“Quem – eu? – eu tenho de ir primeiro pedir perdão?! Por que eu deveria me humilhar e me rebaixar para ele? Quem ele pensa que é? E onde fica minha dignidade?” etc. Quem nunca disse coisas parecidas antes? Provavelmente todos nós, mas o fato é que Jesus Cristo nunca disse que deveríamos perdoar somente quando nossos oponentes viessem pedir perdão primeiro. Ele jamais ensinou que o menor deveria pedir perdão primeiro. Todos devem perdoar seus inimigos pessoais sempre que qualquer coisa tenha ferido seu orgulho. Se quem começou a briga resolver humildemente pedir desculpas a seu oponente, ser-lhe-á apagada a culpa de sua alma; se o inocente permanecer irreconciliável em seu orgulho, tornar-se-á ainda mais culpado do que quem começou a briga.
Os Santos Padres ensinam que quem perdoa sempre vence. A despeito das circunstâncias, se você perdoar, sua alma imediatamente será limpa e tornar-se-á digna do Paraíso. Se perdoar quem armou uma cilada para assassiná-lo, terá se tornado igual a um mártir. Quem aplaca o orgulho exalta a humildade.
Suponha que você tenha discutido com vizinho porque ele lhe tomou dinheiro emprestado e acabou não honrando sua dívida com você, e também não quer mais pagar-lhe de volta o que deve. O que devemos fazer para não pecar? Jesus Cristo disse que devemos perdoar! É claro que podemos gentilmente pedir-lhe que pague o que deve. Se o devedor perceber que é pecado roubar dinheiro dos outros e acabar por lhe devolvendo a soma emprestada, isso será bom para ele e para você. Mas se ele não lhe devolver, você deve deixar tudo nas mãos de Deus e perdoá-lo. Uma só prioridade você deve ter em mente – espantar o pecado! É melhor ser trapaceado do que levar o caso ao tribunal (cf. I Coríntios 6:7)!
É verdade que, agindo dessa forma, você perderá algo importante para o corpo, mas ao mesmo tempo ganhará algo muito mais precioso para a alma: você mostrará que estima o amor ao próximo mais do que o dinheiro e, assim, cortará as raízes do ódio de sua alma! É exatamente para ensinar essa verdade que Jesus Cristo deixou-lhe este mandamento: E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa. (Mateus 5:40)
O ladrão rouba a propriedade, mas Deus vê tudo. Se perdoar, Ele lhe recompensará mil vezes no céu e considerará a propriedade roubada como esmola. Então seu inimigo, contra a vontade dele, tornar-se-á seu benfeitor, e com sua ajuda você será salvo mais facilmente.
Perdendo o que é temporal você ganha o que é eterno. Como os Santos Padres tinham razão! Você consegue perceber isso, caro leitor? Se sim, bom para sua alma, mas se ao lembrar de seus inimigos e devedores você balança a cabeça em desaprovação é porque ainda não consegue imaginar como perdoar os malfeitores que lhe roubaram nem como se reconciliar com aquele que lhe insultou. Nesse caso, você não está no caminho certo – ora, são precisamente a esses inimigos odiosos que lhe é mandado perdoar. Se sua alma ainda é atormentada por pensamentos negativos, então é porque você ainda não experimentou o doce sabor do perdão; seus interesses carnais ainda falam mais alto do que os interesses espirituais. Você, todo preso na rede das coisas mundanas, não consegue alçar voo até os horizontes do espírito onde Jesus Cristo prepara uma grande bênção a Seus seguidores. Se, porém, você percebe que o conselho dos Santos Padres está certo, mesmo que eles desconheçam os interesses materiais e temporais que lhe afligem e que de qualquer forma devemos perdoar nossos inimigos, se você percebeu que há algo de profundamente verdadeiro no que acabou de ler, por mais tolo que possa parecer aos olhos do mundo, sorte a sua – pois você acaba de encontrar o caminho que leva ao Reino dos Céus.
A pessoa vingativa permanece irreconciliável. São Tikhon de Zadonsk disse muito claramente: “As portas da misericórdia de Deus estão abertas aos ladrões, aos assassinos, aos fornicadores, aos publicanos e todos os pecadores, mas estão fechadas aos vingativos”.
Fonte: Arquimandrita Seraphim Aleksiev, Strife and Reconciliation, St. Xenia Skete, Wildwood, CA, EUA, 1994.