Esta é a segunda parte da série Fé e Ciência, do podcast de Clark Carlton. A primeira parte está aqui.
Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã. Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra (Isaías 1:18-19).
Olá. E bem-vindos de volta ao programa Faith and Philosophy (Fé e Filosofia). O tema de hoje é Deus e Ciência, parte 2: “A evolução é um fato?”
O tema de hoje é uma continuação da semana passada, e admito, de saída, que é um tema polêmico. Eu não vou aqui examinar as evidências pró e contra a evolução. Ou seja, eu não estarei preocupado com a questão “A seleção natural explica de maneira satisfatória o surgimento da vida humana na terra?” A propósito, eu duvido que ela explique, mas não é disso que me ocuparei aqui.
A pergunta que quero responder é “A evolução é um fato?” A palavra-chave é fato. Acho essa questão importante porque é algo que a gente sempre ouve por aí. Nos debates públicos sobre Design Inteligente ou “ciência” criacionista – e eu já mostrei, na semana passada, que ciência criacionista não é ciência – ouvimos professores afirmando que “A evolução é um fato”. Quem quer que se atreva a negar isso será tachado de ignorante, de bronco anticientífico.
Às vezes, quando alguém sugere que há alguma coisa mal explicada na seleção natural, ouve-se a seguinte resposta: “Mesmo que não conheçamos o mecanismo por completo, mesmo assim, a evolução é um fato”.
Será? A resposta curta para essa pergunta é “não”. Na verdade, a afirmação de que a evolução é um fato oculta um desprezo gigantesco pela maneira correta de usar a palavra. E mais, o abuso de linguagem denuncia um comprometimento fundamental com o que chamamos, semana passada, de materialismo enquanto pressuposição metafísica.
Vocês se lembram que fiz uma distinção entre materialismo enquanto suposição metodológica e materialismo enquanto suposição metafísica. A ciência é materialista; ela estuda o mundo material à sua maneira e tenta, sempre que possível, fornecer explicações de âmbito material. Por outro lado, o materialismo metafísico é uma suposição a priori de que a matéria é tudo o que existe no mundo.
Também disse, semana passada, que a ciência, estando confinada ao mundo material, pode responder a pergunta “como?” mas não a pergunta “por que?”, em última instância. A pergunta “Por que estamos aqui?” situa-se fora do escopo da investigação científica. É uma pergunta que a ciência não deveria nem mesmo formular, muito menos responder.
No entanto, a questão se a vida na terra evoluiu de uma sopa primordial de elementos situa-se, sim, no escopo da ciência. É uma questão legítima. Mas o fato de ser legítima não significa que ela possa ser respondida definitivamente.
Vamos começar do começo. O elemento central de quase todas as definições da palavra “fato” é a inegabilidade. Um fato é algo que nenhuma pessoa sã pode negar.
Ora, imaginem que estejamos trabalhando numa escavação arqueológica e que descubramos alguns fósseis – vamos chamá-los de grupo fóssil A – numa determinada profundidade que chamaremos de camada 4. A descoberta do grupo A na camada 4 é um fato. É claro que alguém do outro lado do mundo poderia negar tal descoberta, mas, pelo menos para as pessoas que descobriram os fósseis, trata-se de um fato, não importa o que os outros pensem.
Imagine agora que encontramos outra série de fósseis – o grupo B – numa camada mais profunda, que chamaremos de camada 9. Isso também é um fato. Porém, nenhum desses fatos, em si e por si, são interessantes.
Todavia, com base no que sabemos sobre o solo e as camadas rochosas, concluímos que o grupo B é mais antigo que o grupo A, porque foi encontrado num nível mais profundo. Isto é um fato? Propriamente falando, não; é uma inferência. Mas poderia ser uma inferência tão bem embasada que nenhuma pessoa séria se atreveria a negá-la. Nesse caso, muitas pessoas concordariam em chamar tal inferência de “fato”.
Mas note que, nesse caso, estamos usando a palavra “fato” de maneira coloquial. Há uma grande diferença entre dizer “encontramos o grupo B na camada 9” e “o grupo B é mais antigo que o grupo A”. A primeira afirmação é confirmada pela observação direta; a segunda é produto de inferência, mesmo que seja bem embasada.
Sigamos em frente. Com base em evidências, podemos inferir uma relação entre o grupo B e o grupo A. Realmente, podemos concluir que o grupo A é resultado de um desenvolvimento evolucionário do animal cujos fósseis estão no grupo B. Além disso, posso imaginar uma situação na qual as evidências disso são tão abundantes que, novamente, nenhuma pessoa em sã consciência a negaria. Isso também seria chamado de “fato”, embora em sentido coloquial.
Mas a gente sabe que quando os cientistas aparecem na TV e proclamam que “a evolução é um fato”, eles não querem dizer que uma determinada espécie evoluiu uma determinada característica com o passar do tempo. Se fosse assim, até eu concordaria com o uso da palavra “fato”.
Mas não é isso que eles querem dizer. Eles querem dizer que toda vida na terra evoluiu até o presente estado a partir de formas simples de vida, e que tudo isso aconteceu por processos puramente naturalistas. Ora, isto pode ou não ser verdade, mas dificilmente poderíamos dizer que se trata de um fato inquestionável. Pelo contrário: trata-se de uma generalização indutiva que, em si, se baseia numa série de inferências que, em si, são derivadas de “fatos”. Em outras palavras, os cientistas concluíram que, para além da dúvida razoável, as espécies mudam com o passar do tempo e se adaptam a seus ambientes – seria absurdo negar isto – e, a partir daí, generalizaram, afirmando que o mesmo mecanismo se aplica a todas as vidas do planeta.
Ora, até mesmo quem acredita nisso deveria admitir que se trata de uma generalização bastante ambiciosa. Além do mais, pessoas razoáveis podem e, na verdade, discordam se tal generalização é um “fato”. A evolução, nesse sentido, simplesmente não pode ser chamada de fato por quem quer que entenda o que essa palavra realmente signifique.
Agora, preciso dizer algumas coisas sobre a “seleção natural”. Ela também não é um “fato”; é uma hipótese. A seleção natural seria o mecanismo pelo qual a evolução ocorreria. E, que fique claro, trata-se de uma hipótese bastante útil, que explica um grande número de “fatos” observados. Por outro lado, há outros fatos que não são facilmente explicados pela seleção natural.
Isto é importante porque para inferir que há uma relação evolucionária entre dois grupos fósseis, é necessário fornecer uma explicação plausível para que tal desenvolvimento tenha ocorrido. Ausente tal mecanismo, há pouca razão para inferirmos uma relação evolucionária.
É por isso que eu fico irritado quando ouço alguém dizendo: “Podemos não saber exatamente como a evolução ocorre, mas que ela ocorre é um fato”. Ora, isso é um absurdo. Explicar como as coisas acontecem é o papel da ciência. Insistir numa relação entre dois fatos, mesmo que não haja uma explicação materialista para como eles se relacionam, não é nada melhor do que invocar fadas e duendes para explicá-los. E nós é que somos acusados de usar “Deus” para preencher as falhas de nosso conhecimento.
Tudo isso nos leva de volta aonde começamos. Por que os cientistas que, afinal, são pessoas racionais, insistem em fazer afirmações absurdas? A resposta é que muitos deles estão comprometidos com o materialismo, não enquanto pressuposição metodológica, mas enquanto artigo de fé metafísico. Para muitos deles, o cientificismo, e seu dogma principal, o evolucionismo, é um culto religioso.
No final das contas, não faço a menor idéia se os humanos foram criados como são ou se são produto de desenvolvimento de formas pré-humanas. Mas o que eu sei é que as evidências para tal desenvolvimento estão muito longe de serem conclusivas. E sei também que aqueles que insistem nessa idéia estão partindo de pressuposições metafísicas que são totalmente diferentes das nossas, e que freqüentemente promovem visões políticas e sociais que também são totalmente diferentes da nossa visão ortodoxa.
A ciência não está em conflito com nossa fé ortodoxa. Não temos nada a temer da investigação científica honesta. O cientificismo, por outro lado, é uma religião competidora. E temos de estar alertas para isso.
E que nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, que criou o universo sem os palpites de Carl Sagan ou Stephen J. Gould, pelas intercessões de Santo Inocêncio do Alaska e do abençoado Ancião Sofrônio Sakharov, tenha piedade de nós e conceda-nos uma entrada rica em Seu reino eterno.
Meu nome é Clark Carlton, falando para a Ancient Faith Radio.
Olá. E bem-vindos de volta ao programa Faith and Philosophy (Fé e Filosofia). O tema de hoje é Deus e Ciência, parte 2: “A evolução é um fato?”
O tema de hoje é uma continuação da semana passada, e admito, de saída, que é um tema polêmico. Eu não vou aqui examinar as evidências pró e contra a evolução. Ou seja, eu não estarei preocupado com a questão “A seleção natural explica de maneira satisfatória o surgimento da vida humana na terra?” A propósito, eu duvido que ela explique, mas não é disso que me ocuparei aqui.
A pergunta que quero responder é “A evolução é um fato?” A palavra-chave é fato. Acho essa questão importante porque é algo que a gente sempre ouve por aí. Nos debates públicos sobre Design Inteligente ou “ciência” criacionista – e eu já mostrei, na semana passada, que ciência criacionista não é ciência – ouvimos professores afirmando que “A evolução é um fato”. Quem quer que se atreva a negar isso será tachado de ignorante, de bronco anticientífico.
Às vezes, quando alguém sugere que há alguma coisa mal explicada na seleção natural, ouve-se a seguinte resposta: “Mesmo que não conheçamos o mecanismo por completo, mesmo assim, a evolução é um fato”.
Será? A resposta curta para essa pergunta é “não”. Na verdade, a afirmação de que a evolução é um fato oculta um desprezo gigantesco pela maneira correta de usar a palavra. E mais, o abuso de linguagem denuncia um comprometimento fundamental com o que chamamos, semana passada, de materialismo enquanto pressuposição metafísica.
Vocês se lembram que fiz uma distinção entre materialismo enquanto suposição metodológica e materialismo enquanto suposição metafísica. A ciência é materialista; ela estuda o mundo material à sua maneira e tenta, sempre que possível, fornecer explicações de âmbito material. Por outro lado, o materialismo metafísico é uma suposição a priori de que a matéria é tudo o que existe no mundo.
Também disse, semana passada, que a ciência, estando confinada ao mundo material, pode responder a pergunta “como?” mas não a pergunta “por que?”, em última instância. A pergunta “Por que estamos aqui?” situa-se fora do escopo da investigação científica. É uma pergunta que a ciência não deveria nem mesmo formular, muito menos responder.
No entanto, a questão se a vida na terra evoluiu de uma sopa primordial de elementos situa-se, sim, no escopo da ciência. É uma questão legítima. Mas o fato de ser legítima não significa que ela possa ser respondida definitivamente.
Vamos começar do começo. O elemento central de quase todas as definições da palavra “fato” é a inegabilidade. Um fato é algo que nenhuma pessoa sã pode negar.
Ora, imaginem que estejamos trabalhando numa escavação arqueológica e que descubramos alguns fósseis – vamos chamá-los de grupo fóssil A – numa determinada profundidade que chamaremos de camada 4. A descoberta do grupo A na camada 4 é um fato. É claro que alguém do outro lado do mundo poderia negar tal descoberta, mas, pelo menos para as pessoas que descobriram os fósseis, trata-se de um fato, não importa o que os outros pensem.
Imagine agora que encontramos outra série de fósseis – o grupo B – numa camada mais profunda, que chamaremos de camada 9. Isso também é um fato. Porém, nenhum desses fatos, em si e por si, são interessantes.
Todavia, com base no que sabemos sobre o solo e as camadas rochosas, concluímos que o grupo B é mais antigo que o grupo A, porque foi encontrado num nível mais profundo. Isto é um fato? Propriamente falando, não; é uma inferência. Mas poderia ser uma inferência tão bem embasada que nenhuma pessoa séria se atreveria a negá-la. Nesse caso, muitas pessoas concordariam em chamar tal inferência de “fato”.
Mas note que, nesse caso, estamos usando a palavra “fato” de maneira coloquial. Há uma grande diferença entre dizer “encontramos o grupo B na camada 9” e “o grupo B é mais antigo que o grupo A”. A primeira afirmação é confirmada pela observação direta; a segunda é produto de inferência, mesmo que seja bem embasada.
Sigamos em frente. Com base em evidências, podemos inferir uma relação entre o grupo B e o grupo A. Realmente, podemos concluir que o grupo A é resultado de um desenvolvimento evolucionário do animal cujos fósseis estão no grupo B. Além disso, posso imaginar uma situação na qual as evidências disso são tão abundantes que, novamente, nenhuma pessoa em sã consciência a negaria. Isso também seria chamado de “fato”, embora em sentido coloquial.
Mas a gente sabe que quando os cientistas aparecem na TV e proclamam que “a evolução é um fato”, eles não querem dizer que uma determinada espécie evoluiu uma determinada característica com o passar do tempo. Se fosse assim, até eu concordaria com o uso da palavra “fato”.
Mas não é isso que eles querem dizer. Eles querem dizer que toda vida na terra evoluiu até o presente estado a partir de formas simples de vida, e que tudo isso aconteceu por processos puramente naturalistas. Ora, isto pode ou não ser verdade, mas dificilmente poderíamos dizer que se trata de um fato inquestionável. Pelo contrário: trata-se de uma generalização indutiva que, em si, se baseia numa série de inferências que, em si, são derivadas de “fatos”. Em outras palavras, os cientistas concluíram que, para além da dúvida razoável, as espécies mudam com o passar do tempo e se adaptam a seus ambientes – seria absurdo negar isto – e, a partir daí, generalizaram, afirmando que o mesmo mecanismo se aplica a todas as vidas do planeta.
Ora, até mesmo quem acredita nisso deveria admitir que se trata de uma generalização bastante ambiciosa. Além do mais, pessoas razoáveis podem e, na verdade, discordam se tal generalização é um “fato”. A evolução, nesse sentido, simplesmente não pode ser chamada de fato por quem quer que entenda o que essa palavra realmente signifique.
Agora, preciso dizer algumas coisas sobre a “seleção natural”. Ela também não é um “fato”; é uma hipótese. A seleção natural seria o mecanismo pelo qual a evolução ocorreria. E, que fique claro, trata-se de uma hipótese bastante útil, que explica um grande número de “fatos” observados. Por outro lado, há outros fatos que não são facilmente explicados pela seleção natural.
Isto é importante porque para inferir que há uma relação evolucionária entre dois grupos fósseis, é necessário fornecer uma explicação plausível para que tal desenvolvimento tenha ocorrido. Ausente tal mecanismo, há pouca razão para inferirmos uma relação evolucionária.
É por isso que eu fico irritado quando ouço alguém dizendo: “Podemos não saber exatamente como a evolução ocorre, mas que ela ocorre é um fato”. Ora, isso é um absurdo. Explicar como as coisas acontecem é o papel da ciência. Insistir numa relação entre dois fatos, mesmo que não haja uma explicação materialista para como eles se relacionam, não é nada melhor do que invocar fadas e duendes para explicá-los. E nós é que somos acusados de usar “Deus” para preencher as falhas de nosso conhecimento.
Tudo isso nos leva de volta aonde começamos. Por que os cientistas que, afinal, são pessoas racionais, insistem em fazer afirmações absurdas? A resposta é que muitos deles estão comprometidos com o materialismo, não enquanto pressuposição metodológica, mas enquanto artigo de fé metafísico. Para muitos deles, o cientificismo, e seu dogma principal, o evolucionismo, é um culto religioso.
No final das contas, não faço a menor idéia se os humanos foram criados como são ou se são produto de desenvolvimento de formas pré-humanas. Mas o que eu sei é que as evidências para tal desenvolvimento estão muito longe de serem conclusivas. E sei também que aqueles que insistem nessa idéia estão partindo de pressuposições metafísicas que são totalmente diferentes das nossas, e que freqüentemente promovem visões políticas e sociais que também são totalmente diferentes da nossa visão ortodoxa.
A ciência não está em conflito com nossa fé ortodoxa. Não temos nada a temer da investigação científica honesta. O cientificismo, por outro lado, é uma religião competidora. E temos de estar alertas para isso.
E que nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, que criou o universo sem os palpites de Carl Sagan ou Stephen J. Gould, pelas intercessões de Santo Inocêncio do Alaska e do abençoado Ancião Sofrônio Sakharov, tenha piedade de nós e conceda-nos uma entrada rica em Seu reino eterno.
Meu nome é Clark Carlton, falando para a Ancient Faith Radio.