13 de dezembro de 2019

O Reino invisível




Velho Testamento

No principio Deus (Yahweh) criou o mundo e o primeiro homem consultando Seu concílio divino (ou assembleia divina), composto por elohim (deuses, habitantes do mundo espiritual). O homem é criado como imagem de Deus, ou seja, não somente com atributos que O refletem (razão, vontade etc.), mas com um status de representante de Deus. Ele quer que sejamos Deus na Terra. O homem foi criado como um ser “um pouco inferior aos elohim”, mas também habita o Éden junto com os elohim.

A Terra, segundo Deus e seu concílio, deveria ser como o Éden. Esta é a missão confiada à humanidade. No entanto, como seres criados com liberdade (livre arbítrio), e não como meros autômatos, as coisas podiam, e deram, errado. Em princípio alguns elohim (deuses) tentaram ajudar, mas quando se encarnaram não conseguiram resistir aos impulsos da carne. Assim foram criados os nephilim, que são gigantes cujos pais são deuses. Para salvar a humanidade destes seres nefastos, não ligados ao elohim Yahweh, Deus decide com Seu concílio enviar um Dilúvio e a salvar Noé e seus próximos, uma vez que são irrepreensíveis por conservar perfeita linhagem com Adão e Eva e, portanto, com Yahweh.

Se dá início ao conflito que durará todo o Velho Testamento, a saber, o conflito entre rebeldes divinos (a “semente de nachshash”) e a humanidade.

A seguinte ação tomada por Deus e o concílio divino foi a dissuasão da Torrre de Babel, o que mostra que o Dilúvio não deu certo, no sentido de que nephilim, ou sua descendência de clãs de gigantes, continuavam a habitar a Terra. Ou o dilúvio não foi global, mas apenas local, ou o método de conceber novos nephilim através de relações sexuais com seres humanos continuou depois do Dilúvio.

A Torre de Babel foi uma tentativa de construir um ziggurat, ou seja, um ponto de contato direto entre os elohim inferiores e a humanidade, o que intensificaria e perpetuaria o governo dos deuses das nações da Torre de Babel em detrimento do governo de Yahweh.

Com a destruição da Torre de Babel, Yahweh mudaria de estratégia. Ele vai travar uma relação de aliança com um povo que ainda não existia: Israel. As demais nações foram colocadas sob a autoridade e adoração de elohim inferiores do concílio divino, ou seja, de deuses inferiores.

Assim que a história do restante do Velho Testamento será Israel vs. as nações deserdadas, Yahweh vs. os deuses das nações. Para auxiliar Seu povo, Yahweh por diversas vezes lhes aparece como dois Yahweh, qual seja, um invisível e no céu, o outro manifesto na Terra em diversas formas, inclusive em forma humana. O Êxodo, assim, assume os contornos de uma “nova criação”.

A aliança feita por Yahweh no Sinai é de que Israel deveria ser santa e cumprir o propósito edênico original de expandir o reinado de Yahweh por todas as nações. Moisés pede permissão aos filhos de Lot e Esaú, que já ocupavam parte da Transjordânia, para passar por suas terras a fim de destruir a última área que ainda estava sob domínio dos nephilim: Bashan, as “portas do inferno”, onde também se localiza o Monte Hermón. A coexistência com os nephilim e seus clãs de gigantes era impossível: eles não são da linhagem de Yahweh e não podem ser tolerados.

No entanto, a apostasia de Seu povo (Israel) impeliu a Yahweh a mudar Sua estratégia. Ele não podia continuar dependendo da humanidade para cumprir Sua vontade edênica. Ele teria que tornar-Se homem e habitar o coração de Seus filhos. Habitar um tabernáculo ou um templo não era suficiente. No entanto, no Velho Testamento este plano messiânico não estava claro. Se as forças das trevas soubessem do plano messiânico jamais teriam matado a Jesus Cristo. Tão secreto era o plano que nem mesmo os anjos o conheciam.

Novo Testamento

O chamado de São João Batista é um indício claro que de o concílio divino se reuniu novamente, decidindo lançar o reino de Deus através do segundo Yahweh, dessa vez encarnado. Um novo Êxodo se inicia, mas a missão deste Filho de Deus é levar o reino de Deus não somente ao povo de Israel, mas aos povos sob domínio dos deuses das nações, dos elohim inferiores da Torre de Babel.

A jornada de Jesus Cristo no deserto é uma demonstração clara da “guerra santa” que seria travada. Satanás, ao tentar-Lo a receber as nações deserdadas, presumia que tinha poder e autoridade sobre algo que, em última instância, não é seu, mas de Yahweh. A mensagem foi clara: Yahweh vai reaver as nações que, originalmente, são Suas.

A partir daí, Yahweh encarnado escolhe seus primeiros discípulos e, curiosamente, pela primeira vez na Bíblia, se tem notícia de um demônio sendo expulso (Marcos 1:16-28). Em seguida, Cristo escolhe doze discípulos, em relação direta às doze tribos de Israel, e envia setenta discípulos, em relação direta às setenta nações deserdadas mencionadas em Gênesis 10.

Em Cesareia de Filipe, no trecho mencionado em Mateus 16:13-20, Jesus Cristo menciona uma “pedra”, ou seja, precisamente a montanha na qual estava ele localizado. Trata-se, novamente, do Monte Heróm, uma clara indicação de que os deuses das nações é que estavam sob ameaça. Muitos acreditam que o Monte da Transfiguração, no qual Cristo revelou a São Pedro, Tiago e João, exatamente quem Ele era: a essência de Yahweh encarnado, é o Monte Heróm, e não o Monte Tabor. O inimigo sabe quem é Jesus Cristo, mas não sabe qual é Seu plano.

Conta-se que Jesus Cristo, no momento de sua agonia e morte, estava cercado pelos “touros de Bashan”. Ora, são nada mais nada menos que os elohim demoníacos, os inimigos de Yahweh e seus filhos nos últimos milênios.

O Apóstolo Paulo queria muito ir à Espanha (Tarshish) porque ele via seu ministério como o cumprimento da profecia de Isaías 66. Ele precisava da Espanha para que “seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo” (Romanos 15:16).

Mas como Deus pode fazer um gentio tornar-se um membro pleno de Sua família? É sua obra na Cruz que faz com que os exilados e deserdados se encontrem e formem uma nova entidade. Somos irmãos de Cristo, e cada um de nós estará com Ele no concílio dos elohim, a Seu lado. A missão de transpor o Céu e a Terra, de administrar o mundo de Deus, continua sendo de Sua família humana, e não de Sua família divina. Mas para isso Deus quer elevar a humanidade, criada um pouco inferior aos elohim, e incluir-la em Sua família para que a partir daí tome conta da Terra.

Para tornar-se membro desta família divina é necessário tornar-se divino. É o que se chama de theosis. Você é um espaço sagrado, você é um templo de Deus, tanto individualmente como corporealmente. O batismo é apenas uma declaração de lealdade ao Salvador ressuscitado, não é em si garantia de glorificação.

O conflito final ocorrerá em Jerusalém. Har-magedon é Jerusalém. Os exércitos do céu que testemunharão a derrota final do Anticristo e suas hordas é composto por elohim fiéis a Yahweh e por seres humanos divinizados. Chegará o dia em que os homens julgarão até mesmo os anjos.

Assim, o Reino está pronto para a realização completa e total na Terra, sob um concílio de deuses restaurado, em cujos membros se incluem fiéis glorificados. Estes fiéis terão o mesmo corpo que Jesus assumiu após a ressurreição.

Fonte: Michael S. Heiser, The Unseen Realm, Lexham Press, Bellingham, WA, EUA, 2015.

Imagem: Concílio de deuses antes do Dilúvio. Virgil Solis para o Livro I da Metamorfose de Ovídio, 162-208. Fol. 4v, imagem 7.