(1) O objetivo principal do livro é explicar por que há uma divisão civilizacional entre Europa Ocidental e Europa Oriental. Essa divisão existe porque (a) há uma doutrina fundamentalmente distinta acerca de Deus entre essas "duas Europas", e (b) mais especificamente, há um entendimento distinto acerca da Trindade cristã.
(2) O Ocidente não conseguiu lidar com a pluralidade dentro da Trindade a não ser mediante uma "oposição dialética moral binária". O Ocidente não tolera uma multiplicidade de bens no Bem e, por conseguinte, reduz as categorias essenciais divinas a uma série de equivalências mútuas.
Quando todos os atributos divinos são forçosamente levados a se equivalerem por uma conclusão silogística (por exemplo, quando presciência e predestinação são considerados equivalentes), esses atributos (ou "categorias") não são considerados realmente distintos. Ou seja, a distinção não é "real", mas apenas "mental". Eis, claro, o nominalismo e, concomitantemente, o niilismo.
A única maneira que o Ocidente consegue sustentar a distinção entre as Três Pessoas é reduzi-las a uma oposição mútua. O Pai não é o Filho nem o Espírito etc.
A partir daí surge uma cultura filosófica que reduz as distinções a mútuas oposições. Por exemplo, predestinação vs. livre arbítrio, fé vs. obras, Bíblia vs. tradição etc.
A oposição se torna o método central para a resolução de problemas e conflitos.
O caso do bolshevismo/marxismo, derivado da lógica hegeliana tese-antítese-síntese, é um dos exemplos da reedição da resolução trinitária ocidental Pai vs. Filho vs. Espírito Santo.
Outro exemplo é o governo bizantino, exercido ao modo de symphonia, ou seja, ao modo de certa tensão constante entre o poder temporal (o imperador) e o poder espiritual (o patriarca). No Ocidente, este modelo foi "resolvido" concentrando todo o poder, temporal e espiritual, nas mãos do papa. Nota-se aí a intolerância para com a multiplicidade.
O caso mais importante deste desvirtuamento filosófico é Santo Agostinho. O que ele basicamente fez foi tomar os conceitos desenvolvidos pelos Padres gregos (p.ex. hypostasis), que, embora fizessem uso intenso de conceitos filosóficos, o faziam apenas para tomá-los como ponto de partida "coloquial" para seu desenvolvimento filosófico e teológico cristão (p.ex. hypostasis como pessoalidade, e não "substância"), e despojá-los de seu conteúdo cristão, lançando-os de volta a seus conteúdos filosóficos originalmente abstratos. Neste sentido, Santo Agostinho foi o "primeiro progressista".