O autor
explica que a dependência natural que a criança desenvolve para com os pais
acaba impregnando-se em alguns indivíduos a ponto de acreditarem, quando
adultos, que são inerentemente incapazes, incompetentes, desinteressantes e,
por fim, sentem-se profundamente infelizes. O sucesso que alcançaram, seja qual
for e em que extensão for, é tipicamente atribuído a outras pessoas, à sorte,
ao acaso.
O indivíduo
cria e aceita uma série de crenças
limitantes em torno da crença fundamental de sua incompetência e incapacidade
inatas. A elas devem ser opostas crenças
potencializadoras que promoverão uma nova máscara (o “eu profundo”)
confiante, poderosa, altiva. Ademais, escutar sua intuição, sem moderá-la mediante
pensamentos racionais ou preconceitos, é mister para despertar a motivação para
a mudança: sentir o sentimento e esperar pela resposta a seu significado. Ao ouvir
seus sentimentos e intuições, o indivíduo aprende que o melhor para si vem de
seu mundo interior, de sua “bússola interior”, e não do mundo exterior.
A autoestima
é o valor que o indivíduo percebe que
tem. Tê-la baixa é criar novos e inúteis sofrimentos, e deixá-la a cargo de
amigos, escola, paqueras, colegas de trabalho etc. é deixar que seu valor
(estima) seja determinado a parti de fora. O segredo, portanto, é não identificar-se
com os insucessos da vida, é não fazer a ligação entre fracassar e ser o
fracasso, e não aceitar que o julgamento alheio o condene dessa forma. As
pessoas mais bonitas, mais inteligentes, mais ricas, são uma circunstância da
vida, não dizem nada sobre quem você é.
Alguns
passos para aumentar a autoestima: (1) culpar os pais é ainda
responsabilizá-los por quem você é agora; trate de entender que você é filho da
criança ferida e que ambos, você adulto e você criança, são problema seu; (2)
autoestima não se resolve com relacionamentos, mas, pelo contrário, os
relacionamentos reforçam a dependência afetiva causada pela baixa autoestima;
(3) entenda que o perfeccionismo vem de um senso de depreciação, uma vez que o
perfeccionista nunca se satisfaz com seus feitos; (4) se recusar a dizer “não” não
é sinal de delicadeza ou de altruísmo, mas apenas medo de rejeição; dizer “não”
é sinal de que passar por cima de você mesmo não é uma opção para agradar o
outro.
Quanto aos “outros”,
essa miríade de línguas fofoqueiras que povoam não tento a Terra mas sim sua
cabeça, há uma corrente da vingança que tem de ser quebrada. Entenda que o
critério de julgamento que aplica aos outros é exatamente o mesmo que aplica a
si mesmo, embora à primeira vista não se dê conta disso. O julgamento alheio
tem mais a ver com você do que com o outro. Portanto não conclua que você tem
de ser um reflexo da forma como a sociedade se estrutura, nem vice-versa. Sua
imagem é algo que deve partir de você, da exposição de suas opiniões e valores,
e não algo que venha de fora. Romper a corrente da vingança é, na verdade,
reverter a corrente elétrica que passa por ela: a energia sai primordialmente de
você.
As pessoas são atraídas por quem tem orgulho de si mesmo e vão gostar de estar ao seu lado exatamente pela segurança interna que você transmitir.
A figura acima mostra o conceito de espaço psíquico. Há graus de intimidade em torno de sua alma, e o desrespeito acontece no momento em que alguém avança uma camada, ou seja, cruza uma linha de relação, sem sua permissão. O fato de a pessoa ter cruzado de boa ou má, ou nenhuma, intenção pouco importa aqui. O importante é você comunicar, de maneira clara e inequívoca, que o desrespeito ocorreu.
Com o
desrespeito vem o perdão, ou melhor, a dificuldade em perdoar quem lhe
desrespeitou. Aqui há duas vias possíveis: (1) via da justiça, ou seja, algum tipo de justiça precisa ser feito
para que consigamos perdoar; o problema aqui é que, novamente, exigir justiça
(vingança, na verdade) resultará em aplicar a mesma justiça a si mesmo; não perdoar
o outro é ao fim e ao cabo não perdoar você mesmo (autovingança), (2) via das
imperfeições, ou seja, entender que as imperfeições nos aperfeiçoam,
perceber que somos feitos da mesma matéria, são carentes, imperfeitos, humanos
(tolerância).
Por fim, o
autor transmite conselhos pontuais, como falar de forma confiante, expressar-se
com uma linguagem corporal marcante, ouvir atentamente o outro, cultivar o
bom-humor etc.
Fonte: Marcos Lacerda, Amar-se, VR Editora, Cotia, Brasil, 2021.
* * *
A família
de propaganda de margarina é uma fantasia. A grande tragédia nos relacionamentos
é quando ambos exigem que se cumpra a fantasia de margarina de que o outro tem
de ser sua alma gêmea e que tudo tem de ser feliz, perfeito, limpo, organizado
e bom. Para uma relação madura, robusta, duradoura, é preciso aceitar a
realidade do mundo interior do outro sem julgar, sem escandalizar-se, sem medo
de revelar fraquezas secretas, sem medo de parecer ridículo, e jogar fora a
fantasia de margarina. Alguns passos
importantes:
(1) O outro
não é sua mamãe, papai, psicólogo etc. As feridas do seu passado não são responsabilidade
do outro.
(2) O
silêncio começa a imperar no casal quando um ou ambos se julgam ou se ignoram.
Entenda que o outro não quer tanto que você resolva seu problema, mas que
apenas e tão-somente o compreenda.
(3) Faça-se
presente na vida do outro (bilhetes, flores, fotos etc.).
As relações
amorosas passam por três etapas:
(1) Fusão (1+1=1). Atração intensa, só o
existe o nós na relação. Com o tempo
se torna sufocante.
(2) Diferenciação (1+1=2). Rotina, o casal
descobre as diferenças, a realidade da intimidade. Etapa importante porque você
“ressurge” com sua personalidade, seus planos, seus projetos, suas ideias. O
casal aprende a viver sem a ideia de unidade, sem a ideia de que “um pertence
ao outro”.
(3) Harmonização (1+1=3). O casal aprende a
viver com suas diferenças. Há projetos em comum e projetos individuais.
Quanto ao
sexo, cabe lembrar que a atração que sentimos no inicio em geral se baseia numa
fantasia sobre o outro. É uma espécie
de projeção. Com o tempo, a realidade destrói a fantasia. A capacidade de
fantasias enfraquece e o sexo deixa de ser a coisa mais importante para o
casal. Entra em cena o sexo burocrático, sem olho no olho, cego, focado exclusivamente
nos genitais, no orgasmo, sexo de filme pornô.
Quanto ao ciúme,
o desejo subjacente é o poder. Controlar a vida alheia não tem nada a ver com
amor, mas a intenção de tratar o outro como objeto. O amor tem a ver com amar a
liberdade do outro; o único controle que você tem é estar ou não estar na relação.
Há uma fantasia que fundamenta o ciúme, que é a ideia de que o amor nasce
pronto, que não demanda esforço, paciência e tempo. Ademais, a inveja é um
componente comum no sentimento de ciúme, pois encontrar-se ou sentir-se numa posição
inferior pode ser uma situação difícil de lidar.
Quanto à traição,
as regras de convivência estavam bem estabelecidas? A mentira acaba se tornando
a régua com a qual o traído mede o traidor, e é difícil recuperar uma relação ferida
dessa forma. O perdão não é esquecer o que o outro fez, mas ser capaz de lembrar-se
do fato sem despertar os sentimentos negativos associados a esse fato. A
traição nunca é culpa do traído, mas sempre do traidor. Se surgiu a
oportunidade para trair e o traidor a aproveitou, o fez por livre e espontânea
vontade. Se não quis romper o relacionamento antes da traição, foi decisão sua,
a despeito dos obstáculos, reais ou imaginários, que se interpunham à comunicação.
Quanto aos
familiares e amigos, a ideia é aprender a desapegar-se psicologicamente deles,
sobretudo dos pais, o que é mais difícil. A maturidade do casal não pode ser
alcançada quando os pais, família e/ou amigos são chamados a debater e opinar a
respeito da vida do casal. As amizades de qualidade surgirão a partir de uma vida
conjugal de qualidade.
Quanto ao cônjuge
imaturo e tóxico, entenda que o amor não move montanhas, o bem não vence o mal.
Seu amor não vai mudar o outro, ao vai tornar o abusador uma pessoa melhor, nem
vai fazer com que ele descubra seu valor. O abuso físico ou psicológico é
típico de pessoas doentes e infelizes. Para livrar-se de uma pessoa tóxica
implica em armar uma estratégia em que uma estrutura paralela exista para
acolhê-lo.
Fonte: Marcos Lacerda, Amar, desamar, amar de novo, VR Editora, Cotia, Brasil, 2019.
* * *
O antônimo
de “amor” é “poder”. Portanto, quanto mais poder se exerce sobre o outro se
conclui que menos amor existe no casal. Amar o próximo é amar a liberdade desse
próximo. Eis algumas armadilhas típicas nas quais os casais caem: (1) moldar o comportamento do outro (queixar-se
da relação ou de você mesmo está bem, criticar o outro enquanto indivíduo está
mal); (2) ter razão (debater está
bem, esmagar o outro por orgulho e ameaçar a harmonia do casal está mal); (3) discutir (falar como você se sente está
bem, falar mal do outro está mal); (4) incompreender
a infância do outro (esperar maturidade geral está bem, ignorar que possa
haver feridas infantis remanescentes está mal).
Por outro
lado, há determinadas posturas que você pode assumir que ajudam a blindar sua
liberdade: (1) ocupar-se de você (lutar
pelo seu bem-estar não é egoísmo, além de estar mais disponível para o outro
sem vê-lo como uma tábua de salvação); (2) questionar-se
(habituar-se a fazer perguntas profundas e abrangentes a si mesmo); (3) perdoar-se (desde bebê erramos para
aprender, agora não é diferente); (4) cogitar
a solidão (suportar a própria presença, se fazer companhia).
O ator
sugere o teste de níveis de consciência de Clare Graves.
Fonte: Marcos Lacerda, Amar e ser livre é possível, VR Editora, Cotia, Brasil, 2022.