29 de outubro de 2025

Ordem, incerteza e capitalismo


Primeira hipótese
. Só há uma ação primeira. Todo o demais é um desenrolar inevitável, mesmo que que quântico, sem arbítrio. O indivíduo é mais uma peça nesse grande dominó.

Segunda hipótese. Há várias ações primeiras porque há escolhas, que são alimentadas pela Fonte e realizadas pelo organismo. O indivíduo é uma peça que escolhe cair e iniciar uma nova sequência de quedas em meio a inúmeras outras quedas em andamento.

Terceira hipótese. Há ordem e aleatoriedade nas quedas dos dominós.

Eduardo Moreira entende que vivemos sob uma “ditadura da ordem”, ou seja, sob uma ditadura da necessidade de tentar prever o futuro, sub uma ditadura da necessidade não só de explicar o cosmo, mas prever o cosmo. Somos impelidos a criar uma história para que nos sintamos capazes de prever eventos futuros. Ele cita a mecânica quântica, em especial a dicotomia onda-partícula, como uma evidência de que continuamos a nos apegar a uma explicação ordenada da realidade.

A ciência nos escraviza, acredita Moreira, ao impor-nos uma ordem, e nos afasta da conexão com o que não pode ser medido. “Há uma fissura existencial profunda no ser humano” com a morte de Deus, com a morte da Fonte de infinitas possibilidades, com a morte da Pura Incerteza. Moreira estende sua crítica à ditadura da ordem ao capitalismo: haveria no capitalismo um caminho certo para a felicidade, qual seja, a aquisição de bens de consumo e acúmulo de dinheiro para eliminar toda e qualquer incerteza. Um caminho impossível porque, afinal, a felicidade só é possível na incerteza.

Moreira propõe que devemos subverter a ordem para sermos a Paz.

Fonte: Eduardo Moreira, A Intenção Primeira, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, Brasil, 2023.