5 de maio de 2009

Capitalismo e a metafísica ocidental


Na parte VI do livro Γέννημα και θρέμμα Ρωμηοί (Nascido e criado como romano), o Metropolita Hierotheos (Vlachos) de Nafpaktos, da Igreja Ortodoxa Grega, faz uma interessante digressão sobre o capitalismo e sua relação com a metafísica. O capítulo está disponível em inglês e se chama Capitalism as the offspring of Western Metaphysics (O capitalismo enquanto descendência da metafísica ocidental), mas infelizmente não há uma tradução portuguesa. O autor faz uso extensivo da obra de Max Weber, mas sem lastrear-se nela integralmente. Vou fornecer aqui um breve resumo.

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1) O Ocidente adota a metafísica.
Ao contrário do que o título poderia sugerir, o Metropolita Hierotheos não se refere a uma "metafísica ocidental", mas ao fato do Ocidente adotar uma metafísica, isto é, de ter introduzido uma disciplina filosófica chamada metafísica em seu seio.

2) A metafísica sugere a predestinação.
Como a metafísica pretende ser uma explicação racional para a estrutura da realidade e do Incriado, a soteriologia também precisa acompanhar esse "racionalismo metafísico".

3) A predestinação implica em adquirir autoconfiança na salvação.
Segundo a teoria da predestinação, inventada por Santo Agostinho e posteriormente desenvolvida por Calvino e seus seguidores, Deus seleciona algumas pessoas para serem salvas, enquanto as outras estão fadadas à danação. Não há nada que possam fazer para mudar a predestinação divina, seja praticando virtudes ou vícios. Como eleitos e condenados não se distinguem externamente, a única coisa que a religião pode fazer é ajudar as pessoas a superar essa opressão pscicológica, essa solidão dramática individualista (uma vez que nem a Igreja, nem os mistérios, nem os sacerdotes, nem ninguém pode ajudá-las); em suma, a religião tem de ajudar o fiel a adquirir autoconfiança na sua salvação.

4) Adquirir a autoconfiança na salvação engendra o moralismo profissional.
Para expulsar as dúvidas e tentações que o diabo tenta imprimir nas pessoas a fim de extrair-lhes a autoconfiança, o cristão deve dedicar-se sobretudo à sua atividade profissional, de maneira diligente e perseverante.

5) O moralismo profissional implica na racionalização da vida social.
O moralismo profissional engendrou fraternidades protestantes que, para além de sua atividade missionária, eram verdadeiras empresas, sistematizando todas as atividades profissionais e sociais.

6) Por fim, a racionalização da vida social e a solidão individualista são os componentes fundamentais do asceticismo protestante, isto é, do capitalismo.