21 de janeiro de 2013

Como preservar a saúde mental



Se quer preservar sua saúde mental em Los Angeles (ou em qualquer grande cidade americana), você precisa cultivar a arte de ficar acordado. Você tem de aprender a resistir (com firmeza, não tensamente) às incessantes sugestões hipnóticas do rádio, dos outdoors, dos filmes e jornais; essas vozes demoníacas que não param de sussurrar no seu ouvido o que você precisa desejar, o que você precisa temer, o que você precisa vestir, comer, beber e desfrutar, o que você precisa pensar e ser. Eles têm uma vida todinha planejada para você -- do berço à sepultura e ao além -- que seria fácil, fatalmente fácil, aceitá-la. Ao menor vaguear da atenção, ao menor relaxamento da consciência, e a pálpebra já começa a fechar, os olhos ficam dispersos, o corpo começa a se mover em obediência aos comandos do hipnotizador. Acorde, acorde -- antes que você assine aquele contrato de sete anos, antes que compre aquela casa que você não quer, antes que se  case com a mulher que você secretamente despreza. Não tome esse whisky, ele não vai resolver seus problemas. Você tem de pensar, discriminar, exercitar seu arbítrio e julgamento. E você tem de fazer isso, repito, sem ficar tenso, com muita calma e raciocínio. Pois se você ceder à fúria contra o hipnotizador, se você quebrar o rádio e rasgar o jornal, tudo o que conseguirá é cair no outro extremo e fossilizar-se em uma excentricidade insolente.

Fonte: Christopher Isherwood, “Los Angeles”, publicado em Exhumations (1966).