23 de dezembro de 2024

A metáfora topológica


(1) Farrell foi cuidadoso ao distinguir espaço adimensional do "vácuo" espacial (o "vácuo" que se aprende na escola, que obviamente não é vácuo).

(2) Por isso a representação gráfica e só um apoio imaginativo à explicação, o que ele fez bem em deixar claro ao referir-se à distinção como we cannot assign any real dimensionality to any of the entities thus distinguished.

(3) Essa metáfora é mais pertinente do que a velha metáfora da luz usada pelos medievais porque, hoje sabemos, o sol não é feito de luz.

(4) As três distinções oddly enough compartilham o mesmo hiperconjunto vazio Ø. Lembre-se, são distinções adimiensionais, aespaciais, atemporais, aformais, "a-tudo".

(5) Nos Vedas, Vishnu se diferencia em três, embora Vishnu seja uma dessas diferenciações. Impossível não notar uma semelhança com a Trindade, na qual o Pai (monarquia, princípio único) se diferencia em três, embora o Pai seja uma dessas diferenciações (hipóstase). Vishnu, assim com o Pai, tem a função de unir os opostos (Brahma/Shiva, Filho/Espírito). No entanto, não é explícito, na doutrina trinitária cristã, que o Pai possa ser impessoal, como o é nos Vedas, embora na versão ocidental tomista haja uma visão beatífica da essência divina, algo impessoal portanto.

(6) As pessoas, nos Vedas, são associadas às suas funções, o que pode gerar a tentação de reduzir a pessoa à sua função. No entanto, Farrell observa que é impossível atribuir ao hiperconjunto vazio original seja uma essencialidade, seja uma pessoalidade.

(7) Ora, a metáfora védica pode apresentar dois tipos de leitura: a "fecundidade" de Vishnu para com a criação (cuja "resolução" se dá pela ascese intelectual) ou o "endividamento" da criação para com Vishnu (cuja "resolução" se dá pelo sacrifício).

(8) O problema é que a expressão matemática da metáfora topológica não permite a segunda leitura. Não existe nenhuma conexão lógica entre diferenciação e sacrifício, e tal conexão é uma distorção da metáfora topológica em termos religiosos: a dívida da "culpa", do "pecado" etc.

É claro que fica aquela eterna "pulga atrás da orelha": quem disse que metáforas matemáticas, abstrações de segunto grau que são, podem servir como descrições metafísicas, que são abstrações de terceiro grau?

Fonte: Joseph Farrell, Financial Vipers of Venice, Feral House, Port Townsend, WA, EUA, 2010, capítulo 2, seção B.