Leia: A vida do ego
O que é
o ego?
- Ego é um deus que conhece o bem e o mal.
- Ego é a coleção dos seus pensamentos sobre quem e o que você é.
- Ego é o eu enquanto pensamento.
- Ego é pecado pois o ego é separação de Deus.
- Ego é pecado pois o ego o torna o centro não apenas de seu mundo interior, mas da vida como um todo.
- Ego é o servo do engano, das trevas, da destruição e da morte.
- Ego é a realidade verbal como se fosse a única realidade.
- Ego é você enquanto hábitos e preferências.
- Ego é a coleção dos seus julgamentos do eu enquanto inferior ou superior a outros seres humanos.
Ser casado
e ter uma carreira profissional não significa que você não possa ser
espiritual. Apenas significa que você enfrentará desafios dessas áreas para preferir
o ego ao invés do eu. Se você estiver num mosteiro ou ashram, então enfrentará
desafios típicos destes locais para preferir o ego ao invés do eu. Sempre
haverá desafios. Suas escolhas determinam seus desafios, mas nunca sua falta de
desafios. No entanto, os maiores desafios estão nas carreiras espirituais
porque o ego espiritual é o mais persistente e errante de todos os egos. É
comum que os buscadores espirituais substituam o ego materialista pelo ego
espiritual.
A
característica principal do ego é o pensamento. Indo mais a fundo, as
principais características do ego são a aridez, a rigidez e o tédio. O ego é a
morte viva, pois o ego é pensamento, e o pensamento é morto, mas o
pensamento se alimenta de seu coração e de sua força vital, por isso tem vida.
O ego é vivo e morto. A vida do ego é a vida de um zumbi. A vida do ego é viver
com um coração duro, incapaz de sentir o que os outros sentem com seus
próprios sentimentos, incapaz de empatizar, incapaz de sentir a beleza da
natureza, incapaz de experienciar emoções naturais. O ego é como estar
adormecido; você está vivo, mas não está consciente da vida.
O ego
baseia-se na divinização do pensamento. O ego é composto de pensamentos
ossificados, solidificados ou calcificados. O ego é o eu coisificado ou
objetificado. O ego é o pensamento sobre o pensamento, como se essa atividade
fosse um ser vivo. O ego é o eu, os outros e a vida enquanto objetos para serem
manipulados e possuídos. O ego é a substituição de objetos reais por objetos
mentais.
O principal
sentido da vida do ego é encontrar formas para encobrir e proteger suas
atividades destrutivas. O ego o coloca em competição contra todos os seres humanos
a fim de encontrar formas de reivindicar sua superioridade e evitar a inferioridade.
Para o ego, a vida é uma corrida na qual você perde ou ganha o tempo inteiro, não
importa o que você faça ou não faça. A superioridade permite que você se dedique
mais tempo à destruição e a pelear contra mais alvos do que a inferioridade. Se por um
lado a inferioridade consente com a autodestruição e com a prática de culpar os
outros, ao fim e ao cabo destrói menos do que a superioridade.
O sentido secundário
da vida do ego é buscar e mostrar superioridade e evitar e esconder a
inferioridade. A maneira mais conveniente para que o ego se faça de
superior é tornar os outros inferiores. Focar-se na inferioridade dos outros
é o alimento do ego. A
superioridade é a melhor desculpa para a destruição. Fazer os outros de trouxa
é destruí-los enquanto objetos.
O propósito
do ego é servir ao pensamento destrutivo. O pensamento negativo é o pano de
fundo para o ego. Esse pensamento negativo tem um único objetivo: a desintegração.
O ego encontra e disponibiliza maneiras para que os seres humanos considerem o
pensamento negativo como sendo algo aceitável, normal e necessário.
O
pensamento negativo normal é algo útil e necessário para sua segurança,
prevenção e planejamento. Porém, o ego serve ao pensamento negativo extremo,
voltado apenas à destruição em prol da morte, sob o disfarce de trevas e
engodo.
A função do
ego é roubar seu coração e sua alma para si. É possuí-lo, substituí-lo, é
replicar-se infectando os outros com a mesma doença, é tornar a morte e as trevas
algo palatável.
Os
benefícios do ego são permitir que você conviva, trabalhe e se relacione com
outras almas igualmente confinadas pelo ego. Os benefícios do ego advêm de
jogar os mesmos jogos que os demais zumbis, vampiros e imbecis da sua sociedade.
A aceitação
no mundo é o benefício mais comum do ego. Se você servir bem ao ego, então será
recompensado bem no mundo. O ego permite todo tipo de benefícios sem sentido,
tais como fama e fortuna.
Todos os
benefícios do ego existem somente para a sociedade. Todos os benefícios do ego
expiram com o mundo. A completa exposição dos benefícios do ego resulta em
desespero.
O principal
resultado do ego é a perda do eu e uma existência de morto-vivo. O resultado do
ego é uma montanha-russa de orgulho e vergonha.
O que é
o eu
O eu é sua
natureza original. Em poucas palavras, o eu é o lugar e o espaço únicos dentro
do seu corpo e de sua cabeça que são você. Se você fechar os seus olhos e olhar
internamente, o espaço que encontrará é você. Portanto, você é igual e
diferente de todos os seres humanos. Você é o mesmo no sentido de que
compartilha a mesma natureza humana. Você é diferente no sentido de que ninguém
foi, é e será seu espaço e lugar.
A
consciência de espaço interior como vazio, silencioso, quieto, impotente, é a
consciência do eu. O eu é o hospedeiro, o recipiente, o transceiver, o espelho,
o conduíte. O eu é feito de espírito, enquanto o ego é feito de carne, de
pensamento humano. É impossível circunscrever o espírito com palavras,
conceitos e imagens humanas. O eu é incognoscível, assim como todas as coisas
vivas, por definição. Somente o conhecimento pode ser conhecido. Somente nomes
podem ser conhecidos. Somente definições e descrições podem ser conhecidos.
O sentido da vida do eu é esvaziar para ser preenchido, é entrar em contato com o que hospeda, é
gratidão e louvor a Deus.
O sentido
absoluto da vida do eu é refletir o Verdadeiro Eu e compartilhar tal reflexo com os seres humanos.
O sentido está em compartilhar o que é refletido.
O propósito
do eu é ajudar os demais a se engajarem no propósito do eu: magnificar e
compartilhar a glória e louvor de Deus com gratidão.
A função do
eu é permanecer limpo para que possa refletir adequadamente.
Os
benefícios do eu são estar vivo, felicidade, sentir a vida, alegria, paz,
serenidade, fé, esperança, caridade. Os benefícios do eu são, entre outros, ser
capaz de comunicar-se e relacionar-se com seres humanos autênticos, de viver em
Deus, de compartilhar a imortalidade.
Os
resultados do eu são autenticidade, criatividade, genuinidade, bondade, leveza,
espontaneidade.
O
solilóquio
O mecanismo
por trás do ego é o solilóquio (monólogo interior, self-talk). Por enquanto, considere
que todo solilóquio é prejudicial, pois este é o caso dos adultos socializados.
O solilóquio do ego nunca é bom.
Sem
solilóquio não existe ego. O solilóquio sustenta o ego por meio de um drama
contínuo baseado em buscar e mostrar superioridade e evitar e esconder a
inferioridade. Sem o solilóquio não existe orgulho ou vergonha no eu.
Orgulho e vergonha são as duas principais emoções do ego. O solilóquio se vende
como o problema e a solução, como o bem e o mal, como a doença e a cura, e
mediante tal expediente se sustenta como um moto-contínuo.
O
solilóquio é você falando de você para você. O solilóquio são suas conversas
interiores sobre você. Sempre que você fala sobre quem e o quê você é para você
mesmo, então você está em pleno processo de solilóquio. Quando você pensa sobre
quem e o que você deveria ou não deveria ser, isso é solilóquio. A insanidade é
acreditar que o mundo sabe e se preocupa com seu solilóquio.
O
solilóquio baseia-se em pensamentos. Porém, nem todo pensamento adulto é
solilóquio. Quanto mais velho fica, mais tempo você dedica ao solilóquio
inconsciente, e, portanto, mais embotado e estúpido fica.
O
pensamento normal versa sobre o que você deveria ou não deveria fazer, mas sem fazer
disso o que você é. O solilóquio sempre tem a ver com sua identidade,
enquanto o pensamento normal nunca tem a ver com sua identidade.
O
solilóquio é pensar sobre si em comparação. O pensamento normal até pode
comparar suas ações com as ações de outras pessoas, mas sem com isso
interpretar o que quer que seja sobre você. O pensamento normal é capaz de
distinguir seu eu de seu comportamento, mas o solilóquio não.
Se seu
pensamento se baseia em “tem que”, então muito provavelmente se trata de
pensamento solilóquio. O pensamento baseado em “tem que” normalmente se
concentra em seu ser, não em seu comportamento. Se o pensamento baseado em “tem
que” estiver focado exclusivamente em seu comportamento, então não é
solilóquio. Preocupar-se sobre o que você tem que fazer para ser visto como algo,
ou o que você não tem que fazer para não ser visto como algo, é
pensamento solilóquio. Preocupar-se com o que você tem que fazer para passar na
prova, ou o que você não tem que fazer para evitar não ser contratado para uma
vaga de emprego, é pensamento normal, pelo menos até que você não faça disso
algo sobre você.
Se você
quer ser um bom bombeiro, então você deve pensar no seu papel de
bombeiro. Você pode pensar o quanto quiser sobre seus papéis e funções sem que
com isso entre em solilóquio, desde que mantenha seu eu e suas avaliações e
estimativas do seu eu separadas de seus papéis e funções. Você não é seu papel, e fracassar em um papel não significa que seu eu fracassou. Se você
fracassar no seu papel, então você tem que buscar mais treinamento, dedicar-se
mais ou encontrar outra função mais adequada a você.
Fracassar
como bombeiro não é fracassar como ser humano. Ter sucesso nos esportes ou no
entretenimento não faz de você um ser humano bem-sucedido. Na verdade,
frequentemente tal sucesso serve de pretexto para agir de maneira arrogante e,
portanto, inferior.
O mecanismo
por trás do solilóquio é o desejo. O desejo não apenas não é mal, mas é
desejável. Ocorre que o desejo errado é perigoso e destrutivo. Busque aumentar
o desejo correto e reduzir o desejo errado.
O desejo
tem três métodos para ocupar e desgastar você: fracassar, tentar, mentir. Todos
estes são variações de pleitear e acobertar.
Fracassar é
ser contrariado, desencorajado, frustrado, malsucedido. Você não consegue
fracassar. O que você consegue é reivindicar fracassar. Não existe fracasso
quando você percebe que não consegue fazer ou não fez. O comportamento pode
fracassar, mas seres não. O cavalo que não conseguiu pular um obstáculo não
fracassou enquanto cavalo de maneira alguma.
Tentar é
devir, desenvolver, dar seu melhor, crescer, dedicar. Você não consegue tentar.
O que você consegue é reivindicar tentar. O ruído na sua cabeça não é tentar; é
apenas ruído. Não existe tentar quando você entende que não consegue tentar.
Você não tenta abrir a boca; ou você abre, ou não. Se você não abre a boca
quando quer então tem que procurar um médico ou algo parecido.
Mentir é
acobertar, exagerar, esconder, justificar, mascarar, minimizar, fingir,
racionalizar, reformular. Você não consegue ser bem-sucedido. Você apenas
consegue mentir e reivindicar ter sido bem-sucedido. Não existe sucesso ou
realização quando você percebe que não consegue fazer isso. A mentira é
necessária para as trevas, e as trevas são necessárias para que o ego pareça bom
enquanto faz o mal.
O desejo é
sustentado pelos seguintes fatores: alcançar, raiva, ansiedade, devir, tédio, buscar conforto,
buscar continuidade, descontentamento, desilusão, insatisfação, transtorno,
objetivos, ganância, ignorância, desequilíbrio, dor, prazer, busca pelo poder,
satisfação, busca por segurança, stress, lutar, sofrimento, trabalho.
Todos estes
fatores, e outros mais, podem ser combinados sob dois sistemas: (1) buscar o
prazer físico e evitar a dor física; (2) buscar o prazer psicológico e evitar a
dor psicológica. O prazer e a dor psicológica apresentam-se na forma de emoções
de orgulho e vergonha, respectivamente. O orgulho é o prazer do desejo. A
vergonha é a dor do desejo não realizado.
O desejo
tem a ver com o tempo. Esse tempo pode ter qualquer duração. O desejo sempre
tem um começo, um meio e um fim. No começo está a esperança ou expectativa do
prazer de possuir algo. No meio está a dor, o prazer, ou ambos em possuir tal
coisa. No fim está a desilusão, a insatisfação, o pesar. No fim está o
sofrimento da perda de algo bom ou de possuir algo ruim. O meio nunca dura. O
fim sempre vem.
O desejo é
a causa do sofrimento porque o fim do desejo é a perda. Somente no meio existe
a possibilidade do prazer. A dor é sempre o que resulta do desejo, pois daí
advém a perda do prazer ou a perda da possibilidade de prazer.
Os desejos
mais fortes são resultado da combinação de buscar/evitar prazer/dor psicológica
e física.
Os “amigos”
do solilóquio são os seguintes: reclamar, preocupar-se, culpar, apegar-se,
exigir, condenar.
- Reclamar é algo naturalmente egocêntrico. Reclamar é como o que os outros estão fazendo de você e não deveriam estar fazendo de você. A reclamação é fruto da frustração por ser inferior.
- Preocupar-se é como os eventos ruins podem estragar a imagem que você tem de você. A preocupação é fruto do medo de parecer inferior.
- Culpar é como as pessoas, lugares e coisas fazem você se sentir mal, mas nunca você mesmo. A culpa é fruto da resignação de ser inferior.
- Apegar-se é como suas propriedades, objetos, experiências, conhecimento e outras pessoas fazem você ser alguma coisa. O apego é fruto da vontade de ser alguma coisa.
- Exigir é como você tem que controlar para ser quem você tem que ser. A exigência é fruto do desespero de ser superior.
- Condenar é como tornar-se superior fazendo os outros inferiores. A condenação é fruto do assassinato para ser superior.
O
solilóquio assume o controle até que sua tagarelice não lhe deixe um único
momento de paz. Você não tem como escapar; é como se você fosse uma pessoa
famosa assediada por repórteres. O solilóquio quer ser todas as suas
experiências, e ela irá reivindicar, possuir e subordinar toda e qualquer
experiência que porventura você tenha.
Por exemplo,
você está ouvindo uma música em um nível emocional e visceral, sem analisá-la.
O solilóquio então entrará em ação com conhecimento e comparação. Idem na
leitura de um romance, praticando um esporte, assistindo a um filme, vendo o
pôr-do-sol. O solilóquio é capaz até mesmo de interromper a si mesmo. Ele
invade sua mente com o que você tem que fazer depois, o que os outros estão
fazendo, o que os outros não estão fazendo, o que deveria estar pronto, o que
não deveria estar acontecendo, e agora você está cheio de problemas. A
atividade acabou. Tudo o que resta é tentar e fracassar.
Monitore os
resultados conscientes e inconscientes do seu solilóquio. O que resta depois
que o solilóquio faz seu estrago? O que sobrou? O que não foi quebrado em
pedaços? O que não ficou mais fragmentário depois do solilóquio do que era antes?
Como
remover o solilóquio
É guerra!
Demonize o inimigo, demonize o solilóquio. Defenda seu território! Expulse o
invasor!
O melhor
ataque ao solilóquio é o ataque frontal, direto. Remover os fundamentos do
solilóquio é totalmente diferente de remover os sintomas do solilóquio. Por
exemplo, reivindicar saber é um fundamento, a irritabilidade é somente um
sintoma. O solilóquio pode continuar existindo sem a irritabilidade, mas não pode
continuar existindo sem pleitear saber.
Quando você
remove sua identidade e atenção do solilóquio, então o solilóquio não conseguirá
falar e, assim, não conseguirá existir. Se você somente remover a atenção, então
o solilóquio poderá continuar existindo nas sombras e ressurgirá na atenção consciente
mais tarde.
Escute seu
solilóquio e descubra que aquilo que você odeia nos outros é o que você odeia no
seu solilóquio. Você não gosta do hábito dos outros de falar para que eles ouçam
eles mesmo falando? Entenda que esta pessoa está refletindo seu solilóquio, então odeie seu solilóquio por tagarelar, mas aceite e perdoe a pessoa que tagarela
compulsivamente.
Você não gosta
do hábito dos outros de sempre encontrar alguma coisa para criticar? Entenda
que esta pessoa está refletindo seu solilóquio, então odeie seu solilóquio por ser
crítico, mas aceite e perdoe a pessoa que é compulsivamente crítica.
Você não gosta
do hábito dos outros de falar sobre assuntos dos quais eles nada conhecem? Entenda
que esta pessoa está refletindo seu solilóquio, então odeie seu solilóquio por
falar sobre o que não sabe, mas aceite e perdoe a pessoa que
compulsivamente fala sobre o que ela não sabe.
Idem
pessoas que sempre argumentam, pessoas que sempre desencorajam os outros,
pessoas maníacas por controlar os outros, pessoas que comentam sobre tudo,
pessoas que reclamam de tudo, pessoas incapazes de relaxar e desfrutar a vida,
pessoas que sempre estão irritadas e ressentidas com tudo etc.
É interessante
notar que não há nenhum talento ou inteligência em ser negativo. Ninguém
precisa de formação ou estudo para aprender a ser negativo. Falar negativamente
é algo tão natural para o solilóquio que mesmo as pessoas com deficiência mental
o fazem bem. Portanto, esqueça a ideia de que você é superior por ser negativo.
Há cinco
práticas para extinguir o solilóquio.
- Sinta contra o solilóquio. Sentir contra o solilóquio significa reunir e ensaiar sentimentos que ajudam seu desejo de se livrar do solilóquio. Uma pergunta simples como “O solilóquio está me ajudando a sentir da maneira que quero sentir ou não?” pode ser usada para desenvolver uma aversão ao solilóquio com o tempo. Despreze o solilóquio e você rejeitará o solilóquio.
- Aja contra o solilóquio. Agir contra o solilóquio significa reunir e ensaiar ações que ajudam seu desejo de se livrar do solilóquio. Por exemplo, você pode parodiar o solilóquio na sua mente. Você pode tirar sarro do seu solilóquio com os outros. Você pode registrar seu solilóquio para rastrear seus padrões e revelar todo seu nonsense. Uma pergunta simples como “O solilóquio está me ajudando a agir da maneira que quero agir ou não?” pode ser usada para desenvolver uma aversão ao solilóquio com o tempo.
- Faça o contrário. Você pode pensar que as coisas vão funcionar quando o solilóquio insistir que você deve preocupar-se. Você pode sentir perdão quando o solilóquio quiser que você sinta ressentimento. Você pode agir com bondade quando o soliloquio quiser que você aja com maldade. Você se surpreenderá com a profundidade e velocidade dos seus resultados quando você pensar, sentir e agir de maneira contrário ao solilóquio.
- Dialogue ou responda de volta. O solilóquio é, na verdade, um monólogo. O solilóquio fala a ninguém mais senão a si mesmo. O simples ato de afastar-se do fluxo do solilóquio e dialogar com ele já é suficiente para rompê-lo. Um dos truques para afastar o solilóquio de você é voltá-lo a Deus. Eis algumas respostas possíveis:
a. Pergunte a Deus; eu não sei.
b. Com autoridade de quem você está
tentando me controlar?
c. Não me diga o que eu penso porque
você não tem a menor ideia.
d. Não me diga o que fazer quando tudo
o que você faz é mau.
e. Não me diga o que sentir quando tudo
o que você sente é desejo de morte.
f.
Não
me diga quem eu sou porque você não me conhece.
g. Não estou falando com você, então por
que você está falando comigo?
h. Eu não falo, então fale com Deus, não
comigo.
i.
Interessante,
talvez você deva perguntar ao Céu.
j. Que
interessante, solilóquio, você é o problema que você diz que está tentando
resolver.
k. Esta é a minha casa, e vou seguir as
minhas regras, não as suas.
l.
Quem
morreu e pôs você no comando?
m. Você está só falando com você sobre
você.
Use a
técnica dos 6Ps para transformar o solilóquio em SDU (Stupid, Dangerous,
Ugly) ao questioná-lo repetidas vezes. Visto que é árduo para os seres
humanos aprender algo emocionalmente, devido a serem emocionalmente
debilitados, você terá de repetir o processo de ver seu solilóquio como SDU
muitas vezes. Por que somos emocionalmente debilitados? Porque quando encaramos
um problema ou crise nossas primeiras escolhas emocionais e egocêntricas são reações
reptilianas primitivas. O insight intelectual é fácil para os seres humanos, mas
o insight intelectual é difícil.
- O que o solilóquio promove? O solilóquio inspira a caridade? respostas produtivas? hábitos saudáveis? paz?
- O que o solilóquio pressiona? O solilóquio me pressiona para reagir de maneira exagerada, para agir de maneira fleumática, a evitar, escapar, acobertar, ausentar, punir, perseguir, perseguir ou de alguma forma comportar-me de maneira inadequada?
- O que o solilóquio produz? O que o solilóquio me faz sentir e querer? O solilóquio é benéfico ou prejudicial? O solilóquio me fere ou me ajuda?
- O que o solilóquio prevê? Os resultados que o solilóquio prevê são os resultados que apresentam mais evidências e/ou história?
- O que o solilóquio protege? Será que estou usando o solilóquio para acobertar minhas reais intenções? Será que estou usando o solilóquio para racionalizar comportamentos que não são bons para mim? Será que estou usando o solilóquio para evitar enfrentar meus problemas? Será que estou usando o solilóquio para proteger meu desejo oculto de vingança, drama, poder, controle, chantagem emocional, simpatia, preguiça, orgulho, exigência ou outra troca?
- Qual o preço do solilóquio? O que estou sacrificando para manter vivo o solilóquio?
O que resta
do ego sem o solilóquio são as premissas subjacentes do ego. O ego pode não estar
ativo, mas todas as precondições necessárias continuam presentes. A única coisa
que falta ao ego é sua prática: solilóquio. Assim que é melhor cavar mais fundo
e arrancar as raízes do ego se você não quiser que ele retorne. Um retorno do
ego frequentemente é mais destrutivo do que antes.
O maior
perigo de todos é remover o ego somente para substituí-lo por uma forma ainda
mais letal de ego. Isso é o que ocorre frequentemente em instituições, organizações,
sociedades e comunidades religiosas.
Quando
todos em seu entorno estão ocupados construindo e criando a si mesmos, você
está ocupado desconstruindo e dissolvendo a si mesmo.
Quando o
estado fantasioso do ego for removido, então o eu despertará sem esforço. Mas você
deve tomar cuidado para não substituir uma imagem de ego por outra.
Em geral,
podemos reduzir a existência humana a dez funções: coração, alma, mente, corpo,
sentidos, sensações, pensamentos, sentimentos, comportamentos e memórias. As
pessoas, no entanto, são treinadas, em prol do ego, a julgarem a si mesmas com
base em seus bons ou maus comportamentos ou experiências. Então, por exemplo,
se alguém xinga você de alguma coisa, isso não faz de você essa coisa. Você
jamais se transformará na opinião de alguém sobre você porque você é muito mais
do que meras descrições, rótulos, nomes ou pensamentos. Para provar isso a você
mesmo, lembre-se de quando você ou alguém chamou você de “idiota”. Bem, agora se
pergunte se isso era ou é verdade com base nas dez partes que você sempre é, e
pergunte se cada uma dessas dez partes é idiota só porque você fez algo
estúpido. A resposta é “NÃO!”, você não é idiota mesmo que você tenha feito
algo idiota. Você não pode ser idiota! Sim, suas escolhas e comportamentos
podem ser idiotas, mas não você ou todas os seus dez processos.
Ora, se
você não pode ser reduzido a um rótulo, então o ego não pode enquadrá-lo e
encerrá-lo em um rótulo. Remova sua identidade dos rótulos, comportamentos,
experiências, julgamentos, conhecimentos, e redirecione sua identidade ao eu
enquanto quietude, silêncio, vazio, impotência. Pare de rotular-se a si e aos
outros. Em vez disso, avalie seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Pratique
a autoestima incondicional, a autoaceitação incondicional, a alterestima incondicional
e a redução do ego.
Você tem
basicamente cinco medos egotistas que controlam a maneira como você se
relaciona com você e com os outros.
- Eu tenho medo de perder o eu. Tenho medo de ser engolfado, engolido, esmagado. Este é o medo da morte do ego, não do eu.
- Eu tenho medo de danificar o ego para sempre. Este é o medo de que a identidade fundamental do ego se torne desfigurada.
- Eu tenho medo de ferir o ego temporariamente. Este é o medo de ser insultado, criticado ou corrigido porque você personaliza os insultos e os toma como sendo fracassos do ego.
- Eu tenho medo do fracasso do eu. Este é o medo de que o fracasso da sua função ou papel causará o fracasso do eu. Este é o medo do fracasso do ego, de não ser capaz de manter autoimagens positivas ante o fracasso.
- Eu tenho medo da exposição do eu. Eu tenho medo de que descubram que eu sou um impostor ou uma fraude. Este é o medo de que aquilo que você oculta nas trevas seja revelado.
- Meu eu está livre da morte. Sim, as pessoas podem matar meu corpo, mas não meu eu. Não existe um eu para morrer, mas existe apenas um ego para morrer.
- Meu eu está livre de danos. Sim, as pessoas podem me influenciar a pensar quem eu sou, mas esse não é meu eu, é somente meu pensamento.
- Meu eu está livre de ferimentos. Sim, as pessoas me dão a oportunidade de pensar que eu sou inferior, mas as pessoas não podem me fazer pensar que eu sou inferior.
- Meu eu está livre de fracassos. O único fracasso do eu é o fracasso em existir. O eu fracassa em existir porque eu entrego minha identidade ao ego ao invés de entregá-la ao eu.
- Meu eu está livre de ser uma fraude. Somente meu ego pode ser uma fraude. Contanto que eu não confunda o eu com as funções que o eu desempenha, eu vou deixar de ter medo de ser exposto por não ser minhas funções.
Você é
livre para mudar de pensamentos, sentimentos e sensações. O que não somos
capazes é de mudar um pensamento, sentimento ou sensação em outro.
Você pode
mudar ao escolher redirecionar sua atenção de um pensamento para outro pensamento,
distrair sua atenção, mover sua atenção, escolher fluir, meditar, entre outras
práticas.
Mudar internamente
de pensamento é infinitamente possível e poderoso. Mudar e controlar o
pensamento é infinitamente impossível e destrutivo. Você precisa
terminantemente entender, aceitar e agarrar-se ao princípio de “mudar de” em
vez de “mudar o”.
Veja, por
exemplo, o caso dos vícios. Quando você tenta controlar e mudar os pensamentos
e desejos de fumar cigarros, você apenas os intensifica. Em vez disso, aprenda
a mudar de pensamentos e desejos para pensamentos, sentimentos, desejos
e sensações negativos de fumar. Você consegue fazer isso ao criar e recordar pensamentos,
sentimentos, desejos e sensações alternativas sobre fumar. Com o tempo, fumar
se tornará algo casado e associado ao desagrado, ao dissabor.
Redirecione,
reoriente e mude de pensamentos, em vez de tentar mudar, controlar e resistir
aos pensamentos.
Eu devo parar
de reivindicar as coisas e começar a reivindicar nada. Minhas exigências e reivindicações
servem a meu ego. Substituirei todas minhas exigências e reivindicações por
graças e louvores aos dons de Deus. Dado que tudo o que é feito por meio de
mim não é feito por mim, não há nada que eu deva reivindicar. A xícara não
reivindica ter feito o chá que contém, nem eu devo reivindicar ter feito os
pensamentos que contenho.
O
pensamento-conhecimento é mais um equívoco do que uma ilusão, porque há evidência
de sua irrealidade por toda parte. O que significa saber? Saber alguma
coisa significa estar realmente consciente dessa coisa, experienciar a actualidade
dessa coisa, tocar o estado actual dessa coisa, entrar em contato com essa
coisa tal como ela é. E a única forma de encontrar uma coisa tão simples, tão
diretamente, é percebê-la sem interferência de nenhum tipo. Portanto, conhecer
é perceber o actual, o real, a coisa em si, e somente isso. Somente a percepção
permite que experienciemos o “é” da coisa sem que nós adicionemos ou
subtraiamos nada. Porém, se estamos preocupados com outra coisa ao mesmo tempo
que percebemos o “é”, mesmo que seja algo sobre o “é; então não conseguiremos
conhecer o “é”. Pois não podemos experienciar somente o actual, mas acabamos
por experienciar somente uma fração turvada, uma mistura, uma mera projeção, da
coisa com outra coisa. O actual somente pode ser experienciado pela pura percepção,
e isso significa sentir sem o excesso de bagagem das sensações, sentimentos,
pensamentos ou o que quer que seja. Pois saber é perceber inocentemente.
A sensações
surgem somente como resultados da percepção. Portanto elas não podem conhecer o
actual, mas podem apenas apontar para a percepção que a antecedeu. Os
pensamentos surgem somente como resultados das sensações. Portanto eles não podem
conhecer o actual, mas somente apontam às sensações desenvolvidas pela percepção.
Assim que a sensação se torna o conhecimento do conhecer, nosso caminho de
volta ao actual. Claro está, no entanto, que nosso conhecimento do “é” é tão
limitado quanto nossas sensações são limitadas. O pensamento é feito para representar
a sensação, para falar sobre a sensação e para que nos guie de volta à sensação.
Ora, se é
assim, então você só pode reivindicar conhecer os sinais se você mesmo se
considera a fonte desses sinais. Dado que você não é a fonte dos sinais, mas
somente um transceiver, como você cria a ilusão de conhecê-los? Você cria essa ilusão
ao lembrar-se dos sinais e reivindicar que sua lembrança dos sinais é a mesma
coisa que causar e criar os sinais.
Quando você
tenta ser bom ou tenta ser melhor, você comete os seguintes erros
e/ou pecados.
- Você está agindo como se fosse Deus.
- Você está presumindo que pode ser sem Deus.
- Você está presumindo que pode fazer sem Deus.
- Você está presumindo que pode conhecer sem Deus.
- Você está tentando levar o crédito, mas todo o crédito pertence somente a Deus.
- Você está presumindo que pode ser bom, mas somente Deus é bom.
Ao invés
disso, pratique: humildade, rendição, dependência, vazio, espera, serviço, fé, esperança,
caridade, persistência. E tudo em relação a Deus, não a si mesmo. Você será
usado pelo ego ou por Deus. Se você não é usado, você não é. Escolha tornar-se
e você escolherá o ego. Escolha esperar e você escolherá Deus.
Quando você
for nada, você será alguém; quando você for alguém, você será ninguém. Eis
porque aqueles que atingem o topo do sucesso, da fortuna e da fama se sentem
vazios, desesperados, inúteis.
Ao invés de
tentar, diga “eu vou fazer”. Ao invés de tentar, diga “eu farei menos o mal e
mais o bem”. Ao invés de tentar, diga “planejarei”. Ao
invés de tentar, diga “praticarei”. Ao invés de tentar, diga “ensaiarei”. Ao
invés de tentar, diga “pesquisarei soluções”. Ao invés de tentar, diga “estudarei”.
O tentar vem da mentira do devir. Tentar é desejar, e não agir. O que as
pessoas dizem depois de fracassar? “Eu tentei”. Portanto, dizer “vou tentar”
antes de começar é planejar fracassar.
O eu não pode
ser conhecido, contido ou apreendido por análises, cálculos, categorias, classificações,
definições, delineações, representações, descrições, designações, desenhos,
diagramas, dissecações, exames, investigações, rótulos, nomes, reduções,
termos, testes, tipos. O eu não é culpa, ansiedade, depressão, vergonha, raiva,
orgulho. O solilóquio é culpa, ansiedade, depressão, vergonha, raiva, orgulho. Por
exemplo, com o solilóquio você é sua depressão. Enquanto solilóquio, você é
seus pensamentos, sentimentos e atos depressivos. Enquanto eu, você se desapega
de seus pensamentos, sentimentos e ações. Enquanto eu você pode sentir-se culpado,
ansioso, deprimido, envergonhado, irritado e orgulhoso, mas sem nenhum efeito
nocivo. Como você vai conseguir deixar um sentimento depressivo naturalmente se
expirar se você é o solilóquio e o solilóquio é o sentimento depressivo? Você não
vai conseguir; você vai continuar alimentando esse sentimento. O solilóquio é
ser seus pensamentos, sentimentos e ações. Você precisa desistir de ser o
solilóquio para desistir de ser depressivo. A verdadeira batalha da pessoa
deprimida não é contra a depressão: é contra o solilóquio. A verdadeira batalha
da pessoa ansiosa não é contra a depressão: é contra o solilóquio. Como você
vai conseguir superar a depressão ou a ansiedade se elas são você? Você precisa
desistir de você ou morrer. Sim, desistir de você enquanto ego, morrer enquanto
ego, desistir de você enquanto solilóquio, morrer enquanto solilóquio, desistir
de você enquanto depressão ou ansiedade.
O ego são pensamentos
que fingem conversar ao criarem personagens que atuam como falantes e ouvintes,
que atuam como pensador, pensar e pensamento, que atuam como ator, ação e
julgamento. “Ego, só porque você pula de um assunto a outro como macaco, não significa
que você esteja pensando ou dialogando. Significa apenas que você está tentando
reunir momento para parecer vivo enquanto rouba minha energia”.
Há basicamente
três partes no processo de criações de frases para lidar com problemas: (a) uma
frase positiva de uma crença útil; (b) uma frase negativa de uma crença
prejudicial e (c) uma frase de enfrentamento a potenciais efeitos rebote. Por
exemplo: (a) Eu não gosto que tirem sarro de mim, (b) mas isso não me faz ser alguma
coisa, nada pode me fazer ser alguma coisa, (c) então vou usar esse sarro para
praticar minhas habilidades de desapego. Outro exemplo: (a) As pessoas aqui me
tratam mal, (b) mas isso não as faz serem más, pois as pessoas não são seus
comportamentos, (c) então vou aceitá-las a despeito do que façam ou deixem de
fazer.
Os
suportes do ego
O objetivo
é remover os suportes do ego em seu mundo interior até que seu mundo interior
se torne inóspito, inabitável, o mais indesejável possível para o ego e o
solilóquio. Chegou o tempo da total intolerância contra o ego. Fecha a porta do
solilóquio e mantenha-a fechada.
O devir é
um suporte do ego, pois o ego é a ilusão de que a pessoa está fazendo progresso,
de que está indo para a frente. Esse delírio de que o eu evolui nem mesmo chega
a ser evolução do ego. O ego não muda, mas as máscaras e aparências do ego sim,
mudam. Por exemplo, quando criança você talvez tenha se identificado com sua coleção
de pedras, mas agora, como adulto, você se identifica com as obras de caridade
que faz ou participa. Daí você conclui que está se desenvolvendo enquanto pessoa.
Mas não há mudança alguma, não há desenvolvimento algum. Tudo o que há é uma
mudança nos autoconceitos que escondem as obras sombrias do ego.
A comparação
é um suporte do ego. Dado que para o ego tudo é superioridade ou inferioridade,
então o ego precisa da comparação para existir. A comparação é o suporte e parte
integrante da autoavaliação. Dado que o ego é uma coleção de autoavaliações, então
o ego é sustentado pela comparação. O ego é exclusividade e diferença, portanto
requer comparação.
A competição
é um suporte do ego. Um exemplo clássico são as competições esportivas. Todo
mundo consegue ver o orgulho e a vergonha que jogadores e torcedores sentem de
jogos infantis, que somente têm algum sentido com base em crenças cegas e
falsas. A competição é a desculpa perfeita para o ego julgar as pessoas como
inferiores e superiores, não importa o quanto esses julgamentos sejam falsos.
A preocupação
com o que os outros pensam de você é um suporte do ego. Se você estivesse
preocupado somente com o que as pessoas pensam do seu comportamento, então você
seria um bom cidadão. Mas já que você está preocupado com o que as pessoas
pensam de você, então você também quer parecer bom, que é uma das motivações básicas
do ego.
O bom é um
suporte do ego. Sem a ideia de que você pode ser bom ou tornar-se bom, não existe
esforço, devir, reivindicação, condenação. O ego precisa negar que somente Deus
é e pode ser bom. O ego precisa de você procurando aquilo que não pode ser
obtido, mas apenas reivindicado.
A fofoca é
um suporte do ego. A fofoca é o bombom do ego. A fofoca é o combustível para
julgar os outros como inferiores de maneira que, por definição, o eu pareça superior.
A fofoca é a tagarelice indisciplinada, como o solilóquio. A fofoca não está
preocupada com veracidade ou confiabilidade, assim como o solilóquio também não
está. A fofoca é o alterlóquio externalizado.
O monólogo
é um suporte do ego. Se não consideramos o monólogo do ego um diálogo, a
idiotice do ego se tornará evidente. Perder-se no monólogo do ego como se esse
monólogo fosse uma conversa significativa, intencional, importante, eis um das ciladas
necessárias para a existência do ego. Achar que o monólogo do ego é o seu diálogo
interior é sinal do triunfo do ego.
O orgulho é
um suporte do ego. O orgulho é uma das metades da dualidade emocional do ego,
sendo a vergonha a outra metade. O orgulho é o objetivo declarado do ego por
trás de vários nomes e disfarces. Qual atividade criminosa, empresarial,
educacional, religiosa ou social não está motivada pelo orgulho? A realização de
qualquer tipo é por orgulho. O orgulho é a armadilha do prazer egotista.
A vergonha
é um suporte do ego. A vergonha é uma das metades da dualidade emocional do
ego, sendo o orgulho a outra metade. A vergonha faz com que você continue
tentando e fracassando. A vergonha faz com que você continue a acreditar que
pode ser um deus. A vergonha faz com que você continue julgando, reclamando,
culpando, condenando e trabalhando duro para as realidades do ego. A vergonha é
a armadilha da dor egotista.
O suicídio
é um suporte do ego. O suicídio é o escorpião do solilóquio se picando até a
morte. O suicídio é o drama derradeiro do solilóquio. O suicídio é a forma mais
extrema de estímulo do ego. Portanto, o suicídio é o mais próximo que o
solilóquio consegue chegar para sentir-se vivo. O comportamento de algo risco
enquanto estímulo é o primo do suicídio.
Os suportes
do eu
Os suportes
do eu são suportes que ajudam você a ser apenas e tão-somente você. O que quer
que desperta seu verdadeiro eu é um suporte do eu.
A aceitação
é um suporte do eu. [Unconditional Self-Acceptance, Unconditional Other-Acceptance,
Unconditional Life-Acceptance] A aceitação é uma das melhores ferramentas
para a actualização do eu pois a aceitação é inimiga do ego. Ser realmente você
é o prêmio. Aceitar tudo tal como é permite que você se livre da tagarelice do
solilóquio e, portanto, do ego. Aceitar é livrar-se de julgar, de condenar e da
maioria dos jogos do ego.
O desespero
é um suporte do eu. O desespero é uma avaliação realista das condições da vida
adulta. O desespero ajuda você a perceber que qualquer outra coisa que não seja
ser verdadeiro ao eu é inútil. Quando você se desespera dos caminhos deste
mundo, então está motivado e pronto para recuperar seu eu. O mundo não tem nada
a oferecer, assim que o desespero é natural e normal a qualquer pessoa de bom
senso.
A ausência de
esforço é um suporte do eu. A ausência de esforço é a experiência correta do
trabalho e do fazer. Se há esforço, há ego. Se a ação é feita sem esforço, então
aí está o eu. O eu desprovido de esforço na ação é o verdadeiro eu.
O jejum é
um suporte do eu. O jejum ensina o vazio. O jejum ensina a dependência. O jejum
ensina a reta fome. O jejum ensina o eu enquanto receptáculo. O jejum ensina a
humildade. O jejum está ligado às práticas de retorno e recolhimento.
A
flexibilidade é um suporte do eu. O eu é flexível pois o eu é um sobrevivente.
O eu se submete ao bem maior e mais elevado. O eu não se ocupa de discussões elevadas.
O eu prefere a paz do que ter razão.
A liberdade
é o suporte do eu. Livrar-se do ego é o objetivo. Liberdade para simplesmente
ser. Liberdade para pensar e sentir o que você realmente pensa e sente sem ser
julgado por isso. Liberdade para tudo testar. Liberdade para tudo experienciar.
Liberdade para ser aberto como uma criança pequena. Liberdade para ser natural
como uma criança pequena. Livrar-se do apego.
A gratidão é
um suporte do eu. A gratidão é a emoção do eu em relação a Deus. A gratidão é a
emoção do eu quando se vê dependente de dádivas. A gratidão é a emoção do eu
quando se vê completamente incapaz de contribuir com Deus. Deus, de fato e por definição,
não tem necessidades. O eu entende que tudo é um presente imerecido.
A
responsabilidade é um suporte do eu. A responsabilidade o mantém focado em se
fazer de proativo ao invés de se fazer de vítima. A responsabilidade é sua por
aceitar o solilóquio em lugar do ser. A responsabilidade é sua por servir o ego
e não a Deus. A responsabilidade é sua por não se levantar contra seu inimigo e
chutá-lo de sua casa. Você é o porteiro.
O descanso
é um suporte ao ego. O estado do solilóquio é uma agitação demente. O estado do
eu é o descanso. Descanse em Deus todo seu labor. Descanse em paz enquanto está
vivo. Renda todos os seus fardos a Deus, e descanse. Entregue tudo a Deus, e
descanse em fé, esperança e caridade.
A modéstia
é um suporte do eu. A modéstia significa recusar o crédito. A modéstia
significa que você não vai levar o crédito. A modéstia é a humildade em ação. A
modéstia evita o orgulho. A modéstia reconhece que nós somente recebemos, ninguém
merece crédito algum.
A
autoconfiança é um suporte do eu. A autoconfiança é não depender dos outros, portanto
não necessitar da aprovação dos outros. A autoconfiança é fazer o que precisa
ser feito para si próprio. A autoconfiança é a prática de pássaros e adultos.
Trabalhe por sua comida.
A
universalidade é um suporte do ego. A universalidade é o princípio de que a
natureza humana é universal. Isso significa que há somente uma natureza humana
para todas as pessoas. Ninguém tem uma natureza humana melhor ou pior do que o
outro.
Tópicos
avançados
(a) Alterlóquio
O solilóquio
cria um falso outro assim como cria um falso eu. O solilóquio não vê os outros
como pessoas, mas como pensamentos de pessoas. O solilóquio se transforma em
alterlóquio. Tudo o que dissemos sobre o solilóquio também vale para o
alterlóquio. A diferença entre solilóquio e alterlóquio é o objeto do foco. O
solilóquio é sobre você enquanto pensamento. O alterlóquio é sobre pessoas,
lugares e coisas enquanto pensamento.
Algumas das
premissas do solilóquio e do alterlóquio são: os seres humanos podem ser
reduzidos a pensamentos, os seres humanos podem ser representados por pensamentos,
os seres humanos têm diferentes naturezas, os seres humanos são objetos na
mente, os seres humanos são coisas da mente, os seres humanos podem ser
comparados e julgados como pensamentos, os seres humanos podem ser julgados por
seus comportamentos, os seres humanos podem ser conhecidos por seus
comportamentos, os seres humanos não são iguais, os seres humanos podem ser
algo, os seres humanos podem fazer, os seres humanos podem conhecer.
O alterlóquio
é um dos grandes defensores e sustentadores do solilóquio. O solilóquio
sustenta os loops do solilóquio de maneira que o solilóquio possa continuar a
drenar e devorar sua vida. O alterlóquio permite que o solilóquio se alterne com
ele na luta-livre contra seu coração, sua alma e sua mente. Se o solilóquio não
conseguir fazer com que você reaja, o alterlóquio entra em ação.
O
alterlóquio se aplica igualmente a pessoas, lugares e coisas. Com o temo, o
alterlóquio leva a pensamentos supersticiosos, pois o outro no alterlóquio
passa a ter intenções e respostas a seu ego, mesmo que o outro não passe de conceitos
abstratos. Por exemplo, automóveis, aparelhos e utensílios são tratados como espíritos
que trabalham contra ou a favor o solilóquio como eus.
(b) O sistema relacional do solilóquio
O
solilóquio é uma relação de pensamentos que se relacionam com um julgamento do
eu. O solilóquio é uma relação a um eu que não é um eu. O solilóquio é um
processo relacional no qual um pensamento do eu se relaciona com outro
pensamento do eu, os quais em combinação se relacionam a um julgamento do eu.
Dado que nenhum desses pensamentos do eu são o eu, trata-se, portanto, de uma relação
falsa e insipida com outra relação falsa e insípida.
O processo
relacional do solilóquio é ter um pensamento do eu enquanto ator, o Eu-ator, se
relacionando com um pensamento do eu enquanto ação, o Eu-ação, e assim
combiná-los em relacionamento para relacioná-los a um terceiro pensamento do eu
enquanto julgamento, o Eu-julgamento. Este julgamento produz orgulho se o
julgamento for positivo e vergonha se o julgamento for negativo.
Esse
processo relacional triplo do solilóquio é hipnótico. Você facilmente se emaranha
em qualquer uma das três relações. Se uma das relações não o capturar, então outra
será lançada contra você. O experienciador se torna sua experiência, que por
sua vez se torna seu julgamento, e seu julgamento se torna o eu como ego. O
Eu-ator e o Eu-ação se torna um no Eu-julgamento. Portanto você tem o Eu-ator,
o Eu-ação, o Eu-julgamento e, além desses, o Eu-ator e o Eu-ação combinados, e
o Eu-ator e o Eu-ação como Eu-julgamento. Este labirinto de cinco egos o mantém
eternamente ocupado na busca por descobrir quem é quem e quem é o quê. Assim
que você conserta um, logo outro surge com os mesmos problemas ou piores.
Você existe
somente em relação. Ninguém existe no vácuo. Sempre há uma relação. Você sempre
está em relação, ou numa relação real ou numa relação falsa. A relação correta
é antes de tudo a Deus, não ao eu. Relacionar-se com o eu enquanto eu é
possível, pois você tem mais de uma consciência. É por isso que a introspecção,
a autoanálise, a meditação etc. são possíveis. Mas a relação ideal é com o
outro através de Deus.
Seu
propósito e função é relacionar-se com Deus e compartilhar tal relação com os
outros seres humanos. Compartilhar uma relação com deus é a maneira como você comunga
com outros seres humanos.
Os
componentes do solilóquio, conforme comentamos, são basicamente os componentes indicados
no diagrama abaixo.
O “Eu” é um
pensamento que simboliza o eu para o eu. Porém, o símbolo “Eu” acaba sendo considerado
como sendo o eu, e sua natureza real enquanto símbolo ou pensamento do eu é
esquecida. O “Eu” sequestra sua autoconsciência e passa a ser interpretado como
seu eu.
Os três retângulos
do diagrama representam as três consciências. Os dois círculos em cada retângulo
representam as duas partes nas quais consciência pode se focar. As linhas cheias
indicam as relações diretas entre as partes das consciências. As linhas
pontilhadas indicam relações diretas inconscientes entre as partes da consciência.
(c) O observador é o observado
O
observador é o observado no solilóquio porque ambos são apenas invenções do
pensamento. O pensador é seus pensamentos, pois ambos são apenas pensamentos do
solilóquio. O observador e o observado são um no ego, pois ambos são partes do
ego. O solilóquio não possui realmente nenhum observador ou observado, mas
somente a pretensão de observador e observado. O observador e o observado do
ego existem como ficções, sonhos, ilusões, engodos. Assim como ninguém está
ouvindo o solilóquio, ninguém está observando.
O
solilóquio Eu-ator, Eu-ação, Eu-julgamento são apenas pensamentos de
pensamentos. O solilóquio é somente pensamento. O solilóquio existe somente no
pensamento e enquanto pensamento. Isso nos faria concluir que o pensamento é o
culpado, mas é o mal-uso do pensamento o verdadeiro culpado. O desejo de ser
algo é somente um pretexto para manter o processo de desintegração conhecido
como solilóquio sempre em marcha. Esse drama do solilóquio, o drama do
observador e do observado, é como um desenho animado ou um teatro de bonecos: não
existe ator nenhum, não existe ação nenhuma.
Somente
quando se é o seu real o observador e o observado se distinguem. Você vê um automóvel
ao atravessar a rua, e o automóvel passa enquanto você fica. O eu vazio é o verdadeiro
observador que vê tão claramente que é como se o observado estivesse em sua
mente e fosse um com ela. A tênue linha que separa o observador do observado é
facilmente esquecida ou perdida quando se está operando na sua natureza
original. As formas físicas flutuam como uma névoa muito fina na energia que as
sustenta.
(d) A criação do ego
O ego é criado
ao identificar o eu com o conhecimento. Isso requer a ilusão do conhecimento. O
conhecimento requer coisificar objetos, ações e eventos. Coisificar requer
julgar objetos, ações e eventos. O julgamento requer a comparação de dualidades.
As dualidades requerem pensamento dualista.
São dois
passos: (1) Você cria a ilusão de que um nome conhece; (2) Você se identifica
com esse nome para criar a ilusão de que você conhece.
Fonte: Kevin FitzMaurice, Ego, FitzMaurice Publishers, Portland, OR, EUA, 2011, trechos selecionados.