Tomismo
Santo Tomás
baseia-se especialmente nos ensinamentos de Aristóteles presentes (mas não só)
em sua Retórica. Seu Tratado das Paixões encontra-se na Suma Teológica, embora
não seja somente aí que ele versa sobre o tema. Embora as paixões (emoções) tenham uma dimensão médica
(física), Santo Tomás está mais preocupado com sua dimensão moral (espiritual).
As paixões
são movimentos, ou seja, são atos transitórios, estados passageiros. São o
contrario das disposições estáveis, como os hábitos (vícios e virtudes). Tais
atos são produto de potências, também chamadas “faculdades”, humanas, chamadas
de apetites. Assim como entender é o ato
da inteligência, assim como recordar é o ato da memória, assim como imaginar é
o ato da imaginação, a paixão é o ato do apetite. A partir do início do século
XIX deixou-se de pensar nas emoções como atos que procedem de uma faculdade.
Os apetites
fazem referência a um bem ou mal. Os apetites portanto podem ser por atração
(por um bem) e por repulsão (por um mal).
Santo Tomás
ensina que há duas ordens de apetite: o apetite
sensitivo e o apetite intelectivo
(ou vontade). O apetite intelectivo
(vontade) tende ao bem tal como o capta a inteligência, ou seja, de maneira universal
– não este ou aquele bem, mas o bem enquanto tal. O apetite sensitivo tende ao
bem tal como o capta o sentido, ou seja, de maneira particular.
Quanto ao
apetite sensitivo, há dois tipos: o apetite
concupiscível (ou desejo) e o apetite
irascível (ou assertividade). O
apetite concupiscível tende ao bem prazeroso, enquanto o apetite irascível
tende ao bem difícil, árduo, ou seja, o sentido capta a coisa como repulsiva,
mas o apetite irascível impulsa o homem a tender ao desagradável (por isso
“difícil”). O sentido que capta a coisa é o sentido interno, chamado também de estimativa (cf. A cosmovisão medieval,
de C. S. Lewis), que capta significados particulares (não conceitos
universais). A estimativa é a dimensão que ativa as paixões (emoções).
A paixão,
para Santo Tomás, é psicossomática, ou seja, não é espiritual, mas corporal, e
tem uma forma e uma matéria. Por exemplo, materialmente a ira seria o fervor do
sangue no coração, enquanto formalmente é a vingança.
O gênero da paixão é determinado por seu objeto, ou seja, se é um bem ou mal. Vejamos como as principais se dividem:
Cartesianismo
Descartes sustenta
uma visão de mundo dualista e isso evidentemente afetará de maneira decisiva a psicologia
das emoções. As paixões (que passam a ser chamadas por Descartes de “emoções”
ou “sentimentos”) são algo da alma, não do corpo. Isso porque o corpo, como
ente material, é dotado exclusivamente de quantidade, e tudo o que é
qualitativo é necessariamente mental.
Talvez o
aspecto mais importante em Descartes seja o início da perda paulatina da ideia
de que as emoções sejam apetitivas. Em outras palavras, para Descartes as emoções
são apenas e tão-somente sensações de modificações corporais. A emoção deixa de
ser um afeto e passa a ser uma sensação. É claro, e isso não se pode negar, que
notamos na emoção certas comoções corporais: nó na garganta, palpitações,
rubor, respiração ofegante etc. Ora, mas o que causa essas comoções? Descartes
acredita que ambas as coisas, as emoções e as comoções corporais, são idênticas.
As emoções perdem seu caráter de tendência a um bem (ou de aversão ante um mal)
e são reduzidas a estados afetivos corporais. Sentir uma emoção é sentir seu
corpo.
Na moral
clássica há um conflito a ser harmonizado entre a parte sensitiva e a parte intelectiva,
enquanto que na moral moderna há um conflito a ser harmonizado entre a mente e o
corpo. Em termos gerais, ao longo dos séculos subsequentes, diversas teorias
psicológicas foram desenvolvidas para explicar as emoções, mas que se enquadram
na visão de Descartes: James-Lange, Cannon-Bird, Schachter-Singer, Antonio
Damasio etc.
Magda Arnold
Essa
psicóloga tcheca se inspira na doutrina das paixões de Santo Tomás e a atualiza
com os avanços biológicos e fisiológicos disponíveis na metade do século XX.
Ela é responsável por um giro cognitivo na psicologia das emoções.
Para
Arnold, sentimentos são níveis baixos de afetividade, nos quais basicamente se
distinguem sentimentos de agrado e desagrado. Por outro lado, as emoções seriam
níveis mais elevados de afetividade e nas quais se interpõem cognições (ela as
chama de appraisals, ou avaliações). Estas
cognições não são juízos intelectuais propriamente, mas um juízo sensorial, algo
muito mais imediato, quase instantâneo, que se soma à percepção sensitiva. É
equivalente ao sentido da estimativa de Santo Tomás e que para os homens e
animais lhes dá o juízo de bondade ou maldade de um objeto. A emoção é portanto
uma realidade psicossomática. O juízo sensorial, ou seja, o appraisal, é como um detector formal do
objeto. Santo Tomás acrescentaria que o appraisal
não é um elemento determinante da conduta, mas a ele acrescenta-se também a
vontade. O homem pode escolher motivar-se de acordo com as emoções/appraisals, mas também escolher de
acordo com a vontade.
Ela desenvolve uma teoria das emoções notoriamente inspirada em Santo Tomás: