Os homens de bom-senso admitem que a maior de nossas vantagens é a educação; não somente esta nossa forma mais nobre de educação, que despreza a glória e os ornamentos retóricos e apega-se à salvação e à beleza dos objetos que são alvo de nossa contemplação, mas também a cultura exterior, a qual muitos cristãos consideram abominável, maliciosa e perigosa e que, segundo eles, nos afasta de Deus. Pois não devemos rejeitar os céus, a terra, o ar e todas essas coisas só porque algumas pessoas se apoderaram impropriamente delas e honram as obras de Deus ao invés de honrar o próprio Deus; mas devemos colher delas as vantagens que estiverem ao nosso alcance para benefício de nossas vidas e para nossa fruição, ao mesmo tempo que devemos evitar seus perigos; não devemos usar a criação, como os tolos o fazem, em levantes contra o Criador, mas, a partir das obras da natureza, devemos apreender o Criador, e, como ensina o santo Apóstolo, levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo. Repito que, assim como nem fogo, nem alimento, nem ferro, nem quaisquer elementos sejam proveitosos ou danosos exceto pela vontade de quem os faz uso, assim como formulamos remédios úteis a partir de elementos que se encontram até mesmo em répteis, assim também a literatura secular fornece-nos princípios para a investigação e a especulação, ao mesmo tempo em que rejeitamos sua idolatria, terror e destruição. Ora, até mesmo essas coisas auxiliam em nossa religião, pois percebemos o contraste entre o pior e o melhor e reforçamos nossa doutrina a partir da fraqueza da doutrina deles. Assim sendo, não devemos desacreditar a educação só porque algumas pessoas gostam de fazer isso, mas devemos, isso sim, considerar estas pessoas como sendo rudes, grosseiras e incultas, pois desejam que todos os homens sejam como elas, para que então possam se diluir em meio ao público e sua falta de cultura não seja detectada. Mas vinde agora, e após este breve esboço de nosso assunto e estas considerações, contemplemos a vida de Basílio.
Fonte: São Gregório, o Teólogo (+391), Discurso XLIII sobre a vida de São Basílio, o Grande, §11