Primeira hipótese. Só há uma ação primeira. Todo o demais é um desenrolar inevitável, mesmo que que quântico, sem arbítrio. O indivíduo é mais uma peça nesse grande dominó.
Segunda hipótese. Há várias ações primeiras
porque há escolhas, que são alimentadas pela Fonte e realizadas pelo organismo.
O indivíduo é uma peça que escolhe cair e iniciar uma nova sequência de quedas
em meio a inúmeras outras quedas em andamento.
Terceira hipótese. Há ordem e aleatoriedade
nas quedas dos dominós.
Eduardo Moreira entende que vivemos sob uma
“ditadura da ordem”, ou seja, sob uma ditadura da necessidade de tentar prever
o futuro, sub uma ditadura da necessidade não só de explicar o cosmo, mas
prever o cosmo. Somos impelidos a criar uma história para que nos sintamos
capazes de prever eventos futuros. Ele cita a mecânica quântica, em especial a
dicotomia onda-partícula, como uma evidência de que continuamos a nos apegar a
uma explicação ordenada da realidade.
A ciência nos escraviza, acredita Moreira,
ao impor-nos uma ordem, e nos afasta da conexão com o que não pode ser medido. “Há
uma fissura existencial profunda no ser humano” com a morte de Deus, com a
morte da Fonte de infinitas possibilidades, com a morte da Pura Incerteza.
Moreira estende sua crítica à ditadura da ordem ao capitalismo: haveria no
capitalismo um caminho certo para a felicidade, qual seja, a aquisição de bens
de consumo e acúmulo de dinheiro para eliminar toda e qualquer incerteza. Um
caminho impossível porque, afinal, a felicidade só é possível na incerteza.
Moreira propõe que devemos subverter a ordem
para sermos a Paz.
Fonte:
Eduardo Moreira, A Intenção Primeira, Editora Civilização Brasileira,
Rio de Janeiro, Brasil, 2023.
