A mente
angélica é puramente intelectual. Não passa de intelecto e, enquanto tal, é
puro poder de compreender.
Diferente
do intelecto humano, cujos poderes incluem também o juízo e o raciocínio, o
intelecto angélico não pensa. Não encadeia nem desencadeia conceitos para
formar juízos, tal como o faz a mente humana; tampouco reúne juízos segundo um
processo de raciocínio que leva a uma conclusão. Em suma, sua ação não é nem reflexiva, nem discursiva. É
puramente intuitiva.
Quando
descrevemos os processos humanos de juízo, reflexão ou raciocínio como
discursivos, o uso da palavra “discursivo” traz consigo a ideia de que se
desenvolve no tempo. Somente o simples ato intelectual de compreender, de
conhecer um objeto de pensamento, é instantâneo. O mesmo se pode dizer do
simples ato sensorial de compreender um objeto perceptível.
Ambos os
atos, intelectual e sensorial, podem chamar-se mais intuitivos que discursivos,
pois são instantâneos, não demandam um espaço de tempo.
[...]
As ideias
inatas, que são conaturais aos anjos, constituem as naturezas que eles possuem
por serem criaturas de Deus.
Ao criar
uma multidão de anjos, Deus diversificou suas distintas naturezas ao implantar
diferentes grupos de ideias em cada um. Por isso podemos concluir que não há
dois anjos iguais.
Cada um é
superior ou inferior em hierarquia a outro, em virtude das ideias inculcadas pelas
quais compreende e sabe. Os anjos superiores compreendem mais por meio de menos
ideias, embora mais universais e abarcadoras. Os anjos inferiores compreendem
menos por meio de um número maior de ideias, que são menos universais e
abarcadoras.
Essa diferenciação
das naturezas angélicas parece incluir as diferenças essenciais e não as
acidentais. Um anjo é o que é em virtude das ideias que tem. Se for assim, isso
favorece a visão de que um anjo difere de outro, assim como uma espécie de
substância difere de outra, mais do que um individuo difere de outro dentro de
uma mesma espécie.
Dado que as
ideias pelas quais os anjos, de forma intuitiva, sabem e compreendem, provêm de
Deus, o intelecto angélico é tão infalível quanto o intelecto divino. No
entanto, a diferença entre o ser infinito de Deus e o ser finito dos anjos traz
consigo o reconhecimento de que o intelecto angélico pode ser infalível sem,
contudo, ser onisciente.
Fonte: Mortimer J.
Adler, Los ángeles y nosotros, Javier
Vergara Editor, Buenos Aires, Argentina, 1996.