações eventuais do intelecto. A esta altura, a pessoa sabia que estava se tornando membro do Corpo do Cristo à medida que a oração no coração estivesse se consolidando e tornando-se incessantemente presente. Caso a pessoa já tivesse tido essa oração mas a perdeu por algum motivo, e, mesmo assim, estivesse satisfeita de já a ter tido no passado, então estaria correndo enorme perigo pois “que ninguém pense que se tornou membro do Corpo de uma vez por todas”. [2]

Pentecostes é o evento no qual as Igrejas do Velho e Novo Testamento tornaram-se o Corpo do Cristo, que passou a incluir todos os antepassados que foram iluminados e glorificados antes da Encarnação de Yahweh. Assim como no Velho Testamento, as pessoas que perseveraram na iluminação de seus corações continuarão em direção às suas glorificações, ou seja, à suas ordenações a profetas. Eis porque São João Batista, já glorificado e ordenado a profeta, foi novamente glorificado, mas, desta vez, experimentou a estranha realidade de estar batizando o próprio Yahweh Encarnado. Seis dias após afirmar que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam o domínio de Deus vir em poder, Cristo novamente revelou-Se como Yahweh Encarnado aos Apóstolos Pedro, Tiago e João. [3]

Tais realidades bíblicas não podem ser corretamente interpretadas por aqueles que se deixaram contaminar pelas distorções de Agostinho sobre a Revelação de Deus aos profetas do Velho e Novo Testamento. Agostinho se intimidou com a doutrina ariana segundo a qual o Logos é criado porque Ele era visível a todos a quem Se revelava. Em contraste à tradição do Velho e Novo Testamento, Agostinho confeccionou uma doutrina segundo a qual Deus era visto e ouvido pelos profetas e apóstolos por meio de criaturas que Ele trazia à existência para serem vistas e ouvidas e então aniquiladas após serem vistas e ouvidas. A despeito destas repentinas aparições do nada e desaparições para o nada, somente a natureza humana do Logos permaneceria existindo após Sua Encarnação. [4] Exemplos destas supostas criaturas seriam a pomba do Batismo do Cristo, o domínio de Deus (erroneamente traduzida como “reino” de Deus) na Transfiguração, as línguas de fogo no Pentecostes etc.

Esperava-se que, durante este período joanino, o recém-batizado entrasse no estágio de iluminação do coração com salmos e orações incessantes, conforme explicado por São Paulo, especialmente em I Coríntios 12-15:12. Este será o ponto de partida deste estudo, dado que são nestes trechos que encontramos um esboço esotérico da realidade interior da adoração da Igreja primitiva, liderada por apóstolos, profetas e doutores, cujas autoridades emanavam de suas próprias glorificações mutuamente reconhecidas.

Introdução

Todas as fantasias, sobretudo a religião, são causadas por um curto-circuito no núcleo da personalidade humana. Esse curto-circuito é curado na iluminação do coração por meio da oração incessante, em contraposição à oração intelectual e eventual do cérebro. O estudo desta cura será o foco deste ensaio. Mais uma vez, afirmo que quando a iluminação resulta em glorificação, então homens e mulheres são ordenados a profetas. Isto é o que os profetas do Velho e Novo Testamento são, e isto é o que os faz Padres da Igreja. O que os profetas viram além da visão sensorial, em suas glorificações, é o próprio Yahweh, tanto antes quanto depois de Sua Encarnação.

O curto-circuito ocorre entre o coração, que bombeia sangue, e a medula espinhal, que causa a circulação do líquido cefalorraquidiano [líquor]. Todas as fantasias têm sua raiz neste curto-circuito, que não é nada mais do que uma espécie de “curto-circuito elétrico”. Este mal aparta sua vítima da realidade em diversos graus. Por causa deste mal, a pessoa nem sempre distingue entre realidade e fantasia. Talvez a mais perigosa das fantasias sejam aquelas religiões que alegam possuir textos ditados por Deus e entendidos por uma casta de líderes supostamente inspirados. Por causa das fantasias, há homens escravos de forças demoníacas, que se manifestam sobretudo nas religiões. Somente os cegos não enxergam o fato de que as religiões são uma das principais fontes de confusão social.

Porém, na tradição do Velho e Novo Testamento, tais líderes supostamente inspirados constituíam uma distorção daquilo que se aceitava na Igreja primitiva, durante o período de catecumenato, enquanto se passava pelos estágios da purificação e iluminação do coração a caminho da glorificação. A própria iluminação do coração por meio dos salmos e orações incessantes constituía a prova de que se estava no caminho certo para a glorificação. As pessoas que fingiam terem alcançado a iluminação e a glorificação não conseguiam enganar os verdadeiros profetas. Os dois critérios básicos para se detectar um falso profeta são: (1) é impossível expressar Deus e muito menos concebê-Lo e (2) não há qualquer semelhança entre o criado e o incriado. Falsos profetas são facilmente detectáveis pois transgridem estes dois critérios, os quais, a propósito, Agostinho transgrediu repetidas vezes.

Em total contraposição a esses critérios, a maior parte das doutrinas e interpretações bíblicas pertence ao reino da fantasia porque as pessoas foram levadas a crer que suas próprias fantasias são um dom da fé. Seus líderes, que não têm a menor idéia da existência da iluminação do coração e da glorificação, aqui e agora, nesta vida, convencem seu rebanho de que sua fé, em si, é prova de que estão no caminho da salvação. O próprio Movimento Ecumênico para a Unidade Cristã ainda não conseguiu aventar a possibilidade de que a chave para a unidade é a cura por meio da oração incessante no coração e por meio da glorificação.

O curto-circuito em questão minimiza o nível de comunhão com a glória incriada de Deus, que satura e governa e criação. Todos os seres criados participam nas criativas e sustentadoras energias incriadas de Deus, que são coletivamente chamadas de “Sua glória” e “domínio” no Velho e Novo Testamento. Essa é a realidade que subsume o Velho e o Novo Testamento, isto é, o Judaísmo primitivo e o Cristianismo dos Nove Concílios Ecumênicos convocados pelo Imperador Romano, que governou a partir de Constantinopla, a Nova Roma, até sua captura pelos turcos otomanos em 1453. Embora o Império Romano tenha desaparecido, a prática da cura do coração por meio de sua purificação e iluminação até a glorificação não desapareceram, pelo menos ainda. Saberemos que o último glorificado faleceu quando a sociedade humana falecer. E este último glorificado provavelmente não será membro de nenhuma Igreja “oficial”.

1) O curto-circuito

O curto-circuito entre o coração e a medula espinhal é reparado por meio da oração incessante no coração. Somente quando o curto-circuito for reparado a pessoa começará a ser libertada do reino das fantasias, através do qual o diabo governa as sociedades humanas.

A comunhão humana com as energias incriadas de Deus é aumentada pela energia purificadora, iluminadora e glorificadora de Deus. Em contraposição à glorificação bíblica, a tradição platônica e aristotélica ensina que a felicidade é o objetivo maior do homem, quando, na verdade, ela é o próprio inferno, isto é, a satisfação total de seus desejos egocêntricos.

O resultado mais importante da glorificação é a revelação de que (1) não há qualquer semelhança entre o criado e o incriado e (2) é impossível expressar Deus e muito menos concebê-Lo. Em outras palavras, a própria Bíblia não é uma expressão de Deus e nem contém conceitos sobre Deus. Somente nas mãos de um glorificado a Bíblia pode ser usada para guiar pessoas na cura de seus corações por meio da purificação, iluminação e glorificação. Nas mãos de charlatães, a Bíblia leva suas vítimas à destruição.

Para se tornar um membro do Corpo do Cristo, começa-se com a fé de aceitação, durante a fase da purificação do coração. Essa fé tem de se transformar em fé interior à medida que é testificada pela oração incessante. A oração incessante no coração testifica o fato de que se começou a fazer parte do Corpo do Cristo. Porém, chegar ao estado de iluminação e, daí, às portas da glorificação, significa que o Senhor da Glória está levando a pessoa à Sua glorificação para seu própria bem, mas sobretudo para o bem dos outros. Ao ser glorificado, a pessoa volta à iluminação como “homem”. [5]

2) O Anjo Yahweh da Glória [6]

O Primeiro e o Segundo Concílio Ecumênico condenaram o arianismo e o eunomianismo, segundo os quais o Anjo Yahweh da Glória e Seu Espírito são as primeiras criaturas de Deus antes dos séculos. Esses Concílios sustentaram, ao invés disso, que o Anjo do Grande Concílio e o Espírito Santo são consubstanciais ao Pai.

O Nono Concílio Ecumênico de 1341, de acordo com a lei romana, condenou a doutrina agostiniana de Barlaam, o calabrês, sem perceber qual era a fonte dessa doutrina, segundo a qual Deus revela-Se por meio de criaturas que traz à existência (τά γινόμενα) para serem vistas e ouvidas e que as leva de volta à inexistência (τά απογενόμενα) depois que suas missões foram cumpridas. O que estes Padres não sabiam em 1341 é que essa doutrina era a do próprio Agostinho, ensinada por ele repetidas vezes nos livros II e III de seu De Trinitate. Isso significa que o Vaticano há séculos tem aceitado os Concílios Ecumênicos Romanos da Nova Roma em categorias agostinianas. A questão que se nos impõe é se os membros luteranos e ortodoxos deste diálogo seguirão Agostinho, os Padres dos Concílios Romanos ou suas próprias opiniões. [7]

3) Os sínodos enquanto associações de clínicas neurológicas
Temos de ter uma visão clara do contexto no qual a Igreja e o Estado enxergavam a contribuição dos profetas na cura e perfeição da personalidade humana a fim de entendermos tanto a missão dos sínodos quanto a razão do Império Romano os ter incorporado em seu código civil. Nem a Igreja nem o Estado reduziam a missão da Igreja à salvação por meio do perdão de pecados para a entrada no céu após a morte. Isso seria o mesmo que os médicos perdoarem seus pacientes por estarem doentes a fim de que fossem curados após a morte. A Igreja e o Estado sabiam muito bem que o perdão dos pecados era apenas o começo da cura da doença da busca da felicidade. Essa cura passava pela purificação e iluminação do coração, culminando na perfeição da glorificação. O resultado não se resumia à preparação para a vida após a morte, mas também à transformação da sociedade, aqui e agora, de indivíduos egoístas e egocêntricos em indivíduos com amor desinteressado, ou seja, que não buscassem amar a si próprios.

a) Céu e inferno
Todos verão a glória de Deus no Cristo e todos alcançarão o grau de perfeição que escolheram e ao qual se esforçaram. Seguindo São Paulo e o Evangelho do Apóstolo João, os Padres ensinam que aqueles que não viram o Cristo Ressuscitado em glória nesta vida, seja num “espelho em enigma” pelos salmos e orações incessantes no coração, seja “face a face” na glorificação, verão Sua glória em fogo eterno e trevas exteriores na próxima vida. A glória incriada que o Cristo tem por natureza do Pai é céu para aqueles cujo amor egoísta foi curado e transformado em amor desinteressado, e inferno para aqueles que escolheram permanecer incurados em seu egoísmo.

Não somente a Bíblia e os Padres são claros a esse respeito, mas também os ícones ortodoxos do Julgamento Final. A mesma luz dourada da glória na qual o Cristo e Seus amigos estão envoltos torna-se vermelha à medida que desce para os condenados. Essa é a glória e o amor do Cristo, que purifica os pecados de todos mas não glorifica a todos. Todos os homens serão levados pelo Espírito Santo à Verdade, que é ver o Cristo em glória, mas nem todos serão glorificados. Aos que justificou a estes também glorificou, de acordo com São Paulo (Romanos 8:30). A parábola de Lázaro no seio de Abraão e do homem rico em tormentos é clara. O rico vê mas não participa. (Lucas 16:19-31).

A Igreja não manda ninguém para o céu ou para o inferno, mas prepara os fiéis para a visão do Cristo em glória, a qual todos terão. Deus ama os condenados tanto quanto os santos. Ele quer a cura de todos mas nem todos aceitam Sua cura. Isso quer dizer que o perdão dos pecados não é preparação suficiente para ver o Cristo em glória.

Não é necessário dizer que a tradição anselmiana, segundo a qual os salvos são aqueles a quem Cristo supostamente reconciliou Deus, não é uma alternativa válida na tradição ortodoxa. Comentando II Coríntios 5:19, por exemplo, São João Crisóstomo diz que devemos nos “reconciliar com Deus. Paulo não diz ‘Reconcilie Deus a vós’, pois não é Ele quem odeia, mas nós. Pois Deus nunca odeia”.

É neste contexto que o Estado entendia a missão de cura da Igreja na sociedade. As religiões que prometem a felicidade após a morte não são muito diferentes uma das outras.

b) A janela de Paulo [8]

I Coríntios 12-15 é uma janela única através da qual podemos observar a realidade da Igreja enquanto Corpo do Cristo. A participação como membro da Igreja apresenta graus de cura e perfeição em dois grandes grupos: os iluminados e os glorificados. Os membros do Corpo do Cristo estão listados com bastante clareza em I Coríntios 12:28. [E a uns pôs Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas]. O processo começa pelos “indoutos” (idiotes) que dizem “amém” ao longo da adoração pública audível. Nesta fase, inicia-se a purificação do coração sob a direção daqueles que já são templos do Espírito Santo e membros do Corpo do Cristo.

Os graus de iluminação começam pelo charisma inicial das “variedades de línguas”, que se encontra em oitavo lugar, até os “doutores”, em terceiro lugar.

Na cabeça da Igreja local estão os “profetas”, em segundo lugar na lista, os quais receberam a mesma revelação dos “apóstolos” (O mistério do Cristo noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas. Efésios 3:5), que estão em primeiro lugar, e são junto com eles o fundamento da Igreja (Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina. Efésios 2:20). Apóstolos e profetas são o fundamento da Igreja, assim como os médicos são o fundamento dos hospitais.

“Variedades de línguas” são a fundação sobre a qual todos os demais charismata edificam-se, mas são temporariamente suspensos durante a glorificação (O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá. I Coríntios 13:8). Enquanto apóstolo, São Paulo coloca-se a si mesmo como o cabeça na lista de membros que Deus apontou para a Igreja. Apesar disso, ele ainda apresenta o charisma das “variedades de línguas”. Diz ele, Dou graças a Deus em línguas mais do que vós todos (I Coríntios 14:18). Isso quer dizer que “variedades de línguas” é algo que se verifica em todos os níveis de charismata no Corpo do Cristo. A pergunta de São Paulo, Falam todos em diversas línguas? (I Coríntios 12:30), é uma referência aos “indoutos” que ainda não possuem o dom de línguas e não são, portanto, membros do Corpo do Cristo nem templos do Espírito Santo. [9]

A iluminação e a glorificação dos membros do Corpo do Cristo não são graus de autoridade conferidos por homens. Eles são a quem Deus prepara e aponta, no seio da Igreja, para avançar a graus mais elevados de cura e perfeição. O fato de São Paulo convocar a todos os que se encontram em graus inferiores de participação no Corpo do Cristo a progredir aos estágios superiores significa que todos são convocados a tornarem-se profetas, isto é, a atingirem a glorificação. Eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis (I Coríntios 14:5).

c) Clínica psiquiátrica
A Igreja paulina é semelhante a uma clínica psiquiátrica. Mas seu entendimento da doença da personalidade humana é muito mais sofisticado do que qualquer coisa que a medicina moderna conheça. Para percebermos esse fato, devemos captar em Paulo o conceito bíblico de normalidade e anormalidade humana. O ser humano normal é aquele que foi levado à Verdade pelo Espírito da Verdade, isto é, à visão do Cristo na glória de Seu Pai (cf. João 17). As pessoas acreditam que Deus enviou Seu Filho e que elas também podem ser curadas pelo amor desinteressado porque os apóstolos e profetas foram glorificados no Cristo (ibid.). Os homens que não vêem a glória incriada de Deus não são normais. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Romanos 3:23). Em outras palavras, o único homem que nasceu normal é o Senhor da Glória, que por escolha assumiu paixões das quais era inocente (isto é, fome, sede, cansaço, sono, medo da morte etc.), embora por natureza seja a fonte da glória, que as aniquila.

O outro lado dessa moeda é que Deus não revela Sua glória a qualquer um porque Ele não deseja prejudicar aqueles que não estão preparados para tal visão. A surpresa dos profetas do Velho Testamento de que permaneciam vivos após ver Deus e o pedido do povo para que Moisés intercedesse a Deus para que Ele parasse de mostrar Sua glória, pois estava se tornando insuportável, são claros a esse respeito.

As Igrejas apostólicas não se preocupavam em pensar e especular acerca de Deus, dado que Ele é um mistério ao intelecto mesmo quando revela Sua glória no Cristo àqueles que participam do mistério da Cruz de Seu Filho pela glorificação. Sua única preocupação era com a cura de cada indivíduo no Cristo, levada a cabo pela purificação e iluminação do coração e pela glorificação nesta vida a serviço da sociedade: Se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele (I Coríntios 12:26). Aos que justificou a estes também glorificou (Romanos 8:30) significa que a iluminação e a glorificação são interdependentes nesta vida, embora não idênticas.

A doença da personalidade humana consiste no desvanecimento da comunhão do coração com a glória de Deus (Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Romanos 3:23), afundado pelos pensamentos do entorno (Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si. [...] Segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus. (Romanos 1:21-24; 2:5). Em tal estado, a pessoa imagina Deus como sendo à imagem de seu próprio ego ou até mesmo de animais. A pessoa interior (eso anthropos) sofre morte espiritual; por isso que (eph'ho) [10] todos pecaram (Romanos 5:12) ao se escravizarem ao instinto de autopreservação, que deforma o amor por estar cativo à busca egocêntrica por segurança e felicidade.

A cura dessa doença começa quando o coração se purifica de todos os pensamentos, tanto bons quanto ruins, e restringindo-os ao intelecto (Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. Romanos 2:29). Para que isso aconteça, o espírito, que se encontra dissipado no cérebro, deve girar em velocidade como uma bola de luz, por meio da oração, e retornar ao coração. A pessoa se livra da escravidão ao entorno, isto é, à auto-indulgência, à riqueza, aos bens e até mesmo aos seus pais e parentes (Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. [...] Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Mateus 10:37 e Lucas 14:26). O objetivo não é alcançar algum tipo de indiferença estóica ou falta de amor, mas permitir que o coração aceite as orações e salmos transferidos do intelecto pelo Espírito Santo, e que se energize incessantemente, enquanto o intelecto se ocupa com as atividades diárias ou enquanto dorme. É assim que o amor doente começa a ser curado.

Este é o contexto do Espírito Santo orando no coração ao qual São Paulo se refere. O Espírito Santo intercede por todos os homens com gemidos inexprimíveis (Romanos 8:26). Mas Ele transfere as orações e salmos do intelecto ao espírito humano no coração quando este está purificado de todos os pensamentos, tanto bons quanto ruins. A esta altura, o espírito que está energizado pelo Espírito Santo não faz mais nada além de orar e recitar salmos incessantemente, enquanto o intelecto se ocupa com suas atividades normais diárias, livre do egocentrismo e da busca da felicidade. Assim, portanto, é possível que o espírito da pessoa ore incessantemente no coração e ore eventualmente com o intelecto. É isto que São Paulo quer dizer quando diz Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o intelecto; recitarei salmos com o espírito, mas também recitarei salmos com o intelecto (I Coríntios 14:15).

São Paulo acaba de nos informar que orar em outras línguas além da própria inclui os salmos do Velho Testamento. Ele não está, portanto, falando de orações audíveis e incompreensíveis, dado que os salmos eram familiares a todos. São Paulo está falando de orações com o espírito no coração, que são audíveis somente àqueles que possuem o mesmo charisma das “variedades de línguas”. Aqueles que ainda não têm este dom não conseguem ouvir as orações e salmos nos corações daqueles que possuem esse dom.

Os coríntios em estado de iluminação haviam introduzido a novidade de conduzir adorações no coração coletivas, na presença de “indoutos”, que ainda não haviam recebido o dom das “variedades de línguas”. Essa prática tornara impossível aos “indoutos” que fossem edificados e dissessem seus “améns” nos momentos certos, já que eles simplesmente não conseguiam ouvir.

São Paulo é claro ao afirmar que ninguém o ouve (I Coríntios 14:2). Se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina? Da mesma sorte, se as coisas inanimadas, que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar. Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significação. Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim (I Coríntios 14:6-11). Aqueles que não possuem o dom das “variedades de línguas” precisam ouvir o “sentido da voz” das orações e dos salmos para que respondam com seu “amém”. Não se deve orar e recitar salmos com “sonidos incertos” na presença daqueles que não possuem o dom das línguas. Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado (I Coríntios 14:17).

Quando São Paulo afirma que o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação, ele quer dizer que o que fala somente em línguas deve aprender a interpretar os salmos e orações em seu coração em salmos e orações de seu intelecto, a fim de serem recitadas oralmente. Quando aprender a orar e recitar salmos simultaneamente com o espírito e com o intelecto, ele pode então participar na adoração coletiva para o benefício dos “indoutos”, que, dessa maneira, saberão dizer seu “amém”. Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu intelecto fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o intelecto; recitarei salmos com o espírito, mas também recitarei salmos com o intelecto. De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado. Dou graças ao meu Deus em línguas mais do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras com meu intelecto, para que possa também instruir os outros, do que dez mil palavras em línguas (I Coríntios 14:13-19).

São Paulo jamais pede para alguém interpretar aquilo que outra pessoa está dizendo em línguas. A própria pessoa deve interpretar aquilo que está dizendo em línguas. Em todos os casos em que São Paulo relaciona “falar em línguas” com “interpretação”, sempre aquele que tem o dom de línguas interpreta a si próprio para que seja ouvido pelos “indoutos”. É neste contexto que São Paulo exorta que se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus (I Coríntios 14:27-28). Obviamente, o intérprete é aquele que tem o dom de interpretar suas próprias orações de seu próprio espírito em seu próprio coração para seu próprio intelecto, de maneira que se tornem audíveis e edifiquem os demais. Do contrário, deve ficar calado e limitar-se a rezar em línguas enquanto os demais rezam oralmente. Portanto, São Paulo repreende aqueles que possuem somente o dom das variedades de línguas para que não imponham a novidade de orar coletivamente em línguas sobre os “indoutos”.

São Paulo não está falando de salmos e orações recitados pela língua, mas ouvidos diretamente do coração. A iluminação do coração neutraliza a escravidão ao instinto de autopreservação e dá início à transformação do amor possessivo em amor desinteressado. É o dom da fé concedida à pessoa interior, que é sua justificação, reconciliação, adoção, paz, esperança e vivificação.

As orações e salmos incessantes no coração, também chamados de “variedades de línguas” (I Coríntios 12:28), transformam o indouto num templo do Espírito Santo e membro do Corpo do Cristo. Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração (Efésios 5:18-20). É o começo do fim da escravidão ao entorno, não porque nos retiramos dele, mas porque o controlamos, não de maneira exploratória, mas pelo amor desinteressado. É por isso que a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte [...] Se alguém não tem o Espírito do Cristo, esse tal não é dele. Se o Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. (Romanos 8:2,9-10).

À medida que o amor é curado, a pessoa recebe os charismata superiores listados por São Paulo em I Coríntios 12:18, até que se consumam na glorificação. São Paulo afirma que se um membro é glorificado, todos se regozijam com ele (I Coríntios 12:16) para explicar porque os profetas estão em segundo lugar em relação aos apóstolos e antes dos demais membros do Corpo do Cristo. Ser justificado pelas orações e salmos do Espírito Santo no coração é ver o Cristo num espelho, em enigma (I Coríntios 13:12). A glorificação é a vinda do Perfeito (I Coríntios 13:10) ao ver o Cristo face a face (I Coríntios 13:12). Ao dizer que agora conheço em parte (ibid.), São Paulo se refere a seu atual estado de iluminação ou justificação. Na frase seguinte, mas então conhecerei como também sou conhecido (ibid.), São Paulo quer dizer que ele será glorificado assim como havia sido glorificado. No estado de iluminação, a pessoa é como um menino. Uma vez glorificada, ela retorna à iluminação como homem: Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino (I Coríntios 13:11).

Durante a glorificação, que é revelação, a oração no coração (línguas), o conhecimento e a profecia, juntamente com a fé e a esperança, são abolidas porque são substituídas pelo próprio Cristo. Somente o amor não desaparece. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá. Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino (I Coríntios 13:8-11). Durante a revelação, palavras e conceitos acerca e para Deus (orações) são abolidos. Após a glorificação, a pessoa retorna ao estado de iluminação. Conhecimento, profecia, línguas, fé e esperança voltam a se juntar ao amor, que não desaparece. As palavras e conceitos usados na oração e no guiamento para levar à glorificação são inspirados e abolidos durante a glorificação.

A visão que São Paulo teve é a do Cristo ressuscitado em glória, que coloca os apóstolos e profetas como cabeças (I Coríntios 12:28) e fundamento (Efésios 2:20) da Igreja. Esse fundamento inclui profetisas (Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão; E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam; Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Atos 2:17; 21:9 e I Coríntios 11:5) e é o contexto da afirmação de São Paulo de que no Cristo não há macho nem fêmea (Gálatas 3:28).

A glorificação não é um milagre, mas o estágio final normal da transformação do amor egoísta em amor desinteressado. Paulo e João consideravam a visão do Cristo em glória nesta vida como necessária para a perfeição do amor e da sociedade (João 14:21-24; 16:22; 17:24; I Coríntios 13:10-13; Efésios 3:3-6). As visões do Cristo em glória não eram e não são milagres para convencer os observadores a acreditarem em Sua Divindade. O milagre foi a Crucificação do Senhor da Glória, não Sua Ressurreição. O Cristo ressuscitado surge apenas para a perfeição de amor, mesmo no caso de São Paulo, que alcançou o limiar da glorificação (Gálatas 1:14ff), não sabendo que o Senhor da Glória que ele estava prestes a ver nasceu, foi crucificado e ressuscitou. I Coríntios 15:1-11 são as glorificações que completam o tratamento dos dons espirituais iniciados em I Coríntios 12:1.

Todos os glorificados ao longo da história são iguais aos apóstolos em sua participação no Pentecostes porque eles também foram guiados à Verdade (Atos 10:47-11:18). A Verdade é o Cristo ressuscitado e ascendido, que retornou em línguas incriadas de fogo no Pentecostes para habitar com Seu Pai nos fiéis que se tornarem templos de Seu Espírito, intercedendo por eles em seus corações. Assim, ele fez da Igreja Seu Corpo, contra a qual as portas do inferno jamais prevalecerão.

A glorificação é a participação da alma e do corpo na imortalidade e na incorrupção para a perfeição de amor. Ela pode durar muito ou pouco. Após uma perda inicial de orientação, a pessoa prossegue com suas atividades diárias, vendo tudo saturado pela glória de Deus, que não é nem luz, nem trevas, nem nada semelhante ao criado. As paixões, que haviam sido neutralizadas e tornadas inofensivas pela iluminação, são abolidas. Durante a glorificação, a pessoa não come, não bebe, não dorme nem se cansa, e não é afetada por calor ou frio. Esses fenômenos, que se verificam na vida dos santos (profetas) tanto antes quanto depois da Encarnação do Senhor da Glória, não são milagres, mas a restauração dos homens à normalidade. É neste contexto que devemos entender as declarações do Cristo aos vivos, mas doentes: Eu vim para que tenham vida [em iluminação], e a tenham [em glorificação] com abundância (João 10:10). O Evangelho do Apóstolo João, sobretudo os capítulos 14 a 16, é uma descrição detalhada da cura pela iluminação, enquanto João 17 é a oração do Cristo para a cura por meio da glorificação.

Os gerontologistas dizem que o processo de envelhecimento é uma doença, e estão pesquisando se a própria morte não seria uma doença. A esse respeito, os glorificados e suas relíquias deveriam ser de interesse desses pesquisadores, uma vez que centenas delas há séculos continuam intactas, em um estado intermediário entre corrupção e incorrupção. Um dos exemplos mais antigos é o de Santo Esperidião, na Ilha de Corfu, que foi Padre do Primeiro Concílio Ecumênico, no ano 325. Há também 120 corpos somente em Kiev.

É neste contexto que São Paulo afirma que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Romanos 8:21). Está claro que “a liberdade da glória” é a liberdade da mortalidade e da corrupção. Mas até mesmo as pessoas interiores que já foram adotadas pela iluminação e que já experimentaram a imortalidade e a incorrupção física durante o período limitado da glorificação aguardam a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo (Romanos 8:23). Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. [...] Que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade (I Coríntios 15:52-53). Isto se sabe não por especulações bíblicas, mas pela experiência da glorificação, isto é, pela “liberdade da glória dos filhos de Deus”. A experiência da glorificação, e não somente os textos bíblicos, é a base da crença da Igreja na ressurreição física da parte biológica da pessoa.

d) Não do mundo, mas no mundo

A distinção entre a vida ativa e a contemplativa não existe no Corpo do Cristo. O dom do Espírito Santo dos salmos e orações incessantes no coração torna essa distinção algo impossível. Ela só pode existir fora do Corpo do Cristo.

Ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” no coração exceto pelo Espírito Santo e ninguém pode dizer “Jesus é anátema” pelo Espírito (I Coríntios 12:3). Isso é espiritualidade bíblica e patrística e o poder pelo qual era impossível torturar um templo do Espírito Santo a renunciar ao Cristo. Essa renúncia simplesmente prova que a pessoa não era um membro da Igreja. A missão primordial dos templos do Espírito Santo era trabalhar normalmente em suas profissões enquanto procuravam transmitir sua própria cura aos demais. Eles cumpriam um papel semelhante ao de psiquiatras no seio da sociedade. Mas, em contraste aos psiquiatras, os templos do Espírito não buscavam equilíbrio mental mediante a conformidade a padrões sociais de normalidade. Seu padrão de normalidade era a glorificação. Seu poder de cura não era e não é deste mundo, embora estejam no mundo como parte de sua transformação.

e) Teologia e dogma

Todos os que alcançaram a glorificação testemunham o fato de que é “é impossível expressar Deus e muito menos concebê-Lo” porque eles sabem, por experiência, que não há qualquer semelhança entre o criado e o incriado. Deus é o “motor imóvel” e “móvel”, não é “nem uno, nem unicidade, nem unidade, nem divindade, nem filiação, nem paternidade etc.” na experiência da glorificação. A Bíblia e os dogmas são guias para a glorificação mas são abolidos durante ela. Eles não são fins em si mesmos e não têm nada a ver com metafísica, seja com analogia entis ou com analogia fidei.

Isso quer dizer que as palavras e conceitos que não contradizem a experiência da glorificação e que levam à purificação e iluminação do coração e à glorificação são ortodoxas. Palavras e conceitos que contradizem a glorificação e afastam a pessoa da cura e da perfeição no Cristo são heréticas.

Esta é a chave para entendermos as decisões dos Sete Concílios Ecumênicos Romanos, bem como o Oitavo, de 879, e sobretudo o Nono, de 1341.

A maioria dos historiadores não enxerga essas coisas porque acreditam que os Padres estavam, a exemplo de Agostinho, procurando entender os mistérios de Deus através de meditações e contemplações, ou seja, através de palavras e conceitos. Eles até mesmo alistaram Padres como São Gregório, o Teólogo, no exército dos teólogos latinos, ao traduzirem seus dizeres a respeito de que somente é permissível filosofar sobre Deus aos “mestres da meditação do passado”, ao invés de “àqueles que passaram pela theoria”, isto é, pela visão do Cristo num “espelho em enigma”, pelas “variedades de línguas” e “face a face” na “glorificação”.

Os Padres nunca consideraram a formulação de um dogma como um esforço intelectual para entender o mistério de Deus e da Encarnação. São Gregório, o Teólogo, ridicularizava esse tipo de heresia: “Diga-me o que é a unigenicidade do Pai e eu te explicarei a fisiologia da geração do Filho e da procissão do Espírito, e vamos então nos deslumbrar com os mistérios de Deus”.

Jamais os Padres sustentaram a noção agostiniana de que a Igreja entende melhor a fé com o passar do tempo. Cada glorificação é uma participação na Verdade do Pentecostes, à qual nada pode ser acrescido nem melhor entendido.

Isso quer dizer que a doutrina ortodoxa também é puramente pastoral, uma vez que não existe fora do contexto da cura das doenças individuais e sociais.

Ser teólogo significa, antes de mais nada, ser especialista nos caminhos do diabo. A iluminação e sobretudo a glorificação conferem o charisma do discernimento de espíritos por passarem a perna no diabo, especialmente quando ele tenta ensinar teologia e espiritualidade àqueles que fogem de suas garras.

f) Os mistérios

O resultado mais expressivo da franco-latinização da educação teológica ortodoxa nos séculos XVIII e XIX foi o desaparecimento, nos manuais dogmáticos, da explicação sobre a própria existência da purificação, da iluminação e da glorificação, especialmente nos capítulos sobre os Mistérios. Esses manuais não mencionam o fato bíblico e patrístico de que o charisma do presbitério pressupunha o estado de profecia: Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério (I Timóteo 4:14).

g) Profetas e intelectuais

A criação é totalmente dependente de Deus, embora não haja qualquer semelhança entre eles. Isso quer dizer que não há qualquer diferença entre o culto e o inculto quando ambos estão passando pela cura da iluminação a caminho de se tornarem profetas pela glorificação. O conhecimento superior sobre a realidade criada não confere nenhuma vantagem especial em relação ao conhecimento do incriado. Nem a ignorância sobre a realidade criada representa um obstáculo para o conhecimento superior da realidade incriada.

h) Profetas e papas

Dos cinco patriarcados romanos, os francos conseguiram capturar o de Roma, substituindo os papas romanos por papas germânicos através da força militar, numa contenda que começou em 983 e terminou em 1046. Dessa forma, eles estenderam seu controle sobre a sucessão apostólica como parte de seu plano para dominação mundial. Eles dividiram os Padres romanos em gregos e latinos, identificando-se com estes e inventando a idéia de que haveria duas Cristandades. Para o Islã, o papado ainda é latino e franco, enquanto os patriarcados da Nova Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém ainda são romanos.

A ignorância a respeito de quem e o que são os glorificados e por que eles são os sucessores dos apóstolos criou um vazio que foi preenchido pela infalibilidade do papa latino.

i) Profetas e Padres

Segundo São Gregório de Nyssa, as heresias surgem nas igrejas onde não há profetas. Ocorre que os líderes das heresias tentam entrar em comunhão com Deus por meio da meditação e da contemplação sobre Ele, em vez da iluminação e da glorificação. Confundir conceitos acerca de Deus com o próprio Deus é idolatria, além de método científico ruim.

São Paulo se refere a apóstolos e profetas quando afirmou: Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido (I Coríntios 2:15). A razão para isso é que, pela sua glorificação na glória incriada de Deus no Cristo, eles se tornaram testemunhas do fato de que os príncipes deste mundo [...] crucificaram o Senhor da Glória (I Coríntios 2:8). Este é o mesmo Senhor da Glória (o Anjo do Grande Concílio) que se chamou de “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó”, o Todo-Poderoso, a Sabedoria de Deus, a Pedra que seguia (I Coríntios 10:1-4) e que os profetas do Velho Testamento viram. São João Batista foi o primeiro profeta a ver o Senhor da Glória em carne. É claro que os judeus, que formalmente acreditavam no Senhor da Glória, também O viram, mas se conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória (I Coríntios 2:8).

São Paulo adaptou o ditado As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam à crucificação do Senhor da Glória do Velho Testamento, que Deus no-las revelou pelo seu Espírito (I Coríntios 2:9-10). Portanto, os glorificados são as únicas autoridades da Igreja Ortodoxa. Eles produzem as fórmulas doutrinais que servem como guia para a cura do centro da personalidade humana e como sinais de advertência contra os charlatães que prometem muito mas não têm nada a oferecer.

j) O Senhor da Glória e os Concílios Ecumênicos [11]

Por “Escrituras”, tanto o Cristo quanto os apóstolos se referiam ao Velho Testamento, ao qual o Novo Testamento foi acrescido. Os Evangelhos dos Apóstolos Marcos, Mateus e Lucas foram editados para servirem de guia pré-batismal durante os estágios de purificação e iluminação da pessoa interior no coração. O fato do Cristo ser o mesmo Senhor da Glória que Se revelara aos profetas do Velho Testamento foi algo atestado em Seu batismo e Sua transfiguração, no qual Ele mostrou a glória e o domínio (βασιλεία) de Seu Pai como sendo Sua própria por natureza. O Evangelho do Apóstolo João foi editado com o propósito de a pessoa continuar progredindo em sua iluminação (João 13:31-16) e seguir em frente à glorificação (João 17), na qual verá em plenitude a glorificação do Senhor da Glória em Seu Pai e dEste em Seu Filho (João 13:31; 18-21). É por isso que o Evangelho do Apóstolo João é chamado de “Evangelho espiritual”. [12]

As pessoas iniciadas no Corpo do Cristo não aprenderam sobre a Encarnação, o Batismo, a Transfiguração, a Crucificação, a Morte, o Enterro, a Ressurreição, a Ascensão e o retorno pentecostal do Senhor da Glória apenas estudando os textos da Bíblia. Eles estudaram, sim, a Bíblia, mas como parte integrante do processo de purificação, iluminação e glorificação de seus corações, no mesmo Senhor da Glória que havia glorificado Seus profetas do Velho Testamento, mas que agora em Sua natureza humana nasceu da Virgem Maria.

É neste contexto que a antiga Igreja identificava o Cristo com o Senhor, Anjo e Sabedoria, por quem Deus criou o mundo e glorificou a Seus amigos, os profetas, e por quem Ele libertou Israel da escravidão, guiando-a até o tempo em que Ele próprio encarnou e encerrou o domínio da morte sobre Sua Igreja (do Velho Testamento): Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mateus 16:18). Apesar de terem sido glorificados, os profetas do Velho Testamento morreram. Mas, agora, se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte (João 8:52-53). Agora há a primeira ressurreição da pessoa interior (Revelação 20:5) e uma segunda ressurreição (Revelação 20:6), e há também uma segunda morte do corpo (Revelação 20:14).

Até mesmo arianos e eunomianos, condenados pelo Primeiro e Segundo Concílio Ecumênico, aceitavam sem discutir a identidade do Cristo com o Senhor da Glória do Velho Testamento. Porém, eles sustentavam que esse Anjo da Glória era a primeira criação da vontade de Deus, do não-ser antes do tempo e dos séculos, e portanto não co-eterno com o Pai. Eles faziam uso do fato de que o Anjo da Glória era visível aos profetas como prova de que Sua natureza era criada [13], de maneira similar aos gnósticos, que identificavam o Anjo do Velho Testamento com o deus inferior deste mundo supostamente maligno e que havia ludibriado Israel.

Os arianos e os eunomianos também ignoravam ou rejeitavam o fato de que por meio da glorificação é possível tornar-se deus pela graça (theosis) e que, portanto, é possível ver a glória e o domínio (βασιλεία) incriado de Deus no Cristo por meio do próprio Deus. Em jogo estava o fato de que o próprio Deus revela-Se a Seus amigos glorificados, e não por meio de uma criatura, com a única exceção da natureza criada de Seu Filho. Mesmo assim, a graça e o domínio (βασιλεία) da iluminação e da glória que Cristo comunica a Seu Corpo (isto é, à Igreja) são incriadas. A doutrina franco-latina de que a graça seria criada não tem espaço na tradição dos Concílios Ecumênicos.

Os aspectos supracitados dos Concílios Ecumênicos não desempenharam nenhum papel nas histórias dogmáticas dos latinos e protestantes porque Agostinho desviou-se totalmente de Santo Ambrósio e dos Padres no entendimento do aparecimento do Logos aos profetas do Velho Testamento. [14] Seus equívocos tornaram-se o núcleo da tradição franco-latina. As histórias dogmáticas protestante e latina explicam que o equívoco de Agostinho em não aceitar a antiga identificação do Cristo com o Anjo da Glória resultou em sua eliminação da tradição porque os arianos, ao contrário, a defendiam . Porém, essa tradição foi preservada intacta nas Igrejas do Império Romano e continua a ser o coração da tradição ortodoxa. Este é o único contexto dos termos trinitarianos e cristológicos: três substâncias, uma essência e a homoousion do Logos com o Pai e nós. Eles não faziam e não fazem sentido no contexto agostiniano.

Agostinho havia equivocadamente concluído que eram somente os arianos que identificavam o Logos com o Anjo da Glória do Velho Testamento. Ele não estava ciente de que tanto Santo Ambrósio, o bispo que Agostinho alega ter aberto sua mente maniqueísta ao Velho Testamento e de tê-lo batizado, quanto todos os demais Padres também assim concluíam. Os arianos e os eunomianos argumentavam que a prova de que o Logos era criado era que Ele, por natureza, era visível aos profetas, enquanto somente o Pai permanecia invisível. Agostinho não conseguiu compreender as experiências bíblicas da iluminação e da glorificação, que ele acabou por confundir com a iluminação e o êxtase neoplatônicos. Ele relegava a glorificação à vida após a morte, e a identificou com a visão da substância divina que, supostamente, satisfaria o desejo humano de felicidade absoluta. Sua compreensão utilitária do amor tornou-lhe impossível entender o amor desinteressado da glorificação nesta vida. Quanto a isso, ele não era diferente dos arianos que atacava.

Com base em pressuposições neoplatônicas, Agostinho resolveu o problema com a seguinte explicação: as Três Pessoas da Santíssima Trindade, igualmente invisíveis, supostamente revelam a Si e a Sua mensagem aos profetas por meios de diversas criaturas, que são criadas para serem vistas e ouvidas e, depois, são aniquiladas, tais como a glória, a nuvem, o fogo, a sarça ardente etc. Mas Deus continuou permanentemente visível na natureza humana de Seu Filho, por quem Ele comunica mensagens e conceitos. Apesar disso, Ele supostamente continua a revelar visões e mensagens por meios criados, tais como a pomba do Batismo do Cristo, as línguas de fogo do Pentecostes, a glória/luz/domínio (βασιλεία) de Deus revelado na Transfiguração, a nuvem/glória na qual Cristo ascendeu aos céus, a voz do Pai quando anunciou que o Filho Lhe agradava, o fogo do inferno etc.

Esses símbolos verbais, pelos quais os autores do Velho e Novo Testamento expressavam suas experiências de iluminação e glorificação, foram, portanto, reduzidos a objetos temporais e milagres inacreditáveis. [15] Isso acabou se tornando a tradição franco-latina, à qual os latinos e protestantes ainda basicamente aderem.

Um dos efeitos colaterais mais marcantes desses equívocos é o uso da palavra “reino”, que permeia as traduções do Novo Testamento e que raramente aparecem em seu original grego. O termo grego “βασιλεία de Deus” designa o domínio/governo incriado de Deus, e não o reino criado governado por Deus.

k) Não extingais o Espírito (I Tessalonicenses 5:19)

O fato de o Espírito Santo participar no coração com gemidos inexprimíveis (Romanos 8:26) não é em si uma garantia de que se é membro do Corpo do Cristo. Temos de responder com orações incessantes do espírito de maneira que o Espírito de Deus possa testificar em nosso espírito que nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados (Romanos 8:16-17). Embora essa resposta seja nossa, ela é também um dom do Espírito. É exatamente isso que São Paulo pressupõe ao exortar: Orai sem cessar. [...] Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias (I Tessalonicenses 5:17-19). São Paulo nos exorta a continuarmos templos do Espírito Santo, preservando a oração incessante no coração, de maneira que nos tornemos profetas pela glorificação. É por isso que Padres como São João Crisóstomo diziam “que ninguém pense que se tornou membro do Corpo de uma vez por todas”.[16]

O batismo nas águas para o perdão dos pecados é um mistério indelével, porque o perdão de Deus é, de fato, o começo da cura. Porém, o batismo pelo Espírito não é um mistério indelével, pois ou se tem, ou não se tem a oração incessante no coração. Quer a pessoa responda ou não, o Espírito Santo está presente no coração de cada ser humano, não importa se ele acredite no Cristo ou não. Em outras palavras, o amor de Deus chama igualmente a todos, mas nem todos respondem.

Aqueles que não respondem não devem se imaginar templos do Espírito Santo e membros do Corpo do Cristo e, dessa forma, impedir que os demais respondam. Aqueles que estão em estado de iluminação oram juntos em suas liturgias enquanto templos do Espírito Santo e membros do Corpo do Cristo, para que os não-membros se tornem membros e os ex-membros se tornem novamente membros, dado que isso não lhes foi garantido pelo batismo nas águas para o perdão dos pecados.

l) O charisma da interpretação

Em um determinado ponto da história da Igreja primitiva, o charisma da interpretação simultânea de salmos e orações do coração para o intelecto, para que a adoração coletiva fosse útil também aos indoutos, foi substituído por textos litúrgicos pré-determinados, com pontos fixos nos quais os indoutos/leigos (idiotes) pudessem responder “amém”, “Kyrie eleison” etc. A oração do coração também foi reduzida a uma oração curta (por exemplo: Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, um pecador) ou um trecho de um salmo (uma forma utilizada pelos Padres do Deserto, levada ao Ocidente por São João Cassiano). O restante dos charismata permaneceram intactos.

Gregório de Tours chegou a mencionar o fenômeno das orações incessantes e da glorificação. Mas ele não entendeu do que se tratava, e acabou descrevendo-os de maneira confusa, como se fossem milagres.[17] Os francos permaneceram na confusão e, por fim, confundiram a iluminação e a glorificação com o misticismo neoplatônico de Agostinho que, por sua vez, foi rejeitado com justiça pela maior parte da Reforma.

Notas:
1. O início dos meus estudos a respeito das razões catequéticas para se diferenciar entre as duas tradições evangélicas na Igreja primitica está em Justin Martyr and the Fourth Gospel.

2. São João Crisóstomo, Migne, P.G. 60, 23.

3. Marcos 9:1-8, Mateus 16:28;17:1-8, Lucas 9:27-36.

4. Há uma concentração dessas idéias tolas no De Trinitate de Agostinho, sobretudo nos livros II e III. Tive o privilégio de ouvir um sermão sobre o Pentecostes, durante um encontro do Comitê Central do Concílio Mundial de Igrejas, que defendeu essas idéias de Agostinho. Isso quer dizer que o texto desse sermão ou foi tirado diretamente da fonte ou tornou-se parte das tradições franco-latina e protestante. Se esse é o caso, então o abismo entre os Nove Concílios Ecumênicos de 325 a 1351 e as idéias franco-latinas e protestantes é intransponível.

5. I Coríntios 13:11.

6. Esta e as demais sessões do meu ensaio estão incluídos no meu estudo “Os Sínodos da Igreja e a Civilização”, apresentado na VI Reunião da Comissão Luterano-Ortodoxa, entre 31 de maio e 8 de junho de 1991 em Moscou. Eles foram posteriormente revisados e impressos pelo Mosteiro Koutloumousiou do Monte Athos, sob o título de “A Religião é uma Doença Neurobiológica e a Ortodoxia é sua Cura”, na coletânea “O Helenismo Ortodoxo Rumo ao Terceiro Milênio”, volume II, pág. 67-87, 1996.

7. Veja abaixo “j) O Senhor da Glória e os Concílios Ecumênicos”.

8. Esta interpretação de São Paulo baseia-se na tradição patrística, mas também em informações fornecidas durante um diálogo inter-religioso em Bucareste, em outubro de 1979, entre cristãos ortodoxos e judeus. Estes relataram que a iluminação e a glorificação patrística que eu havia lhes descrito eram da tradição hassídica do Velho Testamento. Evidentemente, Cristo, o Yahweh Encarnado, e Seus apóstolos pertenciam a essa tradição.

9. Comentando sobre I Coríntios 12:27-28, São Simeão, o Novo Teólogo, escreveu: “Para que provasse que há diferenças entre os membros e quais seriam elas e quem seriam eles, ele disse: Vós sois o Corpo do Cristo...variedades de línguas. Percebem as diferenças entre os membros do Cristo? Aprenderam quem são Seus membros?”. Livro VI sobre Ética, intitulado “Como unir-se ao Cristo e Deus e como todos os santos uniram-se a Ele”.

10. Para uma interpretação patrística do eph'ho de Paulo em Romanos 5:12, leia o meu Original Sin According to St. Paul.

11. Quanto à identificação do Logos Encarnado do Novo Testamento com o Yahweh do Velho Testamento, leia meu estudo Jesus Christ-The Life of the World.

12. Leia o meu estudo Justin Martyr and the Fourth Gospel.

13. Quanto aos pressupostos filosóficos comuns entre Paulo de Samosata, seus colegas arianos e os nestorianos, leia meu estudo Debate over Theodore of Mopsuestia’s Christology.

14. Leia a bibliografia para uma análise mais detalhada desses desvios.

15. É possível encontrar esse tipo de raciocínio agostiniano em De Beata Vita, Contra Academicos e em várias de suas obras. De especial interesse são as explicações de Agostinho sobre as visões de Deus pelos profetas e apóstolos em seu De Tinitate, sobretudo nos Livros II e III.

16. Migne, P. G. 60, 23: Original Sin.

17. Leia Franks, Romans, Feudalism and Doctrine.