15 de abril de 2025

Mindset fixo: não aprende nada e não esquece nada


Qual sua opinião a seu respeito? Você acha que nasceu com uma quantidade estática de inteligência, de personalidade, de caráter, e por isso há pouco ou nada que possa fazer a respeito? Você acha que nasceu com uma "índole" que, não importa o que faça, vai marcar você para sempre? Ou acha que pode cultivar e educar suas qualidades mediante esforço? Eis em grossas linhas os dois famosos mindsets de Carol Dweck: mindset fixo (fixed mindset) e mindset de crescimento (growth mindset). Me parece evidente que se trata de um modelo do tipo explicativo, muito próximo à TCC e às abordagens da análise do comportamento, e por isso não deixa de ter seu interesse e sua aplicação.

De maneira geral, embora Dweck não exponha a diferença nesses termos, todas as pessoas, a despeito do mindset que majoritariamente adotem, têm a necessidade de sentirem-se saudáveis, de sentirem-se “bem”. E eis a diferença: o mindset de crescimento buscará sua saúde mental precisamente no crescimento, ou seja, desde dentro. E o mindset fixo? Ele não tem alternativa senão caçar sua saúde mental mundo afora, ou seja, terá de “provar a si mesmo” perante os outros, terá de criar uma “autoestima” aceitável na sociedade.

O mindset fixo tem de sentir-se perfeito porque uma única prova em contrário representaria um golpe que o condenaria para sempre. O fracasso passa de um fato (“fracassei”) a uma identidade (“sou um fracasso”). O mindset fixo acha que sabe tudo a seu respeito e, portanto, não precisa obter este ou aquele conhecimento, habilidade, experiência etc., mas somente buscará aquilo que entende (ou “tem certeza”) que tem talento. A confiança do mindset fixo é frágil e, pior, as pessoas ao seu redor não são vistas como aliadas, mas como juízes. O esforço lhe é algo profundamente desagradável e seu diálogo interior é povoado de transtornos. E eis aqui uma curiosidade: para o mindset fixo talentoso as imperfeições são especialmente vergonhosas.

O mindset de crescimento considera o aprendizado uma experiência especialmente prazerosa. O sucesso está precisamente no aperfeiçoamento, e aqui tanto faz se há reveses e fracassos: eles servem para informar e “acordar” o mindset de crescimento a buscar uma solução de contorno.

Nos relacionamentos amorosos o mindset fixo é especialmente disfuncional. Uma vez ferido, o mindset fixo não vê alternativa senão buscar desde fora a cura para essa ferida: eis a vingança. Para o mindset de crescimento, a cura da ferida virá de dentro: eis o perdão. A vingança, do ponto de vista do mindset de crescimento, é perda de tempo e energia. O perdão, do ponto de visto do mindset fixo, é algo inaccessível. Ademais, para o mindset fixo, por sua própria característica, espera que tudo esteja “pronto” e que tudo seja “espontâneo”, e é por isso que se é necessário algum esforço então “não era para ser”; em outras palavras, a leitura mental é uma exigência do mindset fixo. Ambos, homem e mulher, têm de concordar em tudo porque problemas são sinal de deficiências profundas. Por fim, no mindset fixo a “culpa” pelas dificuldades no relacionamento ou são de suas características ou das características do parceiro. É claro que o mais comum é culpar o outro. Na vida extraconjugal, a culpa recai no “mundo”, na “empresa”, na “sociedade”, no “país”, no “trauma do passado” etc.

Como superar o mindset fixo?

(1) Abraçar seu mindset fixo.

(2) Saber o que desencadeia o mindset fixo.

(3) Dar um nome à sua persona com mindset fixo (personagem de livro, de filme, seu próprio apelido, um nome que não goste etc.) a fim de distanciar-se e romper a identidade com essa persona

(4) Educar essa persona.

Fonte: Carol Dweck, Mindset, Editora Objetiva, São Paulo, Brasil, 2017.