O desenvolvimento psicológico (Patricia Schell)
A psicologia do desenvolvimento pode ser
chamada também de psicologia do crescimento. O fim último do homem é a
contemplação do bem natural e sobrenatural. O princípio vital do homem está fora
do corpo e, portanto, a pessoa humana deve ser o elemento alvo do
desenvolvimento. A psicologia contemporânea, no entanto, enxerga o
recém-nascido como alvo de mera “adaptação” (p.ex., Piaget, Freud).
Para Tomás de Aquino a alma é espiritual e,
portanto, seu crescimento não pode ser quantitativo, mas necessariamente tem de
ser qualitativo, ou seja, o próprio da alma não é “crescer”, mas melhorar.
Corpo e espírito se desenvolvem, tanto nos seus aspectos biológicos quanto
sensíveis, perceptíveis, emocionais, e, por fim, racionais e volitivos.
A primeira etapa da formação da pessoa é
psicossensitiva, ou seja, quando o homem recebe suas primeiras impressões
psíquicas. Aqui urge a formação da temperança/moderação do tato, isto é,
a ordenação da parte sensitiva para que, no futuro, haja o devido
“acoplamento” à parte racional, para que se desenvolva uma “serenidade básica”.
Em outras palavras, engendrar-se-á uma disposição para a aquisição das
virtudes.
São os pais os responsáveis por apresentar
os bens que na criança, em seu coração, despertarão o apetite do amor. Eis que,
sem famílias, não há crianças saudáveis.
A partir desta formação, as virtudes
intelectuais poderão se desenvolver (artes, ciências etc.). Por isso que a
adolescência não é marcada pelo despertar da sexualidade, embora isso ocorre de
fato, mas por algo muito maior: pela consciência de si mesmo. Este
despertar é fundamental antes que desperte a sexualidade de modo que esta não
paute aquela. Para entrar na vida adulta, portanto, o adolescente deve aprender
a dominar a si mesmo. Governar a si mesmo é ser adulto, ou seja, ser prudente
é ser adulto. Eis que a maturidade se caracteriza em não perturbar o juízo reto
com desvios sensíveis e, com isso, render-se à precipitação, à inconsideração e
ao ânimo cambiante. A maturidade é algo que tem de ser conquistado, não é algo
que surge espontaneamente.
“A plenitude dos dons de Cristo”, eis a
maturidade a que somos destinados.
A vocação do psicólogo (Ignacio Andereggen)
Vocação é algo próprio de Deus, não do
homem. É um chamado de Deus, não uma escolha individual, não uma questão de
“gosto”. Em suma, vocação é estar na beleza do conjunto ordenado de Deus, ou
seja, o chamado de Deus é para que participemos de Sua ordem, de Sua vida. É
claro que a resposta humana a esse chamado existe e é livre, mas nenhuma
escolha será verdadeiramente livre se não for Deus quem a levá-la a
cumprimento.
No caso do psicólogo, a vocação é servir a
Deus e aos homens por caridade à terapia. Não é, portanto, uma “vocação
individual”, mas algo comunitário, social, e tem caráter santificador (ou seja,
purificador) à moda de um diácono. Observe aqui a vocação (chamado) de Deus
enquanto o psicólogo se dedica como um instrumento de tal ação divina entre o
sacerdote e o povo (por isso “diácono”).
Buscar sua própria perfeição e, ato
contínuo, a perfeição do paciente não é neurótico. “Buscar a perfeição não é
neurótico”.
O psicólogo como mestre das virtudes (Pablo Lego)
Adquirir uma virtude é adquirir uma
plenitude. A virtude dispõe a pessoa a agir com prontidão, facilidade e gozo. O
psicólogo funciona como modelo da virtude: se um careca não inspira confiança
para nos tratar da calvície, menos ainda nos inspiraria um psicólogo para nos
tratar de um vício; afinal, ninguém pode dar o que não tem.
A terapia tem de levar o paciente à
contemplação da verdade, a uma jornada filosófica. O paciente deve notar que é
a razão que o conduzirá à verdade da vida e de seus problemas.
Prudência: é
ela que impera sobre seus atos, é a principal virtude do psicólogo. Com ela o
psicólogo delibera quando e quais conselhos dar, mas acima de tudo o que é
melhor ao paciente, ou seja, para iluminar o paciente a retificar suas
intenções.
Temperança:
é fundamental porque é o amor que o terapeuta demonstra ao paciente. É
necessário, nesse contexto, desenvolver paciência e mansidão porque o terapeuta
busca o bem do paciente. Há que se repetir, sessão após sessão, com firmeza, o
que foi explicado anteriormente.
Justiça:
quando aponta os efeitos da terapia o psicólogo a demonstra in loco. Por
padrão o paciente não percebe seu amor desordenado à sua própria imagem e,
portanto, o terapeuta deve levá-lo a enxergar que deve aos outros algo que lhes
corresponde.
Fortaleza:
em geral é a virtude mais deteriorado nos tempos atuais. Caracteriza-se pelo
medo e pela covardia. O terapeuta atento motiva o paciente a persistir e
resistir aos medos que o afastam do bem.
Por fim, cabe lembrar que o terapeuta nunca
vai ser sempre oportuno, mas tem de supor a vida da graça divina para
além das virtudes humanas. Há uma espécie de eixo de virtudes transversais a
todo o processo terapêutico: fé, esperança, caridade e prudência infusa.
Se o terapeuta não tem vida interior não
tem como atingir (ou “atrair”) o paciente à Fonte da verdade, da beleza e do
bem. Não há efeito se as palavras não brotarem da profundidade da experiência
da vida interior. Por isso não existe método ou esquema terapêutico rígido.
Transtornos de ansiedade (Zelmira Seligmann)
A magnitude da paixão depende não só do
poder do agente, mas também da passibilidade do paciente; pois os que são facilmente
passíveis padecem muito do que é pouco ativo. Na ansiedade, a principal paixão
é o temor. O temor é o sentimento de que se vai perder aquilo que se
deseja ou o que se está apegado. O homem busca a segurança e a estabilidade e
teme tudo aquilo que ameaça fragilizá-lo.
Na idade contemporânea, a morte dos débeis não
mais nos deixa impávidos, ou seja, a exposição corriqueira a situações de morte
e morticínios em geral nos dessensibilizam quanto à perda da integridade do
ser. O pecado, enquanto morte da alma, mesmo que não tenhamos ciência dele,
gera ansiedade/angústia. Há um mal-estar generalizado cujos efeitos também
serão corporais. Há um apego a este mundo. A psicologia moderna quer nos
fazer crer que é possível sentir-se bem vivendo mal. A pusilanimidade é uma
loucura porque deforma a realidade pela imaginação.
Eis os dois passos terapêuticos para
combater a ansiedade:
1) Retificar o amor. O mor ao próximo e a
Deus minimiza a ansiedade (temor). A vida da alma é mais importante que a vida
biológica. O temor a Deus é o único temor virtuoso.
2) Desapego das coisas terrenas, de maneira
que o paciente seja capaz de migrar do medo à esperança e da esperança à
caridade.
Por fim, lembremo-nos que a ansiedade deve
ser encarada como um remédio para a vontade e para a soberba da autossuficiência.
Os vícios opostos à fortaleza (Martín Echavarría)
De maneira geral podemos agregar as paixões
em dois tipos: (a) paixões impulsivas, que são captadas como bem (p.ex. desejo,
audácia, esperança) e (b) paixões retrativas, que são captadas como mal ou bem
impossível (p.ex. temor, tristeza, desesperança).
A fortaleza e a temperança são as virtudes
que regulam as paixões, enquanto a prudência e a justiça não as regulam. A humildade
é uma virtude da temperança que modera o desejo de sobressair-se, o apetite da excelência.
A mansidão é uma virtude da fortaleza que modera o apetite da ira. A fortaleza
e suas virtudes fortificantes moderam as paixões retrativas. A fortaleza é incompreensível
se não compreendermos estes dois pontos: (1) existem grandes bens pelos quais
vale a pena perder a vida, (2) a existência do mal moral (pecado). A psicologia
moderna não admite nenhum desses pontos.
A temperança possui correspondentes
modernas que se aproximam dela, mas a fortaleza não. A magnanimidade é
uma grandiosidade espiritual que nos tende a coisas grandes. A confiança
é fazer com os outros o que sabemos que não fazemos sozinhos. A segurança é
a convicção de que o mal não vencerá. A paciência (ou tolerância) é
suportar os males diários (pequenos). A perseverança é suportar os males
prolongados. A solicitude (ou diligência) é suportar o mal que vem do
trabalho; ou “estar disposto” ao trabalho.
Quanto aos vícios contrários à fortaleza,
em geral podemos classificá-los de duas formas:
(1) Vícios por excesso. Falta de
temor, audácia, presunção (transcender sua capacidade), ambição (conseguir honras),
vanglória (vício capital “criador de vícios”), obstinação (teimosia).
(2) Vícios por falta. Temor,
pusilanimidade (“alma pequena”, tudo lhe parece grande, pode ser causado externamente
por uma educação opressiva e/ou internamente por um temor ao fracasso), moleza,
preguiça, inconstância, impaciência, parvoíce (estupidez, insensatez, estupefacção).
Acolhimento do paciente (Rafael de Abreu)
A misericórdia (compaixão com a
miséria alheia) tem de ser despertada no psicólogo. É necessário que o psicólogo
experimente voluntariamente o sofrimento do paciente. O paciente impacta o
psicólogo, embora não o conduza. A misericórdia é doer-se pela miséria alheia,
mas não cega.
A empatia é mera sensibilidade (como a
vendedora que “gera empatia” concordando com a cliente). A empatia valida
indiscriminadamente o que o outro sente. A misericórdia busca a ordem e o bem,
a empatia, não. A misericórdia inclui juízo moral, correção com firmeza, não se
omite. A empatia tende a perpetuar o sofrimento e inflar o ego ainda mais. A misericórdia,
portanto, não é uma opção, mas um elemento obrigatório na psicoterapia.
Fonte: III
Congresso Internacional de Psicologia Tomista, São Paulo, SP, Brasil, 24-25 de
maio de 2025.