Trechos da palestra proferida pelo Pe. George Metallinos, professor da Universidade de Atenas, na Conferência Teológica de Pirgos, Grécia, 1995.
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Os elementos que compõem uma cultura não são apenas folclóricos (festivais, celebrações etc.) ou artísticos. A questão também não é recordar elementos e peculiaridades de nossa cultura que podem ser facilmente encontrados em outras línguas. A questão é nos identificarmos com uma cultura de maneira que não consigamos viver sem seus elementos. Nós participamos de uma cultura na medida em que experimentamos estes elementos particulares como sendo inseparáveis de nossa própria existência.
Cultura é a manifestação da consciência na realidade histórica, é a expressão e realização do mundo da alma. A formação do ambiente dentro dos limites da consciência delimita uma cultura específica. A consciência de um grupo é o mesmo que sua cultura.
Nossa cultura, nossa existência e continuidade históricas, nossa identidade helênica e nossa fé ortodoxa estão em jogo no contexto da União Européia. Nossa identificação a priori com a Europa é um erro. É errado acreditar que a cultura européia e a cultura helênica são idênticas. Não se trata de uma aliança, de uma simples relação sócio-política mútua. É uma verdadeira congregação em um novo sistema de vida. “Europa” significa transferir nossos interesses a um campo distinto.
A mentalidade hegemônica na Europa é anti-helênica. Pode até ser que o sistema educacional e cultural europeu ostente uma inclinação favorável à antiga Grécia, mas representa também reação, resistência e hostilidade contra a nova face do helenismo.
A Europa moderna é produto de Carlos Magno, o maior inimigo do helenismo em toda a história. Ela funda-se em Carlos Magno. Ela não é produto de uma composição heleno-cristã, mas franco-germânica. Os diversos grupos francos (francos, teutões, normandos, lombardos, burgúndios etc.) ainda estão no comando da União Européia. A presença helênica da Grécia é um elemento estranho entre eles.
A essência da alienação teológica ocidental é ter se deixado capturar pelo antigo pensamento grego ao filosofar e racionalizar a fé. Os europeus preservaram essa tendência, tornando-a sua própria fé e teologia. É uma postura legalista em questões de fé.
O homem europeu não consegue interpretar corretamente o helenismo. A Europa distorceu o helenismo com base em seus próprios preconceitos. Nem mesmo o antigo helenismo foi preservado pela cultura européia. A Renascença tratou de expurgar tanto a era helênica quanto a romana, pois não houve continuidade alguma. A Renascença não foi criada pelos povos românicos do Ocidente, mas pelos conquistadores franco-germânicos. O homem europeu não guarda relação alguma com o homem antigo; ele não preservou nada dos Santos Padres da Igreja.
Possuímos uma cultura que cria pessoas santas, glorificadas. O ideal de nosso povo não é criar sábios, nem este era o ideal da antiga cultura e civilização helênicas. O humanismo antropocêntrico (centrado no homem) helênico foi transformado em teantropismo (centrado no Deus-Homem) e seu ideal, agora, é a criação de pessoas santas que alcancem o estado de theosis (deificação).
O Império da Nova Roma (Romania ou “Bizâncio”, como foi posteriormente chamada pelos acadêmicos), sendo Constantinopla a Nova Roma (330 d.C.), era o novo mundo pós-romano. Ela compunha-se do tríptico (1) estrutura estatal romana, (2) educação helênica e (3) Cristianismo.
Na mente dos cidadãos, todo o Império funcionava enquanto “Igreja” (ekklesia), ou seja, enquanto reunião dos crentes no Cristo, com a Ortodoxia servindo de elo entre eles. A Ortodoxia determinava a nacionalidade dos cidadãos, de maneira que o título civil romaios significava “cidadão da Nova Roma: ortodoxo”.
O sentimento religioso dos antigos gregos preservou-se através da Ortodoxia. Por exemplo: ao invés de Poseidon (deus dos mares), uma entidade inexistente ou até mesmo demoníaca, temos São Nicolau e as provas históricas de sua existência, de sua atividade miraculosa e de seu estado deificado. Não se trata de “outro tipo de idolatria”, já que todas as pessoas santas são do “Corpo de Jesus Cristo” e a honra a eles atribuída é sempre centrada em Cristo.
A consciência ortodoxa define-se por três pontos: (1) a melhor e mais autêntica expressão de nossa cultura é a vida dos Santos Padres; (2) consciência da superioridade da cultura ortodoxa em oposição à antiga cultura helênica (esta foi batizada e renascida); e (3) consciência da superioridade da cultura ortodoxa em relação à cultura européia.
Após os francos dominarem a Europa Ocidental, o desenvolvimento social deu-se em bases raciais. Os direitos dos conquistadores foram impostos por meio do sistema feudal, cuja base não era a propriedade da terra, como no Oriente, mas o aspecto racial. Uma classe de nobres foi criada e considerada “nobre por natureza”. Os conquistadores bárbaros se autodeclararam “nobres”. A outra classe era a dos súditos, escravizada pelos nobres. Esta pequena minoria conquistou todo o Ocidente, transformando o povo romano em escravos em sua própria terra.
Além da servidão, outra conseqüência da conquista dos francos foi o colonialismo. Colonialismo é a extensão da estrutura interna da escravidão a terras estrangeiras. O individualismo ocidental (domínio individual à custa dos outros) é completamente diferente do oriental, que possui um caráter sócio-comunal. O homem ocidental diz: “Por que não me tornam primeiro-ministro para resolver os nossos problemas?”. O homem ocidental vive em um ambiente que o motiva a sacrificar os outros em seu próprio benefício, e não a sacrificar a si próprio em benefício dos outros.
A Europa tinha uma civilização e uma cultura iguais às nossas, mas, após as invasões bárbaras dos francos, a Europa Ocidental Romana foi escravizada, perdendo sua tradição. Assim, Deus nos designou como sua guardiã.
A atual cooperação entre França e Alemanha (as duas maiores ramificações francas) em diversos campos de atuação prova que há uma tentativa de retornar à Europa unificada dos tempos de Carlos Magno.
Fonte: http://www.romanity.org/mir/me04en.htm
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Os elementos que compõem uma cultura não são apenas folclóricos (festivais, celebrações etc.) ou artísticos. A questão também não é recordar elementos e peculiaridades de nossa cultura que podem ser facilmente encontrados em outras línguas. A questão é nos identificarmos com uma cultura de maneira que não consigamos viver sem seus elementos. Nós participamos de uma cultura na medida em que experimentamos estes elementos particulares como sendo inseparáveis de nossa própria existência.
Cultura é a manifestação da consciência na realidade histórica, é a expressão e realização do mundo da alma. A formação do ambiente dentro dos limites da consciência delimita uma cultura específica. A consciência de um grupo é o mesmo que sua cultura.
Nossa cultura, nossa existência e continuidade históricas, nossa identidade helênica e nossa fé ortodoxa estão em jogo no contexto da União Européia. Nossa identificação a priori com a Europa é um erro. É errado acreditar que a cultura européia e a cultura helênica são idênticas. Não se trata de uma aliança, de uma simples relação sócio-política mútua. É uma verdadeira congregação em um novo sistema de vida. “Europa” significa transferir nossos interesses a um campo distinto.
A mentalidade hegemônica na Europa é anti-helênica. Pode até ser que o sistema educacional e cultural europeu ostente uma inclinação favorável à antiga Grécia, mas representa também reação, resistência e hostilidade contra a nova face do helenismo.
A Europa moderna é produto de Carlos Magno, o maior inimigo do helenismo em toda a história. Ela funda-se em Carlos Magno. Ela não é produto de uma composição heleno-cristã, mas franco-germânica. Os diversos grupos francos (francos, teutões, normandos, lombardos, burgúndios etc.) ainda estão no comando da União Européia. A presença helênica da Grécia é um elemento estranho entre eles.
A essência da alienação teológica ocidental é ter se deixado capturar pelo antigo pensamento grego ao filosofar e racionalizar a fé. Os europeus preservaram essa tendência, tornando-a sua própria fé e teologia. É uma postura legalista em questões de fé.
O homem europeu não consegue interpretar corretamente o helenismo. A Europa distorceu o helenismo com base em seus próprios preconceitos. Nem mesmo o antigo helenismo foi preservado pela cultura européia. A Renascença tratou de expurgar tanto a era helênica quanto a romana, pois não houve continuidade alguma. A Renascença não foi criada pelos povos românicos do Ocidente, mas pelos conquistadores franco-germânicos. O homem europeu não guarda relação alguma com o homem antigo; ele não preservou nada dos Santos Padres da Igreja.
Possuímos uma cultura que cria pessoas santas, glorificadas. O ideal de nosso povo não é criar sábios, nem este era o ideal da antiga cultura e civilização helênicas. O humanismo antropocêntrico (centrado no homem) helênico foi transformado em teantropismo (centrado no Deus-Homem) e seu ideal, agora, é a criação de pessoas santas que alcancem o estado de theosis (deificação).
O Império da Nova Roma (Romania ou “Bizâncio”, como foi posteriormente chamada pelos acadêmicos), sendo Constantinopla a Nova Roma (330 d.C.), era o novo mundo pós-romano. Ela compunha-se do tríptico (1) estrutura estatal romana, (2) educação helênica e (3) Cristianismo.
Na mente dos cidadãos, todo o Império funcionava enquanto “Igreja” (ekklesia), ou seja, enquanto reunião dos crentes no Cristo, com a Ortodoxia servindo de elo entre eles. A Ortodoxia determinava a nacionalidade dos cidadãos, de maneira que o título civil romaios significava “cidadão da Nova Roma: ortodoxo”.
O sentimento religioso dos antigos gregos preservou-se através da Ortodoxia. Por exemplo: ao invés de Poseidon (deus dos mares), uma entidade inexistente ou até mesmo demoníaca, temos São Nicolau e as provas históricas de sua existência, de sua atividade miraculosa e de seu estado deificado. Não se trata de “outro tipo de idolatria”, já que todas as pessoas santas são do “Corpo de Jesus Cristo” e a honra a eles atribuída é sempre centrada em Cristo.
A consciência ortodoxa define-se por três pontos: (1) a melhor e mais autêntica expressão de nossa cultura é a vida dos Santos Padres; (2) consciência da superioridade da cultura ortodoxa em oposição à antiga cultura helênica (esta foi batizada e renascida); e (3) consciência da superioridade da cultura ortodoxa em relação à cultura européia.
Após os francos dominarem a Europa Ocidental, o desenvolvimento social deu-se em bases raciais. Os direitos dos conquistadores foram impostos por meio do sistema feudal, cuja base não era a propriedade da terra, como no Oriente, mas o aspecto racial. Uma classe de nobres foi criada e considerada “nobre por natureza”. Os conquistadores bárbaros se autodeclararam “nobres”. A outra classe era a dos súditos, escravizada pelos nobres. Esta pequena minoria conquistou todo o Ocidente, transformando o povo romano em escravos em sua própria terra.
Além da servidão, outra conseqüência da conquista dos francos foi o colonialismo. Colonialismo é a extensão da estrutura interna da escravidão a terras estrangeiras. O individualismo ocidental (domínio individual à custa dos outros) é completamente diferente do oriental, que possui um caráter sócio-comunal. O homem ocidental diz: “Por que não me tornam primeiro-ministro para resolver os nossos problemas?”. O homem ocidental vive em um ambiente que o motiva a sacrificar os outros em seu próprio benefício, e não a sacrificar a si próprio em benefício dos outros.
A Europa tinha uma civilização e uma cultura iguais às nossas, mas, após as invasões bárbaras dos francos, a Europa Ocidental Romana foi escravizada, perdendo sua tradição. Assim, Deus nos designou como sua guardiã.
A atual cooperação entre França e Alemanha (as duas maiores ramificações francas) em diversos campos de atuação prova que há uma tentativa de retornar à Europa unificada dos tempos de Carlos Magno.
Fonte: http://www.romanity.org/mir/me04en.htm