Frederica Mathewes-Green é relativamente famosa nos EUA. Ex-evangélica, convertida à Ortodoxia juntamente com seu marido, o Pe. Gregory Mathewes-Green, Frederica tem seus artigos publicados em diversos jornais e revistas americanos, e chegou a ser crítica de cinema para a National Review Online.
Seus pontos de vista nem sempre apreentam aquele frescor da Ortodoxia da qual falava o Pe. Serafim Rose. Muitas vezes, vêm acompanhados de cacoetes e raciocínios tipicamente ocidentais - frutos talvez de contaminação sofrida pelo seu passado evangélico - e faltam aos seus podcasts um tom mais sério. Mas valem a pena ser lidos e ouvidos assim mesmo.
O artigo abaixo, por exemplo, contém muitas verdades. O Cristianismo Ocidental, de fato, apresenta um grau de efeminação do qual eu não havia tomado ciência até então.
* * *
POR QUE OS HOMENS GOSTAM DA IGREJA ORTODOXA
por Frederica Mathewes-Green
Nesses tempos em que as igrejas sofrem da Síndrome dos Machos Ausentes, os homens comparecem às igrejas ortodoxas em quantidades que, se não são numericamente impressionantes, são ao menos proporcionalmente intrigantes. Talvez esta seja a única igreja que atraia homens na mesma quantidade que mulheres. Conforme observou Leon Podles em seu livro The Church Impotent: The Feminization of Christianity (A Igreja Impotente: a Efeminação do Cristianismo): “Os ortodoxos são os únicos cristãos que compõe, ou precisam compor, música litúrgica em basso profundo”.
Em vez de tentar descobrir o porquê disso, enviei emails a cem homens ortodoxos, a maioria dos quais entrou na Igreja já adultos. O que eles acham que torna esta igreja em particular atrativa aos homens? Suas respostas, que relato abaixo, podem dar algumas dicas aos líderes das demais igrejas, que tentam segurar os rapazes nos bancos.
Desafios. A palavra mais citada pelos homens é “desafio”. A Ortodoxia é “ativa, e não passiva”. “É a única igreja onde você tem que se adaptar a ela, e não ela se adaptar a você”. “Quanto mais tempo nela, mais a gente percebe como ela é exigente”.
A “postura austera dos ritos ortodoxos” é parte do apelo. Os dias de jejum de carne e derivados de leite, “ficar de pé por horas a fio, fazer prostrações, ficar sem comer e beber [antes da comunhão]...Quando chegamos ao fim, a gente fica com a impressão de que cumpriu um desafio”. “A Ortodoxia apela ao desejo do homem de se auto-educar pela disciplina”.
“Na Ortodoxia, a questão da luta espiritual está por toda parte; santos, inclusive santas, são guerreiros. Luta requer coragem, fortaleza e heroísmo. Somos chamados a sermos ‘lutadores’ contra o pecado, a sermos ‘atletas’, conforme disse São Paulo. E é dado um prêmio ao vitorioso. O fato de que você tem que ‘lutar’ durante a liturgia ficando de pé, em si, é um desafio que os homens estão dispostos a assumir”.
Um recém-convertido resumiu assim: “A Ortodoxia é séria. É difícil. É exigente. Ela tem a ver com misericórdia, mas também com superar-se a si próprio. Sou desafiado de maneira profunda, a ‘não me sentir bem comigo mesmo’, a me tornar santo. É rigorosa, e nesse rigor é que encontro libertação. E, sabe, minha esposa também”.
Regras claras. Muitos mencionaram o fato de que apreciam a clareza de conteúdo desses desafios, ou seja, o que eles são supostos a fazer. “A maioria dos homens se sentem mais confortáveis quando sabem o que é esperado deles”. “A Ortodoxia tem limites claros”. “É mais fácil aos homens se expressarem em adoração quando há regras sobre como as coisas funcionam – especialmente quando essas regras são tão simples e funcionais que a gente simplesmente pode começar a praticá-las desde já”.
“As orações da Igreja – as orações da manhã, da noite, antes e depois das refeições etc. – dão aos homens uma maneira de adentrar à espiritualidade sem que se sentam sob holofotes ou sem que se preocupem se estão parecendo estúpidos por não saberem o que falar”.
Eles apreciam as posturas físicas bem definidas que formarão o caráter e o entendimento. “As pessoas já começam a aprender os rituais e o simbolismo, por exemplo, fazendo o sinal da Cruz. O sistema disciplinar torna a pessoa ciente de sua relação com a Trindade, com a Igreja e com todos que encontra”.
Objetivo. Os homens apreciam o fato de que tal desafio tem um objetivo: a união com Deus. Eis o que uma pessoa disse a respeito de sua igreja anterior: “Eu sentia que não estava indo a lugar algum na minha vida espiritual (se é que tinha algum lugar a chegar – eu já estava lá, não é mesmo?). Mas algo, vai saber o quê, estava faltando. Será que não tem NADA que eu deveria estar fazendo, Senhor?”
A Ortodoxia preserva e transmite a antiga sabedoria cristã sobre como progredir a essa união, chamada de theosis. Cada sacramento, cada exercício espiritual, é feito para levar a pessoa – corpo e alma – adiante nessa contínua consciência da presença interna de Cristo, assim como em todos os seres humanos. Assim como um tecido fica saturado de tinta por osmose, ficamos saturados de Deus por theosis.
Um catecúmeno disse que acha os ícones úteis para resistir a pensamentos indesejados. “Se você fechar os olhos às tentações visuais, há várias imagens na memória que podem lhe causar problemas. Mas se a gente se cercar de ícones, então você terá a chance de olhar para algo tentador ou para algo santo”.
Um padre disse: “Os homens precisam de desafio, de objetivo, uma aventura talvez – em termos primitivos, uma caçada. O Cristianismo Ocidental perdeu o aspecto ascético, isto é, o aspecto atlético da vida cristã. Este é o propósito do monasticismo, que surgiu no Egito em grande parte como um movimento masculino. As mulheres também entraram na vida monástica, e nossos antigos hinos falam de mulheres mártires mostrando ‘coragem masculina’”.
“A Ortodoxia enfatiza o FAZER… Os homens são orientados a AÇÃO”.
Ausência de sentimentalismos. No livro Church Impotent acima citado (e recomendado por vários dos homens que consultei), Leon Podles apresenta sua teoria sobre como a piedade, no Cristianismo Ocidental, se efeminou. Nos séculos XII e XIII surgiu uma tendência particularmente frágil, até mesmo erótica, de devoção, segundo a qual o fiel deveria retratar a si próprio (ao invés da Igreja) como Noiva de Cristo. O “Misticismo de Noivado” foi entusiasticamente adotado por mulheres devotas, e deixou uma marca profunda no Cristianismo Ocidental. É compreensível que tenha menos apelo aos homens. No Ocidente, por séculos, os homens que escolhem o ministério têm sido estereotipados como sujeitos efeminados. Um fiel, ortodoxo de longa data, afirmou que, de fato, parece que o Cristianismo Ocidental é uma “história de amor escrita por mulheres para mulheres”.
A Igreja Oriental escapou desse Misticismo de Noivado porque o grande cisma entre Oriente e Ocidente já tinha acontecido. Os homens que consultei expressaram um profundo desgosto por esse frágil e gentil Jesus ocidental. “O Cristianismo americano, nos últimos dois séculos, tem se efeminado. Ele apresenta Jesus como um amigo, um namorado, alguém que ‘anda comigo e fala comigo’. Trata-se de uma imagem encantadora às mulheres, que necessitam de vida social. Ou aquela que retrata Jesus chicoteado, morto na cruz. Nenhuma delas é o modelo de Cristo que os homens típicos se identificam”.
Durante a Liturgia, “os homens não querem rezar à moda ocidental, com as mãozinhas abraçadas uma a outra, lábios apertados e expressão facial de serenidade forçada”. “É um tal de homem dando a mão para homem e cantando musiquetas de acampamento”. “Estrofes sobre ‘estender a mão para receber Seu abraço’, ‘querer tocar Sua face’, enquanto estiver sendo ‘inundado pelo poder de Seu amor’ – são canções difíceis para um homem cantar a outro Homem”.
“Um amigo meu me disse que a primeira coisa que ele observa quando entra numa igreja são as cortinas. Isto lhe mostra quem está dando as ordens naquela igreja, e que tipo de cristão quer atrair”.
“Os homens querem ser desafiados a lutar por uma causa gloriosa e honorável, e se sujarem no caminho, ou se jogar no sofá com muita cerveja, pizza e futebol. Mas a maioria de nossas igrejas quer que nos comportemos como cavalheiros, mantendo nossas mãos e bocas bonitas e limpas”.
Um dos homens me disse que os cultos em sua igreja pentecostal eram “meras experiências emotivas. Sentimentos. Lágrimas. Repetidas dedicações de sua vida a Cristo, em grandes e emotivos encontros. Cantar músicas emotivas, levantando e balançando as mãos. Até mesmo a leitura das Escrituras é feita para produzir experiências emotivas. Eu sou um homem prático, eu quero fazer as coisas, e não sair por aí falando e se emocionando com as coisas! Como homem de negócios, sei que nada acontece sem esforço, energia e investimento. Por que na vida espiritual seria diferente?
Uma pessoa que visitou diversas igrejas católicas me disse: “Elas eram convencionais, fáceis e modernas, enquanto eu e minha esposa procurávamos algo tradicional, difícil e contracultural, algo antigo e marcial”. Um catecúmeno me disse que em sua igreja não-denominacional o “[c]ulto era raso, casual, remendado com o que houvesse de mais atual; às vezes a gente sentava, às vezes ficava de pé, sem muito ritmo ou razão. Fiquei pensando como a tradição seria de grande ajuda nisso tudo”.
“Fiquei furioso na última quarta-feira de cinzas, quando o padre proferiu uma homilia dizendo que o verdadeiro significado da Quaresma é aprender a amarmos a nós mesmos. Isto me forçou a perceber que eu estava de saco cheio desse Cristianismo americano burguês”.
Um padre convertido disse que os homens são atraídos pelos elementos perigosos da Ortodoxia, que envolvem “a abnegação de um guerreiro, o risco aterrorizante de amar seus inimigos, as fronteiras desconhecidas para as quais a humildade nos chama. Elimine qualquer uma dessas qualidades e nos tornaremos uma fabriqueta de igrejas: cores bonitas e clientela empanada”.
“Os homens podem se tornar altamente cínicos quando percebem que alguém está tentando manipular suas emoções, especialmente em nome da religião. Eles apreciam a objetividade da adoração ortodoxa. Ela não é destinada a despertar emoções religiosas mas a desempenhar um dever objetivo”.
Apesar disso, há algo na Ortodoxia que oferece “um profundo romance masculino. Você sabe do que estou falando? A maioria dos nossos romances é rosa, mas este romance é feito de espadas e heroísmo”.
De um diácono: “As igrejas evangélicas chamam os homens a serem passivos e bonzinhos. As igrejas ortodoxas chamam os homens a serem corajosos e atuantes”.
Jesus Cristo. O que traz os homens à Ortodoxia não é apenas o desafio ou o mistério. O que os traz é o Senhor Jesus Cristo. Ele é o centro de tudo o que a Igreja faz ou diz.
Diferentemente das outras igrejas, “a Ortodoxia apresenta um Jesus robusto” (e até mesmo uma Virgem Maria robusta que, a propósito, é honrada em um hino como sendo “nossa Capitã, Rainha da Guerra”). Muitos utilizaram o termo “marcial” ou se referiram à Ortodoxia como os “fuzileiros navais” do Cristianismo. (A guerra é contra o pecado autodestrutivo e as potestades celestiais invisíveis, e não contra as pessoas, claro).
Contrastou-se essa qualidade “robusta” com o “retrato efeminado de Jesus com o qual eu fui criado. Nunca tive um amigo que não se esforçasse muito para evitar encontrar gente que fosse assim”. Embora atraído por Jesus Cristo quando adolescente, “sentia-me envergonhado dessa atração, como se fosse algo que um homem de verdade não levaria a sério, algo semelhante a brincar de boneca”.
Um padre disse: “Cristo, na Ortodoxia, é um militante, um Jesus forte, que toma o inferno como cativo. O Jesus ortodoxo lança fogo sobre a terra. No Santo Batismo, rezamos para que os recém-alistados combatentes de Cristo, homens e mulheres, possam “manter-se sempre combatentes invencíveis”.
Após anos na Ortodoxia, um homem achou os cânticos de Natal de uma igreja protestante “chocantes, até mesmo pavorosos”. Comparados aos hinos natalinos da Ortodoxia, “o pequeno Senhor Jesus adormecido sobre o feno não tem quase nada a ver com o Logos eterno que entra de maneira inexorável, silenciosa e heróica no tecido da realidade criada”.
Continuidade. Diversos ortodoxos intelectualmente convertidos começaram lendo a história da Igreja e os escritos dos primeiros cristãos. Com o tempo, eles tiveram de encarar a questão sobre qual das duas igrejas mais antigas, a Católica Romana ou a Ortodoxa, era a mais convincente quanto a ser a Igreja original dos Apóstolos.
Um ortodoxo de longa data afirmou que os homens gostam de “estabilidade: os homens podem confiar na Igreja Ortodoxa por causa da consistente e contínua tradição da fé, que se mantém pelos séculos”. Um convertido afirmou: “A Igreja Ortodoxa oferece o que as outras são incapazes: continuidade com os primeiros seguidores de Cristo”. Isto é continuidade, e não arqueologia; a igreja primitiva ainda existe e você pode fazer parte dela.
“O que me atraiu foi a promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevaleceriam sobre a Igreja – e a união ortodoxa de fé, adoração e doutrina com a devida continuidade histórica”.
Um sinônimo de continuidade é “tradição”. Um catecúmeno me disse que tentou aprender tudo o que fosse necessário para interpretar as Escrituras, inclusive línguas antigas. “Eu queria cavar fundo, até as fundações, e confirmar tudo o que haviam me ensinado. Ao invés disso, quando mais em descia, tanto mais fraco tudo o que aprendi parecia ser. Percebi que, na verdade, eu apenas havia aprendido a manipular a Bíblia de maneira que eu pudesse sustentar qualquer coisa que eu pensasse. O único antídoto para o cinismo era a tradição. Se a Bíblia quisesse dizer alguma coisa, tinha que ser dentro de uma comunidade, com uma tradição que guiasse a leitura. Foi na Ortodoxia que encontrei o que procurava”.
Homens equilibrados. Um padre me disse: “Há apenas dois modelos masculinos: ser ‘homem’ e forte, rude, cru, macho e provavelmente abusivo; ou ser sensível, bonzinho, reprimido e fracote. Mas na Ortodoxia, o masculino está unido ao feminino; é realista, ‘nem macho nem fêmea’, mas Cristo que ‘une as coisas no céu e as coisas na terra’”.
Outro padre comentou que, se um dos membros do casal é mais insistente em converter a família à Ortodoxia do que o outro, “quando ambos fazem confissões, com o tempo ambos se aprofundam e nenhum deles se torna tão dominante na relação espiritual”.
Homens na liderança. Goste-se disso ou não, os homens simplesmente preferem ser liderados por homens. Na Ortodoxia, as fiéis fazem tudo o que os fiéis fazem, inclusive pregar, ensinar e liderar a irmandade da paróquia. Mas, por trás do iconostase, em torno do altar, é só para os homens. Uma pessoa resumiu o que os homens gostam na Ortodoxia assim: “Barbas!”
“É o ultimo lugar do mundo onde os homens não são condenados por serem homens”. Em vez de toda aquela negatividade, os homens estão constantemente cercados por modelos positivos nos santos, nos ícones e no ciclo diário de hinos e histórias sobre a vida dos santos. Eis outro elemento concreto que os homens apreciam – há outros seres humanos a serem apreciados, e não apenas nuvens de termos etéreos. “A glória de Deus é um homem plenamente vivo”, disse Santo Irineu. Um respondente acrescentou que “a melhor maneira de atrair um homem à Igreja Ortodoxa é mostrando-lhe um homem ortodoxo”.
Mas nada que seja secundário, não importa o quanto seja bom, pode suplantar o principal. “Uma vida desafiadora não é o objetivo. Cristo é o objetivo. Um espírito livre não é o objetivo. Cristo é o objetivo. Ele é o expoente máximo da história, em torno do qual todos os homens e mulheres eventualmente se ajuntarão, a quem todos se curvarão, e quem toda língua confessará”.
Seus pontos de vista nem sempre apreentam aquele frescor da Ortodoxia da qual falava o Pe. Serafim Rose. Muitas vezes, vêm acompanhados de cacoetes e raciocínios tipicamente ocidentais - frutos talvez de contaminação sofrida pelo seu passado evangélico - e faltam aos seus podcasts um tom mais sério. Mas valem a pena ser lidos e ouvidos assim mesmo.
O artigo abaixo, por exemplo, contém muitas verdades. O Cristianismo Ocidental, de fato, apresenta um grau de efeminação do qual eu não havia tomado ciência até então.
* * *
POR QUE OS HOMENS GOSTAM DA IGREJA ORTODOXA
por Frederica Mathewes-Green
Nesses tempos em que as igrejas sofrem da Síndrome dos Machos Ausentes, os homens comparecem às igrejas ortodoxas em quantidades que, se não são numericamente impressionantes, são ao menos proporcionalmente intrigantes. Talvez esta seja a única igreja que atraia homens na mesma quantidade que mulheres. Conforme observou Leon Podles em seu livro The Church Impotent: The Feminization of Christianity (A Igreja Impotente: a Efeminação do Cristianismo): “Os ortodoxos são os únicos cristãos que compõe, ou precisam compor, música litúrgica em basso profundo”.
Em vez de tentar descobrir o porquê disso, enviei emails a cem homens ortodoxos, a maioria dos quais entrou na Igreja já adultos. O que eles acham que torna esta igreja em particular atrativa aos homens? Suas respostas, que relato abaixo, podem dar algumas dicas aos líderes das demais igrejas, que tentam segurar os rapazes nos bancos.
Desafios. A palavra mais citada pelos homens é “desafio”. A Ortodoxia é “ativa, e não passiva”. “É a única igreja onde você tem que se adaptar a ela, e não ela se adaptar a você”. “Quanto mais tempo nela, mais a gente percebe como ela é exigente”.
A “postura austera dos ritos ortodoxos” é parte do apelo. Os dias de jejum de carne e derivados de leite, “ficar de pé por horas a fio, fazer prostrações, ficar sem comer e beber [antes da comunhão]...Quando chegamos ao fim, a gente fica com a impressão de que cumpriu um desafio”. “A Ortodoxia apela ao desejo do homem de se auto-educar pela disciplina”.
“Na Ortodoxia, a questão da luta espiritual está por toda parte; santos, inclusive santas, são guerreiros. Luta requer coragem, fortaleza e heroísmo. Somos chamados a sermos ‘lutadores’ contra o pecado, a sermos ‘atletas’, conforme disse São Paulo. E é dado um prêmio ao vitorioso. O fato de que você tem que ‘lutar’ durante a liturgia ficando de pé, em si, é um desafio que os homens estão dispostos a assumir”.
Um recém-convertido resumiu assim: “A Ortodoxia é séria. É difícil. É exigente. Ela tem a ver com misericórdia, mas também com superar-se a si próprio. Sou desafiado de maneira profunda, a ‘não me sentir bem comigo mesmo’, a me tornar santo. É rigorosa, e nesse rigor é que encontro libertação. E, sabe, minha esposa também”.
Regras claras. Muitos mencionaram o fato de que apreciam a clareza de conteúdo desses desafios, ou seja, o que eles são supostos a fazer. “A maioria dos homens se sentem mais confortáveis quando sabem o que é esperado deles”. “A Ortodoxia tem limites claros”. “É mais fácil aos homens se expressarem em adoração quando há regras sobre como as coisas funcionam – especialmente quando essas regras são tão simples e funcionais que a gente simplesmente pode começar a praticá-las desde já”.
“As orações da Igreja – as orações da manhã, da noite, antes e depois das refeições etc. – dão aos homens uma maneira de adentrar à espiritualidade sem que se sentam sob holofotes ou sem que se preocupem se estão parecendo estúpidos por não saberem o que falar”.
Eles apreciam as posturas físicas bem definidas que formarão o caráter e o entendimento. “As pessoas já começam a aprender os rituais e o simbolismo, por exemplo, fazendo o sinal da Cruz. O sistema disciplinar torna a pessoa ciente de sua relação com a Trindade, com a Igreja e com todos que encontra”.
Objetivo. Os homens apreciam o fato de que tal desafio tem um objetivo: a união com Deus. Eis o que uma pessoa disse a respeito de sua igreja anterior: “Eu sentia que não estava indo a lugar algum na minha vida espiritual (se é que tinha algum lugar a chegar – eu já estava lá, não é mesmo?). Mas algo, vai saber o quê, estava faltando. Será que não tem NADA que eu deveria estar fazendo, Senhor?”
A Ortodoxia preserva e transmite a antiga sabedoria cristã sobre como progredir a essa união, chamada de theosis. Cada sacramento, cada exercício espiritual, é feito para levar a pessoa – corpo e alma – adiante nessa contínua consciência da presença interna de Cristo, assim como em todos os seres humanos. Assim como um tecido fica saturado de tinta por osmose, ficamos saturados de Deus por theosis.
Um catecúmeno disse que acha os ícones úteis para resistir a pensamentos indesejados. “Se você fechar os olhos às tentações visuais, há várias imagens na memória que podem lhe causar problemas. Mas se a gente se cercar de ícones, então você terá a chance de olhar para algo tentador ou para algo santo”.
Um padre disse: “Os homens precisam de desafio, de objetivo, uma aventura talvez – em termos primitivos, uma caçada. O Cristianismo Ocidental perdeu o aspecto ascético, isto é, o aspecto atlético da vida cristã. Este é o propósito do monasticismo, que surgiu no Egito em grande parte como um movimento masculino. As mulheres também entraram na vida monástica, e nossos antigos hinos falam de mulheres mártires mostrando ‘coragem masculina’”.
“A Ortodoxia enfatiza o FAZER… Os homens são orientados a AÇÃO”.
Ausência de sentimentalismos. No livro Church Impotent acima citado (e recomendado por vários dos homens que consultei), Leon Podles apresenta sua teoria sobre como a piedade, no Cristianismo Ocidental, se efeminou. Nos séculos XII e XIII surgiu uma tendência particularmente frágil, até mesmo erótica, de devoção, segundo a qual o fiel deveria retratar a si próprio (ao invés da Igreja) como Noiva de Cristo. O “Misticismo de Noivado” foi entusiasticamente adotado por mulheres devotas, e deixou uma marca profunda no Cristianismo Ocidental. É compreensível que tenha menos apelo aos homens. No Ocidente, por séculos, os homens que escolhem o ministério têm sido estereotipados como sujeitos efeminados. Um fiel, ortodoxo de longa data, afirmou que, de fato, parece que o Cristianismo Ocidental é uma “história de amor escrita por mulheres para mulheres”.
A Igreja Oriental escapou desse Misticismo de Noivado porque o grande cisma entre Oriente e Ocidente já tinha acontecido. Os homens que consultei expressaram um profundo desgosto por esse frágil e gentil Jesus ocidental. “O Cristianismo americano, nos últimos dois séculos, tem se efeminado. Ele apresenta Jesus como um amigo, um namorado, alguém que ‘anda comigo e fala comigo’. Trata-se de uma imagem encantadora às mulheres, que necessitam de vida social. Ou aquela que retrata Jesus chicoteado, morto na cruz. Nenhuma delas é o modelo de Cristo que os homens típicos se identificam”.
Durante a Liturgia, “os homens não querem rezar à moda ocidental, com as mãozinhas abraçadas uma a outra, lábios apertados e expressão facial de serenidade forçada”. “É um tal de homem dando a mão para homem e cantando musiquetas de acampamento”. “Estrofes sobre ‘estender a mão para receber Seu abraço’, ‘querer tocar Sua face’, enquanto estiver sendo ‘inundado pelo poder de Seu amor’ – são canções difíceis para um homem cantar a outro Homem”.
“Um amigo meu me disse que a primeira coisa que ele observa quando entra numa igreja são as cortinas. Isto lhe mostra quem está dando as ordens naquela igreja, e que tipo de cristão quer atrair”.
“Os homens querem ser desafiados a lutar por uma causa gloriosa e honorável, e se sujarem no caminho, ou se jogar no sofá com muita cerveja, pizza e futebol. Mas a maioria de nossas igrejas quer que nos comportemos como cavalheiros, mantendo nossas mãos e bocas bonitas e limpas”.
Um dos homens me disse que os cultos em sua igreja pentecostal eram “meras experiências emotivas. Sentimentos. Lágrimas. Repetidas dedicações de sua vida a Cristo, em grandes e emotivos encontros. Cantar músicas emotivas, levantando e balançando as mãos. Até mesmo a leitura das Escrituras é feita para produzir experiências emotivas. Eu sou um homem prático, eu quero fazer as coisas, e não sair por aí falando e se emocionando com as coisas! Como homem de negócios, sei que nada acontece sem esforço, energia e investimento. Por que na vida espiritual seria diferente?
Uma pessoa que visitou diversas igrejas católicas me disse: “Elas eram convencionais, fáceis e modernas, enquanto eu e minha esposa procurávamos algo tradicional, difícil e contracultural, algo antigo e marcial”. Um catecúmeno me disse que em sua igreja não-denominacional o “[c]ulto era raso, casual, remendado com o que houvesse de mais atual; às vezes a gente sentava, às vezes ficava de pé, sem muito ritmo ou razão. Fiquei pensando como a tradição seria de grande ajuda nisso tudo”.
“Fiquei furioso na última quarta-feira de cinzas, quando o padre proferiu uma homilia dizendo que o verdadeiro significado da Quaresma é aprender a amarmos a nós mesmos. Isto me forçou a perceber que eu estava de saco cheio desse Cristianismo americano burguês”.
Um padre convertido disse que os homens são atraídos pelos elementos perigosos da Ortodoxia, que envolvem “a abnegação de um guerreiro, o risco aterrorizante de amar seus inimigos, as fronteiras desconhecidas para as quais a humildade nos chama. Elimine qualquer uma dessas qualidades e nos tornaremos uma fabriqueta de igrejas: cores bonitas e clientela empanada”.
“Os homens podem se tornar altamente cínicos quando percebem que alguém está tentando manipular suas emoções, especialmente em nome da religião. Eles apreciam a objetividade da adoração ortodoxa. Ela não é destinada a despertar emoções religiosas mas a desempenhar um dever objetivo”.
Apesar disso, há algo na Ortodoxia que oferece “um profundo romance masculino. Você sabe do que estou falando? A maioria dos nossos romances é rosa, mas este romance é feito de espadas e heroísmo”.
De um diácono: “As igrejas evangélicas chamam os homens a serem passivos e bonzinhos. As igrejas ortodoxas chamam os homens a serem corajosos e atuantes”.
Jesus Cristo. O que traz os homens à Ortodoxia não é apenas o desafio ou o mistério. O que os traz é o Senhor Jesus Cristo. Ele é o centro de tudo o que a Igreja faz ou diz.
Diferentemente das outras igrejas, “a Ortodoxia apresenta um Jesus robusto” (e até mesmo uma Virgem Maria robusta que, a propósito, é honrada em um hino como sendo “nossa Capitã, Rainha da Guerra”). Muitos utilizaram o termo “marcial” ou se referiram à Ortodoxia como os “fuzileiros navais” do Cristianismo. (A guerra é contra o pecado autodestrutivo e as potestades celestiais invisíveis, e não contra as pessoas, claro).
Contrastou-se essa qualidade “robusta” com o “retrato efeminado de Jesus com o qual eu fui criado. Nunca tive um amigo que não se esforçasse muito para evitar encontrar gente que fosse assim”. Embora atraído por Jesus Cristo quando adolescente, “sentia-me envergonhado dessa atração, como se fosse algo que um homem de verdade não levaria a sério, algo semelhante a brincar de boneca”.
Um padre disse: “Cristo, na Ortodoxia, é um militante, um Jesus forte, que toma o inferno como cativo. O Jesus ortodoxo lança fogo sobre a terra. No Santo Batismo, rezamos para que os recém-alistados combatentes de Cristo, homens e mulheres, possam “manter-se sempre combatentes invencíveis”.
Após anos na Ortodoxia, um homem achou os cânticos de Natal de uma igreja protestante “chocantes, até mesmo pavorosos”. Comparados aos hinos natalinos da Ortodoxia, “o pequeno Senhor Jesus adormecido sobre o feno não tem quase nada a ver com o Logos eterno que entra de maneira inexorável, silenciosa e heróica no tecido da realidade criada”.
Continuidade. Diversos ortodoxos intelectualmente convertidos começaram lendo a história da Igreja e os escritos dos primeiros cristãos. Com o tempo, eles tiveram de encarar a questão sobre qual das duas igrejas mais antigas, a Católica Romana ou a Ortodoxa, era a mais convincente quanto a ser a Igreja original dos Apóstolos.
Um ortodoxo de longa data afirmou que os homens gostam de “estabilidade: os homens podem confiar na Igreja Ortodoxa por causa da consistente e contínua tradição da fé, que se mantém pelos séculos”. Um convertido afirmou: “A Igreja Ortodoxa oferece o que as outras são incapazes: continuidade com os primeiros seguidores de Cristo”. Isto é continuidade, e não arqueologia; a igreja primitiva ainda existe e você pode fazer parte dela.
“O que me atraiu foi a promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevaleceriam sobre a Igreja – e a união ortodoxa de fé, adoração e doutrina com a devida continuidade histórica”.
Um sinônimo de continuidade é “tradição”. Um catecúmeno me disse que tentou aprender tudo o que fosse necessário para interpretar as Escrituras, inclusive línguas antigas. “Eu queria cavar fundo, até as fundações, e confirmar tudo o que haviam me ensinado. Ao invés disso, quando mais em descia, tanto mais fraco tudo o que aprendi parecia ser. Percebi que, na verdade, eu apenas havia aprendido a manipular a Bíblia de maneira que eu pudesse sustentar qualquer coisa que eu pensasse. O único antídoto para o cinismo era a tradição. Se a Bíblia quisesse dizer alguma coisa, tinha que ser dentro de uma comunidade, com uma tradição que guiasse a leitura. Foi na Ortodoxia que encontrei o que procurava”.
Homens equilibrados. Um padre me disse: “Há apenas dois modelos masculinos: ser ‘homem’ e forte, rude, cru, macho e provavelmente abusivo; ou ser sensível, bonzinho, reprimido e fracote. Mas na Ortodoxia, o masculino está unido ao feminino; é realista, ‘nem macho nem fêmea’, mas Cristo que ‘une as coisas no céu e as coisas na terra’”.
Outro padre comentou que, se um dos membros do casal é mais insistente em converter a família à Ortodoxia do que o outro, “quando ambos fazem confissões, com o tempo ambos se aprofundam e nenhum deles se torna tão dominante na relação espiritual”.
Homens na liderança. Goste-se disso ou não, os homens simplesmente preferem ser liderados por homens. Na Ortodoxia, as fiéis fazem tudo o que os fiéis fazem, inclusive pregar, ensinar e liderar a irmandade da paróquia. Mas, por trás do iconostase, em torno do altar, é só para os homens. Uma pessoa resumiu o que os homens gostam na Ortodoxia assim: “Barbas!”
“É o ultimo lugar do mundo onde os homens não são condenados por serem homens”. Em vez de toda aquela negatividade, os homens estão constantemente cercados por modelos positivos nos santos, nos ícones e no ciclo diário de hinos e histórias sobre a vida dos santos. Eis outro elemento concreto que os homens apreciam – há outros seres humanos a serem apreciados, e não apenas nuvens de termos etéreos. “A glória de Deus é um homem plenamente vivo”, disse Santo Irineu. Um respondente acrescentou que “a melhor maneira de atrair um homem à Igreja Ortodoxa é mostrando-lhe um homem ortodoxo”.
Mas nada que seja secundário, não importa o quanto seja bom, pode suplantar o principal. “Uma vida desafiadora não é o objetivo. Cristo é o objetivo. Um espírito livre não é o objetivo. Cristo é o objetivo. Ele é o expoente máximo da história, em torno do qual todos os homens e mulheres eventualmente se ajuntarão, a quem todos se curvarão, e quem toda língua confessará”.