30 de julho de 2018

Cuide do seu jardim

O método 3R é equivalente ao que seriam as ferramentas de jardinagem para se cuidar de um jardim. O jardim é a sua mente. O objetivo, portanto, é cuidar das plantas que há em seu jardim e arrancar as ervas daninhas.

O 3R vem das palavras Recognize, Remove e Replace. Você reconhece as plantas como sendo plantas e as ervas daninhas como sendo ervas daninhas. Depois você remove as ervas daninhas. Por fim você substitui as ervas daninhas arrancadas por plantas. Todos os dias você escolhe as ferramentas que vai usar para cuidar do seu jardim e deixá-lo arrumado.

1R. Reconhecer

O primeiro passo é sepre reconhecer, identificar. Nâo há muito o que possa fazer se você não reconhece antes o problema.

Um dos métodos para reconhecer as ervas daninhas é o WWBADD. Vejamos:

Whining [choramingar/lamuriar/queixar-se/lamentar-se]: reclamar, fugir do eu focando-se nos erros dos outros.

Worrying [preocupar-se, afligir-se]: ansiedade, angústia, suar frio, desespero, evitar a vida focando no perigo.

Blaming [culpar]: irresponsabilidade, caça às bruxas, acusar, apontar o dedo, vitimização, irresponsabilidade emocional, evitar crescer focando-se nos erros dos outros.

Attaching [vincular, apegar-se, juntar, amarrar]: identificar-se com o outro e não com o eu, identidades do ego, apegos do ego, buscar segurança nas aparências, buscar segurança em rótulos e títulos, escapar do eu se refugiando no ego.

Demanding [exigir]: supercontrolar, "tem que", codepender, manipulação, escapar do eu fazendo drama.

Damning [condenar]: demonizar, condenar, denunciar, castigar, saber mais do que o outro, desumanizar, escapar do eu inferiorizando os outros.

2R. Remover

Remover é o segundo dos 3R e é aquele que se deve exercer com mais vigor. Se você tentar remover as ervas daninhas com pensamentos não-emotivos então seus resultados serão medíocres. Remover é a prática de arrancar as ervas daninhas do seu jardim.

É comum que você tenha de remover uma erva daninha várias vezes antes que ela realmente saia do seu jardim. Mesmo assim a erva poderá retornar a seu jardim a qualquer momento. E por quê? Porque uma vez que você esteja ciente de uma erva ela ficará gavada na sua mente para sempre. O stress pode trazer o melhor ou pior de você. Se o stress lhe trouxer o pior então todas as velhas ervas daninhas vão querer voltar para o jardim. Escolha o stress para fortalecê-lo ou enfraquecê-lo. A escolha é sua, não as circustâncias.

Remover uma erva daninha é negá-la tempo e espaço em seu jardim.

Um dos métodos para remover as ervas danilhas é o método 3P. Vejamos:

Remova o pensamento autodestrutivo vislumbrando-o como nocivo.

Preço. Quanto me custa pensar desse jeito? A quem sacrifico, e vale a pena? Me desencoraja? Me traz o que tenho de melhor ou pior? Pensar assim me faz lamuriar, culpar, apegar-me, exigir, condenar e procrastinar?

Produto. Como meu pensamento me faz sentir? Animado ou irritado? Como me faz agir? Com aceitação ou com punição? Me ajuda a resolver ou lidar com o problema?

Proteção. Pensar dessa forma me dá uma desculpa para escapar, evitar, vingar, fazer drama, buscar poder, controle, manipulação, chantagem emocional, querer a simpatia alheia, obter orgulho, ser resgatado, preguiçoso, exigente, sumir ou dar falso testemunho?

3R. Replace

A substituição [replacement] é a parte mais desprezada nas terapias e aconselhamentos. Porém, é crucial para preencher o vazio que fica depois que um problema ou erva daninha se vá. é muito comum que um problema resolvido retorne travestido, disfarçado. É realmente muito comum que um problema tenha sido superado apenas para ser substituído por outro pior.

Neste ponto é interessante consultar o método de substituição de ervas daninhas fornecido pela terapia TREC [REBT], que fornece as crenças racionais [rB] que substituirão as crenças irracionais [iB].

Além disso, é necessário que você entenda o que é o desapego. Desapegar-se não significa pensamento frio e calculista. Ao contrário, desapegar-se é o pensamento emocional que entende que o apego nega a liberdade de sentir e experienciar espontaneamente.

Se você se apega a uma pessoa, lugar ou coisa, então sua vida estará limitada por isso. O apego faz você mentir e negar a realidade. O apego requer cobertura, maquinações, trevas, para manter suas ilusões e engodos. Muitas tradições espirituais enfatizam o desapego como meio de libertação.

Eu persistentemente repito em minha mente que...

a falha não faz de mim um fracassado.

o que é difícil não me fere nem me mata.

sou um ser, não um devir.

sou um ser, não um fazer.

sou um ser, não um sentimento.

sou um ser, não um parecer-alguma-coisa.

sou um ser, não um pensar.

sou um ser, não um pensamento ou uma coisa.

sou um ser, não uma ação.

sou um ser, não opiniões.

sou um ser, não cargos, tarefas, máscaras ou performances.

não sou meus bons ou maus comportamentos porque eu sou aquele que os faz.

não sou meus bons ou maus pensamentos porque eu sou aquele que os pensa.

não sou minhas boas ou más experiências porque eu sou aquele que as experiencia.

não sou minhas boas ou más memórias porque eu sou aquele que as têm.

não sou minhas bons ou maus erros porque eu sou aquele que os cometeu.

estou bem sem tentar transformar-me em outra coisa.

estou a salvo mesmo que meu corpo esteja em risco.

sou o ator, não as ações.

sou o escolhedor, não a escolha.

sou o recipiente, não o conteúdo.

sou o experienciador, não o experienciado.

eu jamais perderei meu status de ser humano.

eu me recuso a ter opiniões negativas sobre o eu.

eu vou corrigir meu comportamento, não o meu eu.

eu vou criticar os pensamentos, não as pessoas.

ninguém jamais poderá causar dano a meu eu.

somente meu ego é uma impostura, não meu eu.

falhar ao desempenhar um papel não é uma falha do eu.

as coisas estão mortas, mas eu estou vivo; portanto, não sou uma coisa.

tentar se transformar em alguma coisa é tentar morrer como essa coisa.

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Exemplo e influência. O que você pode fazer para ajudar os outros? Ajude a si mesmo. Sim, seu exemplo é o melhor presente que você pode dar. Ao modelar, em vez de pregar, você ajudará mais. Tudo o que você tem é exemplo e influência. Use ambos. Cite especialistas se possível. Fale sobre o que você está fazendo e que está dando certo. Deixe-os ver que você está indo bem. Faça com que a coisa toda seja sobre você, não sobre eles. Pratique o que você prega. Faça o certo. Lidere pelo exemplo. Compartilhe lutas e vitórias. Sacrifique-se pelo que é certo. Vou repetir: a coisa toda é sobre você.

* * *

Parte do processo de crescimento é expulsar seus pais e professores do seu jardim. Parte do processo de crescimento é examinar seu jardim para verificar se as plantas que ali estão você realmente as teria escolhido.

Tentar cuidar dos outros, ou seja, cuidar da mente dos outros, é o mesmo que tentar lhes dizer como pensar. Por acaso você gosta que as outras pessoas digam como você deve pensar?

Não é melhor conduzir as pessoas a uma nova mentalidade com exemplos e influência ao invés de palavras?

* * *

Os seres humanos têm basicamente duas escolhas: (1) viver dentro de princípios e (2) viver por desejos primitivos.

Os seres humanos e todas as coisas precisam de orientação externa. Cuidando de seus jardins, os seres humanos transformam a orientação externa em orientação interna. Os seres humanos precisam ser governados por algo superior, senão acabam se afundando. As evidências em favor dessa ideia estão por toda parte e em todas as coisas.

Controle vs. liberdade é o velho (e errado) entendimento a esse respeito. O problema não é ter muito de um e pouco do outro; na verdade, o problema está em ambos, controle e liberdade. Controle e liberdade não funcionam, seja isoladamente, seja em conjunto.

A liberdade não funciona na natureza humana. Vários experimentos com liberdade foram tentados no passado e todos mostraram que precisamos de orientação. Um exemplo assustador foram as ações das pessoas depois da Revolução Francesa. Um exemplo mais recente seria os anos 1960. A liberdade também foi tentada nas artes e os resultados foram desastrosos.

O controle não funciona na natureza humana. Inúmeras formas de filosofias, psicologias, práticas, governos e religiões falharam ao controlar a natureza humana.

A solução é a submissão [under]. Submissão é o conceito de rendição absoluta. Rendição extrema, forte ou branda não resolve. Todas falham porque são condicionais, porque abrem a possibilidade de você se rebelar ou desistir. Condicional significa parcial.

O único sucesso possível vem do incondicional. Viver sob princípios significa viver por eles, e não apenas para pregá-los ou declamá-los.

Devir, aprender ou tentar jamais farão com que você viva em submissão [under]. Todo e qualquer método de transformação da natureza humana é falho. A natureza humana não pode ser tansformada sem que seja morta e transformada em outra coisa.

É impossível que da lama pouco a pouco consigamos ouro. A alquimia sempre falha. Nenhuma prática, por mais intensa que seja, transformará luxúria em amor. Não há estudo no mundo que transforme ganância em caridade. Não há disciplina no mundo que transforme narcisismo em compaixão. Nenhuma prática do mundo transformará a raiva em alegria. Ou você está em submissão ou não estã. Renda-se agora ou nunca.

O único progresso que existe é fazer menos o mal e mais o bem. Não há progresso em o mal se transformar em bem. Elefantes não vão se transformar em formigas, mesmo com todo o tempo do mundo.

Sim, faça menos mal e mais bem, e chame isso de progresso se você quiser. Não, não diga que sua ganância está ficando menos gananciosa. Se você está agindo gananciosamente com menos frequência, ótimo. Mas isso não é a ganância se transformando em caridade. Isso é parar, não progredir. Você chama isso de progresso, mas não é exatamente progresso. Parar com mais frequência não é realmente mais progresso, mas apenas mais paradas. Fazer mais o bem e menos o mal é escolha, não disciplina, nem controle, nem mudança.

O melhor dos seres humanos vem da submissão, não de fazer o que querem. A natureza humana não pode ser livre assim como um bote não vai chegar ao destino simplesmente largando ele na água. O bote precisa de um leme. Os seres humanos precisam de um leme. O leme não é condicional; ele dá uma direção.

A liberdade do controle é necessária. Mas a liberdade de uma natureza humana sem direção também é necessária. A absoluta submissão aos valores é a única e verdadeira liberdade para a natureza humana. A liberdade vem depois da submissão, não antes. O rio é livre porque ele segue as margens. O monge é livre dentro da ordem do mosteiro. O grande poeta é livre dentro das formas poéticas.

Pare de devir, para de se transformar, e escolha mudar para a submissão [under]. Escolha é a resposta, não mudança. Escolha viver por seus ideais, e deixe que os outros sigam os estímulos cegos de seus corpos e egos.

Fonte: Kevin FitzMaurice, Garden Your Mind, FitzMaurice Publishers, Portland, OR, EUA, 2010. Trechos selecionados.

29 de julho de 2018

O direito de estar errado

-- Ora, não importa o quanto a pessoa esteja errada, todo ser humano tem o direito de estar errado -- e você não está lhe dando este direito.

-- Mas por que todo ser humano tem o direito de estar errado?

-- Simplesmente porque ele é humano; e pelo fato de ser humano ele é falível e propenso a erros. Se o seu chefe, por exemplo, está errado, então seus erros obviamente resultam de alguma combinação entre sua estupidez, ignorância e transtornos emocionais; e ele, como ser humano falível que é, tem todo o direito de ser estúpido, ignorante ou emocionalmente transtornado -- por mais que talvez fosse muito melhor que ele não fosse assim. Você está lhe negando o direito de ser humano e, pior, está esperando que ele -- note como isso é bobo, admita! -- se comporte de maneira super-humana ou angélica. Não importa se seu chefe esteja certo ou errado, guardar rancor por ele estar, na sua opinião, errado dificilmente vai fazer ele agir corretamente, não acha? E o seu ressentimento, sem sombra de dúvida, não vai te ajudar ou fazer você se sentir melhor. Então para que serve o seu ressentimento? Em outras palavras, a postura do ressentimento não faz sentido. Além disso, não faz sentido tornar a coisa ainda mais penosa e fastidiosa ao continuamente reproduzir a si mesmo a ideia de como a coisa toda é horrível.

Fonte: Albert Ellis, Reason and Emotion in Psychotherapy, Birch Lane Press, Nova York, NY, EUA, 1994. p. 162-163.

28 de julho de 2018

O segredo da maturidade


Maturidade é responsabilidade. Maturidade é você se considerar responsável antes de considerar os outros como responsáveis. Maturidade é procurar suas falhas antes de apontar as falhas das pessoas, lugares ou coisas como causa dos seus problemas. Maturidade é o ato de assumir a responsabiidade pessoal por todos os aspectos da sua vida.

A maturidade se demonstra respondendo racionalmente a eventos irracionais. A maturidade se demonstra através de uma postura equânime frente a certas adversidades.

O maior grau de maturidade é aquele em que você procura as escolhas interiores que determinaram seu destino exterior. Você não culpa nem mesmo o acaso, muito menos os outros. Ao invés disso, você examina suas intenções, sentimentos e pensamentos a fim de entender as escolhas que fez para servir a tal resultado. Este nível de maturidade requer um grau de consciência interior que é tão incomum quanto sábio.

O maior segredo da maturidade é que a maturidade depende completamente da responsabilidade emocional. Responsabilidade emocional é a percepção e a prática do princípio de que somente você pode decidir, e decide, como vai se sentir. Como a pessoa emocionalmente imatura acredita que são os eventos, os outros e a vida que causam seus sentimentos, então ela precisa tentar controlar ou mudar os eventos, os outros e a a vida para controlar como ela se sente. Como as pessoas fracassam ao tentar controlar os eventos, os outros e a vida, elas se frustram, se ferem e se irritam.

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As 7 razões para a responsabilidade emocional

1. Você decide o que identificar como eu (pense "isto sou eu") e a que manter sua identidade desapegada. Deixar uma coisa fora da sua identidade deixa essa coisa fraca, desapegada.

2. Você decide o que experimentar com seu coração e a que manter-se emocionalmente desapegado com seu coração. Deixar uma coisa fora do seu coração deixa essa coisa fraca, desapegada.

3. Você decide a que prestar atenção, o que lembrar e sobre o que pensar -- ou o que deixar naturalmente pssar através de sua mente.

4. Você decide o que tentar controlar ou mudar e o que aceitar tal como é. O que quer que tente controlar ou mudar irá afetá-lo emocionalmente.

5. Você decide o que considerar importante ou desimportante. O que quer que encare como importe irá afetá-lo emocionalmente.

6. Você é responsável por seu coração, alma, mente, identidade, atenção, consciência ou memória. Qualquer um desses pode afetá-lo emocionalmente.

7. A ciência ensina que é a proximidade, frequência, intensidade e duração dos sinais que determinam o impacto ou força dos sinais experimentados. Portanto, os sinais na sua mente podem afetar, e afetam, você mais do que seus sinais corporais ou ambientais podem afetá-lo.

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Uso e abuso

Infelizmente, o conceito de responsabilidade emocional é abusado por algumas pessoas no sentido de escusar suas ações e evitar tomar a responsabilidade pelos imapctos de suas ações. É verdade que você nunca será responsável pelos sentimentos dos outros, mas também é verdade você sempre será responsável pelo que transmite, comunica ou faz para afetar os outros.

Sim, é verdade que os outros são livres para reagir àquilo que você comunica. Mas será que isso significa que você deve intencionalmente tornar a reação das pessoas mais difícil e desafiadora?

O verdadeiro problema com a responsabilidade emocional é que ele acaba com nosso jogo favorito: o Jogo da Culpa [Blame Game]. Nós jogamos o Jogo da Culpa ao odiar, perseguir ou culpar os outros por nossos sentimentos, ao mesmo tempo em que reagimos a nossos sentimentos com uma postura de vítima, de desamparo, de impotência. Uma opção é jogar o Jogo da Culpa com nossa consciência, corpo, lugares, coisas, eventos ou até mesmo com Deus.

No passado, a única solução ou escapatória ao Jogo da Culpa era jogar ou encontrar alguém (dependência) ou alguma coisa (vício) para jogar o jogo do pára-choque -- alguém que brinque de consertar, ajudar ou resgatar a nós ou a nossos sentimentos.

O segredo da maturidade é que ela não vem com a idade, mas vem de assumir 100% da responsabilidade por nossos pensamentos, sentimentos, ações e experiências, e assumir 0% da responsabilidade pelos pensamentos, sentimentos, ações e experiências dos outros.

É interessante observar como as pessoas atribuem as causas das ações das pessoas. Tendemos a pensar que as más ações dos outros se devem a causas internas e nossas próprias ações a causas externas. Por exemplo, muitos pensam "tem alguma coisa muito errada com esse Fulano para ele agir desse jeito", mas ao mesmo tempo pensamos "eu agi de maneira estúpida hoje porque tive um dia muito estressante".

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Você consegue conviver em paz com os outros ao mesmo tempo que se mantém fiel a seus próprios princípios? Se você não segue seus próprios ideias, mas ao contrário segue os ideiais de algum grupo, então não está sendo verdadeiro consigo mesmo.

Ser verdadeiro consigo mesmo implica em dois princípios:

1. Diga a si mesmo a verdade sobre suas intenções.

2. Eleve-se e siga seus mais altos ideais.

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O vício é um problema típico da dependência emocional ou imaturidade emocional. Depender de coisas ou pessoas faz de você uma personalidade viciante.

Al-Anon ensina que o conceito de desapego é um meio para distanciar seus sentimentos sobre si das ações e sentimentos alheios. Quando seus sentimentos sobre si não mais dependerem dos sentimentos de outras pessoas, então você terá se desapegado dessa pessoa.

-> Desapego é liberdade para sentir.

-> Desapego significa não fazer da coisa algo sobre você.

-> Desapego é manter sua identidade fora da coisa, o que quer que seja a coisa.

Sua felicidade depende da felicidade das pessoas a sua volta? Seus sentimentos dependem dos sentimentos das pessoas a sua volta?

Quando você se desapega significa que você não mais tem um ego para defender ou proteger. Sem um ego para defender ou proteger você terá maior liberdade para experimentar e sentir.

A codependência por sua vez é frequentemente associada à dependência emocional. Você se sente forçado a socorrer alguém ao invés de deixá-la batalhar e alcançar a maturidade? Você respeita as pessoas o suficiente para deixá-las aprender a cuidar de si mesmas?

Observe que nos aviões as comissárias ensinam que você tem de colocar sua própria máscara de oxigênio anter de tentar ajudar alguém a colocar a sua. É assim que a vida funciona também. Cuide primeiro de você para que então você seja capaz de cuidar dos outros. Apesar do que dizem os devotos do pensamento positivo mágico, suas capacidades, energia, tempo e recursos são limitados. Garanta que sirva primeiro às coisas mais importantes de maneira que possa depis servir mais e melhor aos outros.

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A solidão é uma de suas necessidades? Ora, se você não suporta sua própria companhia então por que alguém deveria suportar a sua companhia? Se você não gosta de estar sozinha consigo mesmo, então por que alguém deveria querer estar sozinho com você?

A solidão é a melhor maneira de contemplar, rezar e meditar. A solidão o colocará face a face com seu eu. A solidão o colocará face a face com suas intenções positivas e negativas. A solidão é tão necessária para o autoconhecimento quanto as relações socias. A soldão ensina sobre as relações internas enquanto as relações sociais ensinam sobre as relações externas.

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Os gritalhões, os metidos a machão, e todos aqueles que acham que precisam lutar são as pessoas mais fracas de todas. A verdade é que a força é exatamente o contrário do que o macho ou o machismo definem como força.

A pessoa mais forte é na verdade aquela que se responsabiliza por seus próprios sentimentos. A pessoa que se sente insultada por qualquer um -- ou aquela que precisa lutar para salvar sua cara -- é a mais fraca de todas.

O machão é a personalidade mais fraca e imatura popularmente aceita: nenhuma outra é tão fácil de controlar, prever ou manipular em nível emocional do que o macho.

O forte é aquele capaz de dar a outra face.

Se você estiver centrado em si e for senhor de si então qualquer violência emocional ou insulto que lhe for dirigido simplesmente refletirá a fraqueza emocional, a imaturidade, a insegurança e a falta de inteligência de quem lhe atacou.

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Portanto, quando algu~em lhe provocar, tenha certeza de que foi sua própria opinião quem lhe atacou. -- Epíteto.

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Os 6 níveis da maturidade emocional

Nível 1: responsabilidade emocional

Quando a pessoa atinge o nível 1 da maturidade emocional ela percebe que não é mais capaz de encarar seus estados emocionais como responsabilidade de forças externas como pessoas, lugares, coisas, forças, destino ou espíritos.

As pessoas neste nível de maturidade emocional frequentemente usam as duas seguintes expressões:

-- "Quando eu fiz aquilo eu me senti...porque eu pensei que isso queria dizer..."

-- "Quando isso aconteceu eu me senti...porque eu interpretei isso como sendo..."

Nível 2: honestidade emocional

A honestidade emocional tem a ver com a vontade da pessoa em conhecer e possuir seus próprios sentimentos. A questão da resistência a autodescoberta vem dos temores conscientes e inconscientes da pessoa em lidar diretamente com as vozes críticas que ela ouve em sua mente. Esses temores se baseiam na dor emocional que o ego, a auto-estima e a conversa interior lhe infligiram no passado.

Neste nível de honestidade emocional as pessoas sabem como escolher o que vão sentir de forma que evitam ser feridas. Elas também sabem como escolher não interagir com seus acusadores interiores usando técnicas que os ignoram, distraem ou redirecionam.

Neste nível de maturidade emocional você não esconde, atulha, suprime ou reprime o que sente, mas honestamente experiencia o que sente. Você ao menos é honesto consigo mesmo sobre como realmente se sente apesar do que você deveria supostamente sentir. Porém, esta honestidade de forma alguma exige que você aja da maneira que sente.

Como um objetivo secundário deste nível, as pessoas aprendem a localizar outras pessoas com as quais possam compartilhar com segurança seus reais sentimentos, seus reais eus, de maneira aberta e receptiva. É neste nível também que a pessoa começa a nunca mais aceitar que seu eu seja seu comportamentos ou experiências. Se você se comportar como um cachorro até o fim da sua vida isso não fará de você um cachorro. Assim também você jamais será um estúpido agindo de maneira estúpida.

Nível 3: abertura emocional

As pessoas neste nível experimentam e aprendem o valor de ventilar os sentimentos para que esses sentimentos se esvaiam, bem como os perigos implicados ao se ocultar os sentimentos do eu e dos outros.

A auto-revelação é a questão mais importante neste nível de maturidade emocional. Contudo, a auto-revelação jamais será tão importante quanto a vontade da pessoa em ser aberta sem que as vozes críticas que ela ouve dentro de si tentem mudar, controlar ou condenar esses sentimentos.

É importante notar que ventilar os sentimentos é algo que deve ser feito corretamente. Se sua intenção não é deixar que um sentimento se vá então ao ventilá-lo você apenas o alimentará e o reforçará mais ainda.

Nível 4: assertividade emocional

O principal objetivo deste nível é ser capaz de pedir e receber o alimento que se precisa e requer -- primeiro do eu, depois dos outros.

Como objetivo secundário, a pessoa também aprende como expressar qualquer sentimento em qualquer situação.

-> Pedir por tempo livre para contemplar, meditar e rezar.

-> Pedir por compreensão e compaixão por sentimentos desagradáveis que esteja sentindo.

-> Ser capaz de aceitar elogios com um simples "Obrigado".

-> Expressar o que está sentindo sem exigir que os outros entendem ou apreciem seus sentimentos.

-> Informar aos outro que se sente vulnerável e que pode reagir insuficientemente a mais stress ou confronto.

-> Dar parabéns às pessoas pelas suas conquistas.

-> Dizer a alguém que você acha que o ele fz foi inteligente, oportuno e importante.

Nível 5: entendimento emocional
Conceitos próprios e autoimagens nesta fase são compreendidos como sendo "o" problema que interfere com a responsabilidade emocional. Aqui a pessoa percebe que não é possível ter o que se chama de boa autoimagem ou conceito próprio sem ter por outro lado uma autoimagem e um conceito próprio ruins.

Por sua própria natureza, a referência dos conceitos próprios e das autoimagens são sempre externas e, portanto, são os alvos e ganchos preferidos para o Jogo da Culpa.

As pessoas neste nível de responsabilidade emocional sempre se lembram de sondar seus conceitos próprios e autoimagens a fim de livrar-se deles. O autoconhecimento é usado para livrar o eu dos coneitos próprios e autoimagens e não para formar mais conceitos próprios e autoimagens que aprisionarão o eu de maneiras ainda mais complicadas e tortuosas.

A principal tarefa aqui é deixar totalmente de identificar-se com quaisquer conceitos próprios ou autoimagens e passar a identificar-se somente com seu verdadeiro e natural eu, que é um hospedeiro.

Nível 6: desapego emocional

Neste nível a pessoa vive sem o fardo e as ciladas dos conceitos próprios, autoimagens, conceitos grupais e conceitos sociais. A pessoa está consciente apenas do eu enquanto processo, enquanto ser senciente, enquanto ser experienciante, enquanto vaso vivo, enquanto incognoscível e imperturbável -- pois o eu é vivo, não estático ou fixo.

Por não ter conceitos próprios ou autoimagens para defender ou promover, a pessoa pode experimentar o amor incondicional por seus inimigos.

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Os 5 aspectos dos sentimentos que devem ser controlados

Você não pode controlar seus sentimentos, mas você sim pode controlar o antes e o depois de um sentimento e a persistência de um sentimento. E se você souber fazer essas três coisas bem, então nunca mais sentirá a necessidade de controlar um sentimento. Eis o que você pode controlar:

1. Se você vai apegar sua identidaade a um sentimento e mantê-lo preso aí ou se vai desapegar sua identidade de um sentimento e deixar ele se esvair.

2. Se você vai alimentar um sentimento com atenção, conexões, pensamentos e tempo para mantê-lo vivo ou se vai mat´-lo de fome sem atenções, conexões, pensamentos e tempo.

3. Como reagirá ou responderá a um sentimento sem pensamentos, sentimentos e ações.

4. Como se sentirá antes de que algo aconteça ao escolher como interpretar e responder a algo antes de que aconteça.

5. A intensidade, frequência e duração de seus sentimentos pela maneira como lida, resolve problems e processa seus sentimentos.

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O paradigma STPHFR

Há mais coisas entre o estímulo (S) e a resposta (R) do que apenas pensamentos.

A verdadeira causa dos sentiemntos é o contato com a eneergia interior que está no coração, o trono da força vital. Quando a força vitl, sua energia vital, entra em contato (H) com alguma coisa, você terá sentimentos (F) sobre o que quer que tenha sido contactado. O coração pode fazer contato com qualquer coisa que esteja sentindo no seu mundo interior, com qualquer coisa que esteja sentindo no seu corpo, e com qualquer coisa que esteja sentindo no seu mundo exterior. Em suma, as sensações contactadas pelo coração podem ser sensações de coisas, pensamentos ou sentimentos.

Seu coração pode ter sentimentos ao tocar seus pensamentos, imagens ou memórias. Você pode até mesmo te sentimentos de sentimentos. Seu coração pode ter sentimentos ao tocar sensações do seu corpo, seu eu imaginário (ego, auto-estima), sua mente, seu ambiente físico, seu eu real, sua alma e seu ambiente espiritual.

-> Seu coração não precisa entrar em contato com aquilo que você sente em seu mundo interior, no seu corpo ou no seu mundo exterior.

-> Sentir com o coração é uma escolha, mas o condicionamento, o hábito e as respostas inconscientes podem tornar esse processo automático.

-> Identificar-se com algo sem sombra de dúvida resultará em levar esse algo ao coração. Identificar-se com algo é uma coisa muito pessoal e importante para que o coração não queira conhecer sentindo-o e contactando-o.

-> Os sentimentos comandam os comportamentos (R), não os pensamentos (T).

-> As sensações são a vida, não os pensamentos ou imagens (T).

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O modelo STPHFR



S = Stimulus = O que aconteceu? A qual evento ou experiência estou respondendo?

T = Thinking = O que estou pensando sobre o estímulo (S) que chamou minha atenção?

P = Playback = Quais pensamentos (T) estou reproduzindo (P) várias e várias vezes em minha mente sobre S?

H = Hearting = Quais pensamentoes (T) aceitei, identifiquei-me, possuí e levei ao coração?

F = Feeling = Quais sentimentos tenho sobre o que possuí (H)?

R = Response = Qual é minha resposta a S baseada em meus sentimentos (F) sobre H?

Para descobrir por que você se sente do jeito que sente descubra o que levou a seu coração.

Os sentimentos baseiam-se em contatos com sensações. As sensações baseiam-se em prestar atenção a algo. Você é responsável pelo que presta atenção e pelo que leva a seu coração; portanto, você é responsável por como se sente.

Sim, você tem maus hábitos de pensar, reproduzir e levar ao coração, hábitos esses que estão em piloto automático (subconsciente ou inconsciente). Mas você pode tornar esses hábitos, programas e scripts conscientes outra vez. Afinal de contas, originalmente eles eram conscientes antes de você condicioná-los e programá-los para se tornarem hábitos. Sim, os outros lhe ensinaram maus hábitos. Mas os outros não podem mudar seus hábitos por você.

Sim, você ainda pode tentar afetar o estímulo (S) quando isso for razoavelmente possível. Porém, a maior parte de sua energia deve ser aplicada onde você obterá o maior efeito e benefício: controlar o que você escolhe pensar (T), quais pensamentos você escolhe reproduzir (P) e o que você contacta (H) com sua energia interior.

A maneira mais eficaz de controlar um sentimento é controlar o que você leva ao coração (H). Se você não leva algo ao coração (H) você não conseguirá ter sentimentos sobre esse algo.

A maneira mais eficaz de controlar o que você leva ao coração (H) é controlar o que você reproduz (P) -- pois você somente leva ao coração (H) o que você reproduz (P). Reproduzir implica em identificar-se com algo, fazer desse algo parte do seu ego ou auto-estima, acrescentar sentimentos e experiências a novas experiências (S), obssecar-se com (S), tentar mudar ou controlar (S), gerar expectativas e desejos sobre (S), fazer de (S) algo importante ou perigoso, e ter crenças e interpretações sobre (S).

Embora isto tudo seja uma óbvia simplificação, afinal nem todas as sensações vêm do pensamnto (T) ou (P), é um lugar fácil para você começar a retomar seu poder pessoal: a responsabilidade emocional é a chave da sua saúde mental.

Sim, os outros podem criar a ocasião, a oportunidade, a tentação e o estímulo para que você pense, repense, e leve essas sensações ao coração. Mas os outros não podm escolher seus pensamentos (T) ou quais pensamentos você vai reproduzir (P). E os outros não podem escolher levar suas sensações dos estímulos ou dos pensamentos ao seu coração (H). Sim, é verdade, quando você era criança os outros pareciam ter poder sobre seus pensamentos e sentimentos, mas agora que você é adulto pode escolher ver através desses jogos e manipulações.

Somente você é responsável por suas escolhas. Não é maravilhoso?! Ou então o que você seria? Não um ser humano, mas um robô, uma marionete, uma invenção da imaginação de alguém, ou um zumbi.

Está na hora de você crescer, de amadurecer, e de tornar-se responsável por você todo: emocional, mental e comportamental. Então estará pronto para a fase final da maturidade: a responsabilidade espiritual.

* * *

-> Aceite que você é totalmente responsável por todos os seus sentimentos. Pare de culpar os outros e se fazer de mártir.

-> Não aceite absolutamente nenhuma responsabilidade pelos sentimentos dos outros. Recuse qualquer culpa.

-> Não aceite absolutamente nenhuma responsabilidade por mudar os sentimentos dos outros. Deixe que os outros amadureçam.

* * *

Quanto mais uma pessoa precisa de ajuda tanto mais provável essa pessoa vai resistir a aceitar ou a buscar ajuda. E por quê? Porque essa pessoa se encontra emocionalmente fraca e vulnerável de tal forma que qualquer confissão de qualquer falha que seja a levará a sentir ainda mais dor e sofrimento pelo ego ferido. Evitar e escapar da dor do ego ferido é a vida das pessoas emocionalmente imaturas. Infligir dor nos outros por meio de críticas, fofocas, sabotagem ou sarcasmo é a estratégia daquelas pessoas emocionalmente imaturas que descobriram que esse tipo de estratégia é eficaz para escapar da dor do seu ego ferido.

Fonte: Kevin FitzMaurice, Secret of Maturity, FitzMaurice Publishers, Portland, OR, EUA, 2017. Trechos selecionados.

15 de julho de 2018

Razão e emoção na psicoterapia


Finalmente solucionei, pelo menos para meu gosto, o grande mistério do porquê tantos milhões de seres humanos não apenas se tornam emocionalmente transtornados, mas por que eles persistem em permanecer assim. O própria recurso da linguagem, que os torna essencialmente humanos -- a capacidade de falar aos outros e de falar a si mesmos -- também os capacita a abusar desse recurso ao falar asneiras a si mesmos: definir as coisas como terríveis e inaceitáveis quando, na pior das hipóteses, essas coisas são apenas muito inconvenientes ou perturbadoras.

Em especial sua capacidade de falar, de falar a si mesmas, e sua capacidade de filosofar permite às pessoas que esqueçam que suas necessidades de sobrevivência são físicas ou sensoriais -- tais como comidas, fluidos, abrigo e boa saúde. Suas capacidades linguísticas os permitem, de maneira ilegítima, a traduzir seus desejos psicológicos -- tais como amor, aprovação, sucesso, lazer -- em necessidades definicionais. Assim, uma vez que definam seus desejos ou preferências como necessidades, ou aceitem as definições de seus pais ou de outras pessoas, a habilidade autocomunicante dos seres humanos continuará a lhes brindar com a doce e meiga capacidade de continuar a definir suas ¨necessidades¨ de maneira distorcida, mesmo que não haja nenhuma evidência que respalde suas definições.

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Definir o que somos pelo que fazemos é o que chamo de salto ¨mágico¨ na terra do non-sequitur. E o que é pior: esse tipo de pensamento definicional praticamente arruina seus próprios fins. Pois o objetivo de chamar-se de ¨mau¨ quando você faz coisas más é ajudar a que você cometa menos atos desta natureza no presente e no futuro. Mas uma vez que você se defina como ¨mau¨ então você apenas e tão-somente fará ¨coisas más¨ e uma vez que você aja como se assim fosse então quase sempre desempenhará mais ações más.

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1. Muitas preferências e valores mais que questionáveis são incutidos pelos pais durante a tenra infância, tais como as preferências de completa abstinência sexual antes do casamento. Mas em geral estas preferências não são transtornantes até que sejam transformadas em um ¨tem que¨ absolutístico: ¨Eu tenho que ser perfeitamente abstinente em todos os momentos antes do casamento e nunca nem mesmo desejar sexo não-marital!¨

2. Os ¨tem que¨ absolutistas, incondicionais, são parcialmente incutidos pelos pais, mas de maneira altamente inconsistente e contraditória. Assim, quando seus pais lhe dizem ¨Você tem que ser sexualmente abstinente¨ ou ¨Você sempre tem que fazer a lição de casa¨ e você os desobedecer, o que realmente poderá lhe acontecer? Quase sempre, pouco ou nada. Eles gritam e esperneiam por alguns minutos, e acabou: eles voltam a serem amorosos e gentis com você! Então a mensagem que eles continuam a transmitir é: ¨É preferível, em nossa família e cultura, que você continue virgem, meu querido, e a gente nõ vai gostar se você deixar de ser, mas obviamente você pode fazer praticamente qualquer coisa que quiser em termos sexuais e nada terrível vai acontecer com você¨. Mas é quando você toma de maneira séria e literal esses ¨tem que¨ e os transforma em seus próprios comandos é que você tende a se transtornar com isso.

3. Portanto seus ¨tem que¨ em geral não são aprendidos, mas são inventados por você mesmo, fabricados a partir de valores (frequentemente aprendidos) ou preferências, e os transforma em comandos neuróticos, perfeccionistas.

Convenhamos, na maioria das vezes somos nós mesmos que nos autoneurotizamos.

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Praticamente todos os seres humanos têm a tendência inata de transformar suas fortes preferências em exigências e deveres absolutistas, dogmáticos.

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As pessoas transtornadas pensam irracionalmente -- e sentem e se comportam de maneira autodestrutiva -- porque possuem tendências inatas para agir assim, aprendem a agir assim a partir de seus pais e do ambiente cultural, e tendem a praticar e a se habituarem a agir assim desde a tenra idade. Elas muito facilmente acabam pensando de maneira disfuncional. Alguns dos principais processos de pensamento nos quais elas se inculcam -- e que inclusive se sobrepõem e se reforçam muturamente -- são: (1) Elas criam falsas generalizações. (2) Elas tiram conclusões irrealistas. (3) Elas lançam mão de non-sequiturs. (4) Eles encaram as afirmações definicionais e tautológicas como se fossem factuais. (5) Elas acreditam devotamente em conclusões teológicas infalsificáveis. (6) Elas persistem em inventar e sustentar conclusões autodestrutivas. (7) Elas tiram conclusões sobre seus transtornos que acabam produzindo outros transtornos secundários. (8) Elas criam conclusões desesperançosas. (9) Elas se convencem de que seus pensamentos e sentimentos tem existência ¨objetiva¨ e independente, ao invés de serem em sua grande maioria inventados por elas mesmas. (10) Elas desprezam ou rejeitam as relações entre suas crenças irracionais neuróticas e seus comportamentos.

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1. Os seres humanos desenvolvem pensamentos e processos conscientes e inconscientes, e criam seus sentimentos e comportamentos neuróticos com crenças irracionais conscientes e inconscientes. Contudo, em vez de esses pensamentos irracionais estarem ocultos ou reprimidos (como ensina a teoria psicanalítica), quase sempre se encontram imediatamente abaixo do nível da consciência (aquilo que Freud chamava de pensamento pré-consciente) e podem facilmente ser resgatados e revelados mediante uso da teoria REBT.

2. Embora antigos eventos e sentimentos traumáticos possam estar inconscientemente reprimidos, isso é bem mais raro do que se imagina; e mesmo assim os sentimentos transtornantes que acompanham tais memórias traumáticas não sobrevivem por causa desse condicionamento antigo. Na maioria das vezes, os traumas infantis e as filosofias neuróticas que originalmente os acompanham (e que frequentemente são inventados pelos indivíduos neurotizados) são mantidos vivos pelas próprias pessoas ¨traumatizadas¨. É em grande medida seu próprio comportamente retraumatizante (assim como as tentativas naturais de dar conta ao que aconteceu) que mantém vivas as antigas perturbações. Boa parte desta retraumatização pode estar inconsciente -- ou seja, acompanham as crenças básicas horrorizantes e autodestrutivas.

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Há algo importante que não posso deixar de dizer. Estou convencido, embora não de maneira dogmática, de que existem limitações biologicamente inerentes aos seres humanos que os impedem de pensar consistentemente e construtivamente sobre seus próprios comportamentos. A resistência a novas ideias é uma parte estatisticamente normal da vida humana.

Fonte: Albert Ellis, Reason and Emotion in Psychotherapy, Birch Lane Press, Nova York, NY, EUA, 1994. Trechos selecionados.

Viktor Frankl e a logoterapia


Apesar da fraqueza física e mental imperantes em um campo de concentração, ainda se podia cultivar uma profunda vida espiritual. As pessoas de maior sensibilidade, acostumadas a uma ativa vida intelectual, certamente sofreram muitíssimo (frequentemente sua constituição física era frágil); no entanto, o dano infligido a seu ser íntimo foi menor pois eram capazes de se abster do terrível entorno e adentrar em seus espíritos, em um mundo interior mais rico e dotado de paz espiritual. Somente assim se explica o aparente paradoxo de que os menos dotados fisicamente suportaram melhor a vida do campo que os de constituição mais robusta.

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As tentativas de desenvolver um sentido de humor e ver a realidade sob uma luz humorística constituem uma epécie de truque que aprendemos na arte de viver. Inclusive é possível praticá-lo em um campo de concentração, embora o sofrimento humano seja onipresente. Isso se poderia explicar da seguinte forma: o sofrimento humano atua como um gás em uma câmara vazia; o gás se expande de maneira completa e uniforme no interior, independentemente do volume da câmara. De maneira análoga, o sofrimento, seja forte ou fraco, ocupa a alma e toda a consciência do homem. Daí se deduz que o "tamanho" do sofrimento humano é relativo. E, inversamente, o feito mais insignificante pode gerar as maiores alegrias.

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Esta tentativa de descrição psicológica e explicação psicopatológica das características do prisioneira do campo [de concentração] talvez induza o leitor a pensar que o homem seja um ser inevitavelmente dedterminado por seu entorno (neste caso, um entorno com uma estrutura insólita, com leis determinantes e repressivas intransponíveis, às quais se deveria submeter). Mas e quanto à liberdade humana? Não existe liberdade de ação frente ao entorno? Está correta a teoria segundo a qual o homem é um mero resultado de fatores condicionantes, sejam biológicos, psicológicos ou sociológicos? Será que o homem é realmente um produto acidental desses fatores? E, o mais importante aqui, as reações psicológicas dos reclusos no mundo do campo de concentração, demonstram que o homem pode escapar da influência do entorno? Será que o homem carece, em tais circunstâncias, de capacidade para escolher se limita ou anula sua liberdade de ação?

Podemos responder a estas perguntas sob a óptica da experiência e também apelando a certos princípios. A experiência da vida em um campo de concentração demonstra que o homem mantém sua capacidade de escolha. Os exemplos são abundantes, frequentemente heroicos, que provam que se pode superar a apatia e a irritabilidade. O homem pode conservar um reduto de liberdade espiritual, de independência mental, inclusive nos mais terríveis estados de tensão psíquica e física.

Nós, sobreviventes dos campos, ainda nos lembramos das pessoas que iam aos barracões consolar os demais, oferecendo-lhes seu último pedaço de pão. Talvez não fossem muitos, mas estes poucos são a prova irrefutável de que do homem tudo se pode extrair, menos uma coisa: a liberdade humana - a livre escolha de ação pessoal perante as circunstâncias - para escolher seu próprio caminho.

E lá sempre havia condições para escolher. Cada dia, cada hora, brindava a oportunidade de tomar uma decisão, decisão essa que estipulava se a pessoa se submeteria ou não à pressão que ameaçava arrebatar-lhe o último vestígio de sua personalidade: a liberdade interior. Uma decisão que prefixava se a pessoa se converteria - ao renunciar à liberdade e à dignidade - em joguete das circunstâncias do campo, deixando-se moldar por elas até que se convertesse em um prisioneiro ¨típico¨.

Vistas deste ângulo, as reações psicológicas dos prisioneiros de um campo de concentração vão muito além da mera expressão de determinadas condições físicas e sociológicas. Por mais que elas todas - a falta de sono, a escassíssima alimentação e as múltiplas tensões psíquicas - nos induzam a supor um comportamento estereotipado dos reclusos, se notava, em uma análise mais profunda, que o tipo de pessoa que se convertia cada prisioneira era mais o resultado de uma decisão pessoal que o produto da tirania do Lager. Assim que cada homem, inclusive em condições trágicas, pode decidir quem quer ser - espiritual e mentalmente - e conservar sua dignidade humana.

Disse Dostoyevsky: ¨Só temo uma coisa: não ser digno de meus sofrimentos¨. Estas palavras visitavam constantemente minha mente ao conhecer esses mártires cuja conduta, sofrimento e morte no campo supunham um testemunho vivo de que o reduto íntimo da liberdade nunca se perde. Eles foram dignos de seu sofrimento; a maneira em que suportaram supõe uma verdadeira façanha interior. Preciasmente esta liberdade interior, que ninguém pode arrebatar, confere à vida intenção e sentido.

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O homem que se deixava vencer pela ausência de futuro ocupava sua mente com pensamentos retrospectivos. Já mencionei aqui a tendência de refugiar-se no passado para apaziguar o horror do presente tornando-o menos real. Mas despojar o presente de sua realidade acarreta certos riscos. Aplacado por esta irrealidade, o prisioneiro deixava de ralizar ações positivas no campo de concentração, e essas oportunidades eram reais, existiam de verdade. Considerar a ¨vida provisional¨ como algo irreal constituía em si um fator primordial para que os prisioneiros desinteressassem de suas vidas, já que tudo carecia de sentido. Estas pessoas se esqueciam que, muitas vezes, as circunstâncias excepcionalmente adversas outorgam ao homem a oportunidade de crescer espiritualmente além de si mesmo. Em vez de aproveitar as dificuldades do campo para testar sua inteireza, julgavam sua situação errônea, como um parênteses inconsistente do destino. Preferiam fechar os olhos e refugiar-se no passado. Para essas pessoas a vida perdia todo seu sentido.

Evidentemente eram poucos os que conseguiam alcançar estes cumes de desenvolvimento espiritual. Mas os que os alcançavam conquistavam a grandeza humana, apesar de seu aparente fracasso ou morte; uma façanha que talvez nunca houvessem conseguido em circunstâncias ordinárias. Aos demais, os medíocres e pusilânimes, se poderia afirmar que acreditavam que as verdadeiras condições de autorrealização já haviam passado, quando na verdade consisitiam precisamente no desafio de escolher o que fazer da vida no Lager: converter esta tremenda experiência em uma vitória, transformá-la em um triunfo interior, ou desdenhar a experiência e limitar-se a vegetar, como o fizeram quase todos os prisioneiros.

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O que é urgentemente necessário em tais situações é uma mudança radical de nossa atitude frente à vida. Devemos aprender por nós mesmos, e mostrar aos homens desesperados, que na realidade não importa o que esperamos da vida, mas o que importa é o que a vida espera de nós.

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Transmitir ao leitor em um espaço tão reduzido o conteúdo da logoterapia é uma tarefa que desanima a qualquer um. Lembro-me de um colega americano que, em miha clínica em Viena, me perguntou:

-- Diga-me, doutor, o senhor é psicanalista?
-- Não exatamente, na verdade sou psicoterapeuta. -- respondi.
-- A que escola pertence?
-- Sigo minha própria teoria; se chama logoterapia.
-- O senhor poderia descrever em poucas palavras em que consiste a logoterapia?
-- Sim -- lhe disse -- mas antes o senhor poderia definir o que entende por psicanálise?

Eis sua resposta:

-- Na psicanálise o paciente se deita em um divã e conta coisas que são agradáveis de dizer.

Seu enunciado me deu oportunidade para improvisar:

-- Na logoterapia o paciente fica sentado, bem ereto, e tem que ouvir coisas que não são agradáveis de escutar.

Comparada com a psicanálise, a logoterapia é um método menos introspectivo e menos retrospectivo. A logoterapia se propõe a romper o círculo vicioso dos mecanismos de retroalimentação que tanta importância têm no desenvolvimento da neurose. Desta forma não se alimenta o típico egocentrismo do neurótico, mas o rompe.

Aquela definição improvisada é válida, pois o neurótico pretende evadir sua responsabilidade vital; por outro lado a logoterapia desperta sua consciência para que entenda que o sentido da vida é o fundamento para superar a neurose.

De acordo com a logoterapia, a primeira força motivadora do homem é a luta para encontrar un sentido em sua vida. Por isso faço alusão à vontade de sentido, em contraste tanto com o princípio do prazer (vontade de prazer) da psicanálise freudiana como com a vontade de poder que enfatiza a psicologia de Alfred Adler.

O homem é capaz de perder sua vontade de sentido, e neste caso a logoterapia fala de ¨frustração existencial¨. A frustração existencial também pode traduzir-se em neurose. A este tipo de neurose a logoterapia chama de ¨neurose noógena¨ em contraposição à neurose em sentido estrito: a neurose psicógena. A neurose noógena tem sua origem na dimensão noológica (do grego noûs, que significa ¨mente¨) da dimensão humana, não em sua dimensão psicológica. Este termo logoterápico denota sua vinculação com o núcleo ¨espiritual¨ da personalidade humana.

As neuroses noógenas não surgem do conflito entre impulsos e instintos, mas de problemas existenciais. É evidente, portanto, que a terapia mais apropriada para as neuroses noógenas não é a psicoterapia tradicional, mas a logoterapia: uma psicoterapia que adentra na dimensão espiritual.

Nego taxativamente que a busca de um sentido, ou a dúvida se existe esse sentido, proceda ou seja o resultado de uma enfermidade. A frustração existencial em si mesma não é patológica nem patogênica. A preocupação, ou a desesperação, por encontrar na vida um sentido valioso revela uma angústia espiritual, mas de modo algum supõe uma enfermidade.

A logoterapia entende que sua função é ajudar o paciente a encontrar o sentido de sua vida; portanto procede de uma modo analítico a ativar na consciência o logos oculto de sua existência.

Me atreveria a afirmar que, mesmo nas piores condições, nada no mundo ajuda a sobreviver como a consciência de que a vida esconde um sentido. Há muita sabedoria nas palavras de Nietzsche: ¨Quem tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como¨.

A saúde psíquica precisa de certo grau de tensão interior, a tensão entre o que se conseguiu e o que se há de conseguir; ou a distância entre o que se é e o que se deveria chegar. Esta tensão é inerente ao ser humano e, portanto, indispensável para o bem-estar psíquico. Considero errôneo e perigoso para a higiene psíquica tomar por verdade que o homem necessita antes de mais nada de equilíbrio interior ou, como se denomina em biologia, ¨homeostase¨: um estado sem tensões, em equilíbrio biológico interno. O que o homem necessita não é viver sem tensão, mas esforçar-se e lutar por uma meta que valha a pena.

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Duvido que exista algum médico que possa fornecer o sentido da vida com noções gerais, pois o sentido da vida difere de um homem a outro, de um dia a outro, de uma hora a outra. Postular a questão em termos gerais equivale à pergunta que se fez a um campeão de xadrez: ¨Qual a melhor jogada de xadrez?¨ Simplesmente não existe resposta possível; nunca existirá uma boa jogada, ou a melhor jogada, sem referência a uma determinada partida e à personalidade do oponente. Assim também acontece com a existência humana; não deveríamos buscar um sentido abstrato à vida, pois cada um tem uma missão ou um objetivo a cumprir.

Em última instância o homem não deveria questionar-se sobre o sentido da vida, mas compreender que é a ele a quem a vida interroga. Em outras palavras, a vida pergunta pelo homem, questiona ao homem, e este responde de uma única maneira: respondendo de sua própria vida e com sua própria vida. Somente com a responsabilidade pessoal se pode responder à vida.

Por isso que o logoterapeuta seja o menos indicado, entre os psicoterapeutas, para impor ao paciente algum juízo de valor, pois nunca deixará que o paciente transfira a ele a responsabilidade por julgar sua vida.

Tentarei explicar com uma ilustração. O papel do logoterapeuta é mais parecido com o de um oftalmologista do que de um pintor. O pintor oferece uma imagem ao mundo tal qual ele o vê; o oftalmologista, por outro lado, quer que vejamos o mundo tal qual ele realmente é. A função do logoterapeuta consiste em alargar o campo visual do paciente até que visualize responsavelmente o amplo espectro de valor e de sentido de seu horizonte existencial.

Quero destacar aqui que o sentido da vida se deve buscar no mundo, não dentro do ser humano ou da psique, como se fosse um mundo fechado. Por isso mesmo a verdadeira meta da existência humana não se reduz à autorrealização. A autorrealização por si mesma não pode ser uma meta. Não se deve considerar o mundo como expressão de si mesmo, nem como instrumento, nem como meio para a autorrealização.

Fonte: Viktor Frankl, El Hombre en Busca de Sentido, Herder Editorial, Barcelona, Espanha, 2016, trechos selecionados.

1 de julho de 2018

Comunismo e tolerância

Um dos lugares-comuns mais difundidos do comentário político moderno é o que define o nazismo como doutrina de ódio de raça, para distingui-lo do comunismo, que seria uma doutrina de ódio de classe. De fato, o comunismo não exerce seus ressentimentos segundo critérios de classe. Todas as classes sociais são potencialmente inimigas,  inclusive a classe proletária. Aquilo a que o comunismo visa são as elites: as elites boiardas, mas também a elite camponesa. Até a elite contrafeita que o partido impinge diante de nós, em função do governo, é liquidada sem preconceitos, no momento em que se manifesta como elite com tendência de independência. O comunismo é uma teoria de luta de classes, mas uma prática de usurpação das elites. Que assim estão as coisas, prova-o a população das prisões comunistas, onde políticos, professores universitários e grandes proprietários convivem e sofrem ao lado de camponeses anlfabetos, trabalhadores de todas as idades, padres, guardas e estudantes. O universo concentracionário não é a expressão de um martírio de classe; é um resumo perfeito do mundo. Aqueles 100 milhões de mortos que parecem ser o balanço provisório do comunismo mundial não são 100 milhões de burgueses. O título escolhido por Nicolas Werth para o primeiro capítulo de O Livro Negro do Comunismo, o que se refere à União Soviética, é exato a não mais poder: "Um Estado contra seu povo". Não contra uma classe ou ideia. Contra todo um povo. Tudo o que tem valor de identidade para o indivíduo humano, tudo o que lhe confere autoridade dentro de sua classe, tem de ser anulado.

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Uma primeira observação seria que vivemos num mundo de globalização, em que as distâncias espaciais e culturais diminuem visivelmente, mas isto não exclui a ignorância dos fundamentos intelectuais e sociais do outro; ao contrário, amplia o aspecto irracional desta ignorância. Você pode chegar relativamente rápido a Bangkok, pode ter relações políticas ou comerciais com Bangkok, mas pode fazê-lo sem passar, espistemologicamente, além do pitoresco turístico. Entre a globalização e a "cultura geral" instala-se, de maneira paradoxal, uma relação de proporcionalidade inversa. Quanto mais facilmente nos encontramos tanto menos nos conheccemos. Uma segunda obervação seria que a ignorância não esclui a cordialidade. Você pode ter boas relações com alguém acerca de cujo background cultural nada sabe. À primeira vista, temos de fazer um benefício de civilização: a comunicação é possível na ausência do conhecimento. Mas, estando assim as coias, pode-se ainda falar de comunicação de fato, ou temos que ver com um simples problema de etiqueta, com uma coreografia agradável de superfície? Assistimos, de fato, a uma modificação substancial de sentido do conceito de "tolerância". Ele já não designa aceitação do "outro", da opinião diferente, mas pura e seimplesmente ignorância (amável) da opinião diferente, a suspensão da diferença como diferença. Disso resulta que: 1. não tenho necessidade de te entender para te aceitar; 2. não tenho necessidade de discutir contigo para te dar razão. Dito de outro modo, estou de acordo com as coisas que não entendo e etou, em princípio, de acordo com as coisas com que não estou de acordo. A tolerância recíproca termina numa mudez universal, sorridente, pacífica, uma mudez porque o diálogo é uma interferência radiofônica indesejável. Nessas condições, a tolerância tem efeitos mais do que discutíveis: ela amputa o apetite de conhecimento, de compreensão real da alteridade, e dinamita a necessidade de debater. Para que negociarmos mais, se o resultado é, de qualquer modo, o consentimento mútuo ao direito do outro? Num mundo governado por tais regras Sócrates ficaria desempregado. Não se encontra nenhuma verdade, não se faz nenhum raciocício. Não se exige senão que respeitemos, educados, as convicções do interlocutor.

De uma necessidade estrita de boa convivência a tolerância se torna um habitus de neutralidade, um molho de anestesia lógica e axiológica, sintoma de uma alegre paralisia interior. Quero apenas chamar a atenção para a necessidade imperativa de acresentar à tolerância o discernimento, de não confundir o respeito à diferença com a ética dissolvente do "anything goes".

Fonte: Andrei Pleșu, Da Alegria no Leste Europeu e na Europa Ocidental, É Realizações Editora, trechos selecionados, São Paulo, Brasil, 2013.