O conhecimento que a inteligência possui, o conhecimento do bem e do mal, é apenas uma parte do conhecimento inato do homem. O homem nasce com um vasto tesouro de conhecimentos que pertencem ao mundo criado como um todo e a Deus. Este conhecimento é chamado de "conhecimento natural" (physiké gnosis). Platão sabia da existência deste conhecimento e tentou explicá-lo através da teoria da pré-existência da alma. Os Padres gregos rejeitaram a teoria da pré-existência e explicaram este conhecimento referindo-se à doutrina bíblica de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Em Deus estão contidas as razões, idéias ou arquétipos de todas as coisas. Por isso, diz-se que Deus é a perfeita Sabedoria. Ao contrário de Platão, que hesitou em alocar as idéias ou arquétipos na Mente Divina, tornando-os um fator metafísico independente, os Santos Padres negavam-lhes toda e qualquer existência independente, sustentando que seu ser estava inserido na Mente Divina. Ora, dado que o homem foi criado à imagem de Deus, ele tem de refletir em si Deus e, portanto, todas estas idéias.
Dr. Constantine Cavarnos, Orthodoxy and Philosophy, p. 194-195.
O anátema a seguir [do Quinto Concílio Ecumênico] deixa claro quais são os limites aceitáveis da educação filosófica:
"Aos que perseguem o saber helênico e são formados por ele, não apenas como disciplina educacional, mas seguem suas opiniões vazias e crêem que elas sejam verdadeiras, e portanto envolvem-se nelas como se possuíssem certeza, de maneira que iniciam outros nelas, seja secretamente ou abertamente, e as ensinam como sendo indubitáveis: Anátema!"
As reminiscências da condenação ao origenismo deixam claro que esta condenação deveu-se em parte à recrudescência de um antigo antagonismo entre a herança da filosofia clássica e a tradição do evangelho. Porém, é importante notar que este antagonismo é bem menos evidente do que parece. Os anátemas têm em mente uma forma específica de platonismo, e chegam a fazer mênção a ela. João Mauropous, mestre de Miguel Pselo, ficou famoso entre outras coisas pelos poemas que suplicavam a Deus para que tivesse misericórdia de Platão (e Plutarco), pois "ambos aderem estreitamente em palavras e em caráter às Tuas leis". Mas não eram apenas os representantes da "sabedoria exterior" como Mauropous que reverenciavam Platão: Santo Atanásio o chamava de "o grande entre os gregos", e em uma obra atribuída ao abade do século VII do Sinai, Anastácio, consta a história de um cristão erudito que habitualmente praguejava contra Platão, até que um dia o próprio Platão apareceu a ele dizendo: "Ó homem, pára de me amaldiçoar, pois assim fazes mal apenas a ti mesmo. Não nego que era um pecador, mas, quando o Cristo desceu ao inferno, ninguém acreditou nEle antes do que eu".
Pe. Andrew Louth, Greek East and Latin West: The Church AD 681-1071, p. 320-321
O afresco acima é do Mosteiro Sucevita, Romênia, e representa Platão ao lado de outros onze filósofos pagãos que, juntos, rodeiam Jessé em alusão à "Árvore de Jessé", ou seja, a todos aqueles que profetizaram ou anteciparam a Encarnação de Jesus Cristo: Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará (Isaías 11:1). O texto de Platão parece ser uma variação de um texto semelhante encontrado em um prato de ouro no interior de um caixão (do próprio Platão, segundo a tradição), aberto em Constantinopla nos tempos de Constantino e Helena. Esta história foi contada, por exemplo, por Tomás de Aquino e Paulo Diácono, segundo Brian Rowlands. O pergaminho diz o seguinte: "Cristo nascerá de Maria Mãe de Deus, e eu creio nEle. Ó Sol, nos tempos de Constatino e Helena, Tu me verás novamente".