27 de fevereiro de 2011
Humildade
Ζω τόσα χρόνια σ`αυτό τον κόσμο και δε γνώρισα ούτε ένα κακό άνθρωπο παρά μόνο τον εαυτό μου.
"Vivi tantos anos neste mundo, mas nunca encontrei uma pessoa má que não fosse eu mesmo. Asceta."
Fonte: Mosteiro Agathonos, Ypati, Grécia.
25 de fevereiro de 2011
Autoconhecimento
O autoconhecimento é indispensável; trata-se do conhecimento de si próprio, sobretudo de suas limitações, fraquezas e inabilidades. A partir daí, tu deves ponderar acerca da tua indignidade para ocupar quaisquer posições que sejam e, portanto, não deves desejar posições especiais, mas deves aceitar o lugar onde estás com temor e humildade. Quem se conhece não presta atenção aos pecados alheios, mas mira seus próprios pecados e está sempre se arrependendo deles, refletindo acerca de sua situação e se condenando, sem interferir em nada que não esteja ligado à sua posição. Quem se exercita no autoconhecimento e tem fé não confia em sua fé, não cessa em testá-la, a fim de adquirir um fé maior e mais perfeita, apegando-se às palavras do Apóstolo: Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé (II Coríntios 13:5).
Fonte: Abbot Nazarius of Valaam, p. 88.
15 de fevereiro de 2011
Evágrio Pôntico
Pe. Gabriel Bunge
Enquanto estudava as obras de Santo Isaque de Níneve (da Síria), compreendi que os Padres foram inspirados pelas obras de Evágrio Pôntico. Decidi aprender mais sobre ele, estudei o idioma siríaco e conclui que há muitos preconceitos contra ele. O fato é que o Quinto Concílio Ecumênico não o condenou pessoalmente, mas apenas em relação aos origenistas. Desde então, decidiu-se que ele era origenista e coisas impossíveis foram atribuídas a ele.
Quando falo deste assunto com alguém, digo o seguinte: “Evágrio é acusado de estar em desacordo com quase todas as doutrinas da cristologia ortodoxa. Tudo bem, mas você não acha estranho que São Basílio, o Grande, não tenha notado nada disso nele? E Gregório, o Teólogo não notou nada também. Ademais, Teófilo de Alexandria queria ordená-lo bispo (Evágrio escapou dessa). Até mesmo antiorigenistas (Epifânio de Chipre, Hierônimo) jamais acusaram Evágrio de nada, embora o conhecessem pessoalmente. Será que não somos nós que estamos enganados?”
Foi então que comecei a estudar Evágrio com a devida seriedade. A oitava carta de São Basílio, o Grande, é tradicionalmente atribuída a São Basílio, mas sem sombra de dúvida foi escrita por Evágrio. A carta contém todos as doutrinas de Evágrio. Isso significa que Evágrio sempre pode ser lido com lentes ortodoxas. No entanto, ele também pode ser lido de maneira heterodoxa. A questão está no método. Eu também poderia mencionar “Da Oração”, conhecida como de autoria de Nilo de Ancira. Colocou-se nomes de Santos Padres ortodoxos nas obras de Evágrio para salvá-las e para que fossem lidas de maneira ortodoxa. É perfeitamente possível ler as obras dele sob a perspectiva ortodoxa. Eu aprecio Evágrio exatamente sob este ponto de vista.
Nota: As conclusões do Pe. Gabriel são semelhantes mutatis mutandis às do Metropolita Hieroteu de Náfpaktos quanto a São Gregório de Nissa. Ele explica no capítulo 8 de seu livro Life After Death que São Gregório não absorveu a doutrina da palingênese de Orígenes, ou seja, a doutrina da reencarnação (pág. 274). Afinal, São Gregório era um homem deificado, reconhecido por outros santos como tal – ele era tido como "o Padre dos Padres" pelos Concílios e um dos “Padres Capadócios” –, criador da forma final do Credo acerca do Espírto Santo etc. Em suma, como pode alguém que formula dogmas nucleares da fé cristã, de repente, em questões afins, simplesmente ensinar uma heresia grosseira e, por fim, ser aceito como "Padre dos Padres" por muitos santos de elevada estatura espiritual? Não é possível que São Gregório tenha se enganado, mas é muito mais provável, segundo o Metropolita Hieroteu, que seus críticos estejam enganados a respeito dele.
São Máximo, o Confessor, reconhece que São Gregório de Nissa exagerou nesse ponto. Mas é só isso: exagero na exposição. Esse seria o “erro” de São Gregório: exagerar, expressar-se mal, falhar na exatidão da explicação. Mas a explicação (a língua humana), em si, já foge do domínio da verdade incriada propriamente dita, e entra no âmbito das coisas criadas e, portanto, transitórias e imperfeitas.
Imagem: Evágrio Pôntico, pintado pelo iconógrafo Giorgos Kordes.
7 de fevereiro de 2011
Platão na Igreja
O conhecimento que a inteligência possui, o conhecimento do bem e do mal, é apenas uma parte do conhecimento inato do homem. O homem nasce com um vasto tesouro de conhecimentos que pertencem ao mundo criado como um todo e a Deus. Este conhecimento é chamado de "conhecimento natural" (physiké gnosis). Platão sabia da existência deste conhecimento e tentou explicá-lo através da teoria da pré-existência da alma. Os Padres gregos rejeitaram a teoria da pré-existência e explicaram este conhecimento referindo-se à doutrina bíblica de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Em Deus estão contidas as razões, idéias ou arquétipos de todas as coisas. Por isso, diz-se que Deus é a perfeita Sabedoria. Ao contrário de Platão, que hesitou em alocar as idéias ou arquétipos na Mente Divina, tornando-os um fator metafísico independente, os Santos Padres negavam-lhes toda e qualquer existência independente, sustentando que seu ser estava inserido na Mente Divina. Ora, dado que o homem foi criado à imagem de Deus, ele tem de refletir em si Deus e, portanto, todas estas idéias.
Dr. Constantine Cavarnos, Orthodoxy and Philosophy, p. 194-195.
O anátema a seguir [do Quinto Concílio Ecumênico] deixa claro quais são os limites aceitáveis da educação filosófica:
"Aos que perseguem o saber helênico e são formados por ele, não apenas como disciplina educacional, mas seguem suas opiniões vazias e crêem que elas sejam verdadeiras, e portanto envolvem-se nelas como se possuíssem certeza, de maneira que iniciam outros nelas, seja secretamente ou abertamente, e as ensinam como sendo indubitáveis: Anátema!"
As reminiscências da condenação ao origenismo deixam claro que esta condenação deveu-se em parte à recrudescência de um antigo antagonismo entre a herança da filosofia clássica e a tradição do evangelho. Porém, é importante notar que este antagonismo é bem menos evidente do que parece. Os anátemas têm em mente uma forma específica de platonismo, e chegam a fazer mênção a ela. João Mauropous, mestre de Miguel Pselo, ficou famoso entre outras coisas pelos poemas que suplicavam a Deus para que tivesse misericórdia de Platão (e Plutarco), pois "ambos aderem estreitamente em palavras e em caráter às Tuas leis". Mas não eram apenas os representantes da "sabedoria exterior" como Mauropous que reverenciavam Platão: Santo Atanásio o chamava de "o grande entre os gregos", e em uma obra atribuída ao abade do século VII do Sinai, Anastácio, consta a história de um cristão erudito que habitualmente praguejava contra Platão, até que um dia o próprio Platão apareceu a ele dizendo: "Ó homem, pára de me amaldiçoar, pois assim fazes mal apenas a ti mesmo. Não nego que era um pecador, mas, quando o Cristo desceu ao inferno, ninguém acreditou nEle antes do que eu".
Pe. Andrew Louth, Greek East and Latin West: The Church AD 681-1071, p. 320-321
O afresco acima é do Mosteiro Sucevita, Romênia, e representa Platão ao lado de outros onze filósofos pagãos que, juntos, rodeiam Jessé em alusão à "Árvore de Jessé", ou seja, a todos aqueles que profetizaram ou anteciparam a Encarnação de Jesus Cristo: Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará (Isaías 11:1). O texto de Platão parece ser uma variação de um texto semelhante encontrado em um prato de ouro no interior de um caixão (do próprio Platão, segundo a tradição), aberto em Constantinopla nos tempos de Constantino e Helena. Esta história foi contada, por exemplo, por Tomás de Aquino e Paulo Diácono, segundo Brian Rowlands. O pergaminho diz o seguinte: "Cristo nascerá de Maria Mãe de Deus, e eu creio nEle. Ó Sol, nos tempos de Constatino e Helena, Tu me verás novamente".
3 de fevereiro de 2011
Deus, o diabo e nós
Pe. John Romanides
Deus também ama o diabo. Porém, o diabo jamais será salvo. Deus ama a todos. A questão não é "se Deus me ama, então serei salvo". A questão é submeter-se à terapia, que é necessária para alcançar o estado de iluminação, de maneira que, quando estivermos diante da visão da glória de Deus, veremos a glória de Deus como luz, e não como fogo eterno e trevas exteriores.
O diabo não segue regras. Ele não faz guerra da maneira como nós fazemos guerra, ele não diz coisas como "de acordo com o Tratado de Lausanne..." O diabo não conhece limites, não tem regras de conduta para uma "guerra justa" contra os homens. Por isso, é muito difícil que os homens se tornem teólogos ortodoxos. A primeira preocupação do diabo para conosco é evitar que ouçamos o nome do Cristo, absolutamente nada sobre o nome do Cristo. Se por algum engano do diabo ouvirmos falar do Cristo e começarmos a nos interessar, bem, então o diabo muda de tática. Embora tenha perdido esta batalha, ele possui outros baluartes. Ele faz guerra em outros lugares.
Há pessoas que acham que só porque têm boas intenções -- por exemplo, quando têm compaixão para com uma pessoa pobre --, então essas boas intenções são humanas. E quando têm bons sentimentos, dizem que são sentimentos inspirados por Deus. Ora, bons sentimentos também podem ser inspirados pelo diabo. São muitas as inspirações. Na tradição patrística, o único sentimento isento de ilusões é quando o Espírito Santo reza dentro de nós.
Fonte: Empirical Dogmatics, do Metropolita Hieroteu de Náfpaktos
Leia também: As seis coisas que os demônios mais temem
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