19 de novembro de 2024

Sindérese e consciência

A sindérese é o princípio para o agir prático, ou seja, capta os preceitos fundamentais para a ação moral e a lei natural (p.ex., faça o bem e evite o mal, respeito pela vida, honrar os pais, caridade e compaixão, autopreservação etc.). Ele é semelhante ao hábito do intellectus, que vimos na postagem anterior, mas do ponto de vista da vontade, não do intelecto. Mas, aqui, ao contrário do intellectus, que é um hábito perfectível (uma virtude, portanto), a sindérese é um hábito inato, que garante as condições das nossas ações práticas. Não é perfectível, portanto. Tampouco jamais é extinta (mesmo em doentes mentais, pessoas em coma ou bebês).

A consciência, por outro lado, é a aplicação particular da sindérese, obrigando relativamente (ou seja, “impele”) o homem enquanto crê que seja uma consciência reta, além de considerar a retidão do que foi feito ou do que será feito. A consciência, portanto, pode errar porque ao aplicar o princípio pode fazê-lo erroneamente.

Portanto, a sindérese é a base para a inclinação ao bem, enquanto a consciência é a consideração de tais princípios em determinadas ações.

Fonte: Tomás de Aquino, A sindérese e a consciência, Ecclesiae Editora, Campinas, SP, Brasil, 2015.

18 de novembro de 2024

As virtudes intelectuais especulativas


O bem de cada ser é o seu fim. E, portanto, como a verdade é o fim do intelecto, conhecer a verdade é o ato reto do intelecto; por onde, o hábito que aperfeiçoa o intelecto para conhecer a verdade, tanto na ordem especulativa como na prática, chama-se virtude. (Tomás de Aquino, ST I-II, q.56, a.3, resp ad 2)

Ora, as virtudes intelectuais especulativas aperfeiçoam o intelecto, que é conhecer o ente, ou seja, chegar à verdade das coisas, descobrir o essencial. Aperfeiçoar o intelecto significa torná-lo mais maduro, consistente e estável.

Os hábitos especulativos do intelecto têm por objetivo, em conjunto, apreender o ente. Esta é a operação, o ato, por excelência do intelecto. Eis as três virtudes intelectuais especulativas:

(1) Intellectus (ou “virtude dos primeiros princípios”). É o hábito do conhecimento evidente dos primeiros princípios, que são superiores à razão por serem anteriores a ela e lhe darem seu fundamento. É uma “luz intensa”, um instrumento do intelecto agente, ou seja, não é algo adquirido, mas natural, um hábito entitativo. Os primeiros princípios de que falamos são, pois, pelo que deixa implícito o autor, do princípio de não-contradição, do princípio de identidade e do princípio do terceiro excluído. É o fundamento dos primeiros princípios da moral porque não há como a vontade apetecer um bem se o intelecto antes não conhece o ente. “Quando vemos um objeto e sabemos que ele é, quando entendemos que o todo é maior que a parte, que o triângulo tem três lados”.

Mas o hábito do intelecto é aperfeiçoável ("perfectível")? O autor não esclarece, mas o que ensina Angela Knobel, no capítulo 8 de The New Cambridge Companion to Aquinas (Cambridge University Press, 2022), é que, sim, o hábito do intelecto ("understanding", ou "entendimento", como ela chama) é perfectivel, e é por isso que Tomás o chama de "virtude". A minha dúvida surgiu porque fui levado a crer que os "primeiros princípios" captados pelo hábito do inteecto são somente os princípios evidentes a todos, como o princípio da não-contradição, da identidade e do terceiro-excluído. Mas não é bem assim. Há também os princípios que são evidentes, mas não a todos. A essência de uma determinada substância (p.ex. a propriedade curativa de uma erva) só será evidente depois que, precedido pela experiência e pela prática do hábito da ciência neste gênero de coisas, o indivíduo se tornar capaz de imediatamente, por meio do hábito do intelecto, captar tal nota essencial. Assim, a autora conclui que (a) o intellectus em si não é perfectível (ou seja, a habilidade de captar a essência dos entes é algo que depende, por exemplo, da compleição corporal), mas, (b) ele é, sim, perfectível dentro de seus limites naturais mediante a prática das demais duas virtudes intelectuais especulativas.

(2) Scientia (ou “virtude do raciocínio”). É o hábito do conhecimento não-evidente das causas particulares e inferiores, que opera mediante termos a partir dos primeiros princípios, das causas universais, imateriais e necessários de um determinado gênero de ente (ou seja, não as causas primeiras, mas as causas segundas e próximas desse gênero específico de ente). Em outras palavras, a ciência explica o que é e porque algo é assim. “O médico que estuda medicina possui um hábito da ciência médica ou da cura do corpo, entendendo as causas, as conclusões e princípios gerais dessa ciência”.

(3) Sapientia (ou “virtude das causas primeiras”). É o hábito do conhecimento das realidades de último grau, da verdade suprema, do ordenamento de todas as coisas. Não se trata dos primeiros princípios deste ou daquele gênero de coisas, mas do ente enquanto ente, o objeto supremo e próprio da metafísica. A sabedoria é (ou deveria ser) o mais desejado e amado fim do homem porque, enquanto se entrega a seu estudo, “já vai participando de algum modo da verdadeira beatitude”. O sábio ordena a si mesmo, sua vida, suas paixões, sua vontade conforme a causa primeira, que é Deus. Por isso o intelecto às vezes é chamado de capacidade “violenta” da alma, precisamente porque nos torna aptos a dominar nossos movimentos passionais e agir de acordo com a vontade espiritual.  Não basta, portanto, conhecer a causa primeira e julgar as coisas por ela, mas é necessário ordenar todas as coisas também. É no exercício dessa virtude que reside a felicidade humana (ainda que imperfeitamente), pois o intelecto é, afinal, algo de divino em nós. Vale lembrar, embora seja óbvio, que não falamos aqui de , mas do exercício da especulação de Deus por meio da razão.

Estas virtudes, bem como as demais virtudes intelectuais (prudência e arte), estão todas ligadas ao fim último do homem (de todos os homens), que é o ato de conhecer. O conhecimento começa pelo conhecimento dos entes e se desenvolve (ou deveria se desenvolver) naturalmente até atingir a luz de verdades mais altas e supremas. Evidentemente esse apetite por conhecimento só poderá concluir-se na visão beatífica, ou “visão da essência divina”.

Fonte: Willian Kalinowski, O intelecto e as virtudes intelectuais em Santo Tomás de Aquino, Contra Errores Editorial, Campinas, SP, Brasil, 2022.

17 de novembro de 2024

Política: a metafísica dos antimetafísicos


Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. (Atos 5:29)

Indaguei o que era a iniquidade, e não achei substância, mas a perversão de uma vontade que se afasta da suprema substância, de ti, meu Deus, e se inclina para as coisas baixas. (Santo Agostinho, Confissões 7, 16)

O mal refere-se a um mau uso do mundo pela vontade, não a um cosmo mau. (G.K. Chesterton)

Lei é razão sem paixão. (Aristóteles, Política 1287a32)

Tudo sugere que a vida orgânica será um episódio muito curto e sem importância na história do universo. Muitas vezes, ouvimos pessoas se consolarem de seus problemas individuais dizendo: “Será tudo a mesma coisa daqui a 100 anos”. Mas você pode fazer o mesmo com nossos problemas como espécie. O que quer que façamos, tudo será igual daqui a algumas centenas de milhões de anos. A vida orgânica é apenas um relâmpago na história cósmica. No longo prazo, ela não dará em nada. (C.S. Lewis, De futilitate)

Se algum poder é o sumo bem maior, ele deve ser perfeitíssimo. Ora, o poder humano é imperfeitíssimo, porque se baseia nas vontades e nas opiniões humanas, que são de máxima inconstância. E quanto maior for o poder considerado, tanto mais depende ele de muitos, o que também concorre para a sua fraqueza, porque, quando uma coisa depende de muitos, também pode ser destruída de muitas maneiras. Logo, o sumo bem do homem não está no poder mundano. (Tomás de Aquino, SG 3, 31)

O fim da lei divina é levar os homens à união com Deus. [...] As leis humanas, porém, se ordenam a determinados bens terrenos. (Tomás de Aquino, ST II-II, 140, 1)

Se a contemplação do ser é o fim último do homem, qual a contribuição da política para tal fim? Ou, em outras palavras, a política tem alguma utilidade para alcançarmos a contemplação do ser? É claro que sim, e eis o que veremos aqui.

A tese central de James Schall, baseando-se em Aristóteles, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Leo Strauss e Eric Voegelin (mas não só), é que a teoria política moderna reduz a ética, a religião e a ontologia à política, encarregando o homem e o mundo decaído por fornecerem suas próprias balizas, o que, além de impossível – ou talvez pelo fato mesmo de ser impossível –, é devastador.

O Velho Testamento, seja na história da criação, da queda, do exílio, dos hebreus, das guerras, dos profetas, é um esforço contínuo para impedir que o homem se contente com nada menos do que seu próprio Criador, o próprio Deus. Do ponto de vista político, a principal ameaça é um sistema político que reivindique as prerrogativas de Deus. Obedecer a Deus não é alienar-se, mas, pelo contrário, é o caminho da restauração. A história da queda ensina que o efeito dispersivo do pecado ancestral pode ser parcialmente reparado mediante a política. A morte de Cristo indicaria que a política em si é incapaz de reestruturar o homem nesta vida. A felicidade superior pertence ao Reino, que não é deste mundo.

Santo Agostinho foi claro ao apontar que a origem do mal no mundo não está propriamente no âmbito da política ou da cultura, mas no âmbito da vontade. Para ele, a política é naturalmente limitada porque nenhum bem futuro neste mundo poderá assegurar-nos a imortalidade. Não há esperança em nenhuma ordem política, não importa se “perfeita”, imperfeita, bárbara ou o que seja. Eis a contribuição cristã à filosofia política: ela só faz sentido quando contextualizada na imortalidade humana e na vida do século futuro. Pelo contrário, é por meio da redução de nossas expectativas em relação à política que se pode melhor vislumbrar a conquista da bem-aventurança. Santo Agostinho chama a atenção para o mal da política: ela nunca é tão mal que não possa piorar. E, frequentemente, piora. O mal, para Santo Agostinho, não é o aprisionamento do bem pela matéria, mas a simples ausência de bem. Em termos éticos, o mal é fruto de uma escolha.

Isso nos leva à questão do inferno, uma reflexão a qual o homem medieval estava especialmente inclinado. O “inferno” era considerado como a pior forma de governo e, claro, uma possibilidade derradeira da liberdade humana, na qual o mal deve ser punido e o bem recompensado. E eis aqui uma reflexão crucial de Santo Agostinho: o que rege o Estado não é a justiça (isso não cabe aos homens), mas o amor comum, ou seja, uma vontade que pode escolher uma política justa e, frequentemente, pode escolher uma injusta. O inferno, portanto, livra a política de um fardo terreno impossível, “de modo que essa mesma ordem política não seja obrigada a ver como sua tarefa o exercício da justiça e da punição absoluta por seus próprios esforços”. Quando se rejeita os limites da razão então abre-se espaço para a reivindicação da possibilidade de construir racionalmente a vida boa. É evidente que o pensamento clássico é repulsivo a tal possibilidade. Embora possa soar um tanto pueril, mas é notório observar como a rejeição da revelação pela razão produz aqui mesmo o inferno político. Quando Jacques Ellul anuncia que a definição mesma de religião é a de “ajudar o irmão”, ou seja, dar-lhe roupa, comida e habitação, tal humanismo se autoenclausura. Impossível não ver aí a definição perfeita de inferno: melhorar o vale de lágrimas que, por mais “bem-intencionado”, não passa de uma tentativa tola de envernizar o inferno. Você pode desconsiderar o inferno, mas ele não vai desconsiderar você.

Schall observa que tinha razão Platão, em A república, ao notar que um dos sinais infalíveis da decadência de uma civilização é a oferta excessiva de médicos e advogados. Isso é um sintoma de que a população em geral acredita na tolice de que o mundo é capaz de salvar (medicina) e de fazer justiça (advocacia).

Quando esta vida se torna tudo o que existe, a má saúde e a injustiça tornam-se intoleráveis, para não dizer exasperantes e destrutivas. [...] Homens e mulheres devem ser relativamente saudáveis e justos, é claro. Mas há uma linha tênue, não mais tão demarcada, entre uma visão de mundo que acredita que os homens devem reduzir a má saúde e a injustiça e aquela que suspeita de devam ser erradicadas. [...] O “possível” não limita mais o que é politicamente factível. A estranha e curiosa condição humana não atua mais como freio ou restrição aos esforços para a construção de uma vida perfeita na Terra. E o fracasso na tentativa de produzir tal sistema passa a ser atribuído a determinados grupos e pessoas que vivem no mundo e são acusadas de causar esse fracasso.

Observe o caráter gnóstico dessa postura: a razão e o discernimento humano definem o conteúdo do que é humano. O homem não é mais um ser sujeito a um Deus. É claro que estamos no reino da ética revolucionária, da busca do homem perfeito, da salvação temporal. A moralidade, portanto, passa a ser a identificação com as leis do sistema ideológico vigente. A lei, nas civilizações clássicas, tinha por objetivo libertar o homem da tirania de suas paixões e protegê-lo das paixões alheias (“razão sem paixão”, como disse Aristóteles). Mas a lei era apenas a segunda melhor opção, ou seja, a lei era incapaz de colocar o homem em contato direto com o bem. Nunca, jamais, a lei foi pensada para resolver os problemas mais profundos do homem com a justiça. Por isso Santo Agostinho pensava o Estado como um mero remédio para o excesso de orgulho e ganância. Nenhuma ética, nenhuma santidade, é capaz de ser alcançada pela política e pela lei. Eis uma sábia reflexão de Schall a respeito:

[N]os é dito no Novo Testamento que existem dois mandamentos, o amor a Deus e o amor ao próximo. E nos é dito que se amamos o nosso próximo, cumprimos a lei. [...] Os limites do segundo mandamento estão no primeiro. Este é o mistério da nossa existência, que todos devemos encarar na intimidade dos nossos corações, dos nossos inquietos corações, como Santo Agostinho os chamava.

É notável como a morte de Cristo demonstrou que nenhuma ordem política contém o propósito e a felicidade do homem. Os primeiros cristãos sentiram que o Estado não era tão necessário: para os Apóstolos Pedro e Paulo, por exemplo, a autoridade vinha de Deus, e o Estado, como dizia Santo Agostinho, funcionava quando muito como “remédio” para as faltas e imperfeições humanas, como um mantenedor da “paz”, e eis tudo. Tomás de Aquino ensina que a melhor forma de regime é aquela composta por homens sujeitos à lei que está além da política. Assim, o melhor regime político é aquele capaz de colocar aos homens a liberdade e o ócio e, ao mesmo tempo, controlar as más escolhas e desejos de forma legal e institucional. É quando muito a isso, e somente a isso, que o bom Estado pode almejar. E a pior forma de governo não é aquela que elimina fisicamente a raça humana, mas aquela em que para salvar suas vidas os homens têm de ceder ao mal: morrer não é tão mal quanto viver maliciosamente. O mal final está na ordem da inteligência e da liberdade, não na mera destruição física. A ética da rendição em nome do pior Estado, ou seja, é melhor render-se a um Estado totalitário do que morrer honrosamente, não é cristã, mas hobbesiana. Eis o que disse Santo Agostinho em Contra Faustam:

Qual é a acusação contra a guerra? Seria a de que alguns homens, que morrerão de qualquer jeito mais cedo ou mais tarde, são mortos para estabelecer a ordem, a fim de que outros possam viver em paz? Fazer tal acusação não é próprio de mentes religiosas, mas de mentes timoratas. Os verdadeiros males da guerra são o amor à violência, a crueldade vingativa, a inimizade feroz e implacável, a resistência selvagem, a ânsia pelo poder e coisas semelhantes; e geralmente é para impedir esse tipo de coisa, quando a força é necessária par infligir a punição que, em obediência a Deus e às autoridades legais, homens bons empreendem guerras. É quando se encontram em tal posição no que diz respeito à condução dos assuntos humanos que essa conduta correta exige que ajam ou façam outros agirem dessa maneira.

A velha desculpa de que a conduta correta perante um regime tirânico é a aparente “virtude clássica” é típico de “mentes timoratas” (ou seja, covardes). A conduta correta requer ação, que não é guerra em si, mas o argumento (ou seja, a caneta, ensina Schall). Na ausência de uma autêntica filosofia política os piores regimes tornam-se “morais” em nome da “busca da virtude”.

Conclui-se, portanto, que o bem comum e o bem pessoal não são contraditórios, mas correlativos. Ora, o bem pessoal só se desenvolve quando lida com os outros (cf. a virtude da justiça). Assim, ensina Tomás de Aquino, a qualidade de quem olha para o absoluto depende de como o homem olha para a sociedade. Para Tomás, a sociedade não tem ser substancial, mas encontra-se na categoria da relação, e tal relação, embora seja acidental (e não substancial, como em Deus), é real porque seus sujeitos e termos são reais. As relações entre os homens não são pessoas, pois são acidentais, e portanto não há ser nessas relações como as há na Trindade; assim, estão enganados aqueles filósofos que conferem substancialidade à sociedade, ao Estado, à raça, à natureza, ou ao que quer que seja que não seja a pessoa. A sociedade existe em pessoas, mas não é ela uma tertium quid. E as pessoas, sozinhas, são incapazes de satisfazerem suas potências, mas somente aquela Pessoa Absoluta que não é senão o próprio Deus. Substituir Deus pelo Estado ou pela natureza será sempre uma tentativa, intencional ou não, de degradar o homem.

Nota-se tal degradação especialmente no desaparecimento da misericórdia nas sociedades contemporâneas. A “compaixão” ou “benevolência” secular está no cerne do Estado absoluto, e aqui importa pouco se estamos falando de regimes liberais, socialistas, fascistas ou o que seja; afinal, “o homem não contempla mais o que há no ser metafísico, mas o que ele coloca no lugar por seu próprio poder”. Os homens, imaginando que a misericórdia fosse algo “natural” e não sobrenatural, concluíram que poderiam fabricá-la. Ledo engano: o ordinário está enraizado no extraordinário. O mundo foi criado na misericórdia, como ensinou Tomás de Aquino, não na justiça (ST I, 21, 4). O abundante veio antes do suficiente. O dar veio antes do receber. A “justiça” neste mundo é inversamente proporcional à justiça efetiva da misericórdia, da caridade autêntica, da graça. O desprezo pela misericórdia é a chave para entender a teoria política mdoerna.

Fonte: James Schall, A política do céu e do inferno, Ecclesiae Editora, Campinas, SP, Brasil, 2022.