O famoso
escritor de assuntos religiosos, Aleksey Stepanovich Khomyakov, faleceu em 25
de setembro de 1860, de cólera, longe de sua família, em sua quinta em Ryazan,
Rússia. No entanto, há um interessante relato de sua morte deixado por um
proprietário rural vizinho chamado Leonid Matveyevich Murometsev. Eis um trecho
de seu relato. Quando Murometsev entrou na casa de Khomyakov e lhe perguntou o
que estava acontecendo, este lhe repondeu: “Oh, nada especial, é hora de
morrer. Isso é muito ruim. Que coisa estranha! Quantas pessoas curei mas eu
mesmo sou incapaz de curar-me”. Segundo as palavras de Murometsev não se
detectava em sua voz absolutamente nenhum pesar ou medo, mas uma profunda
convicção de que não havia saída. “À uma hora da tarde mais ou menos,
percebendo que as forças do doente lhe estavam deixando, eu”, diz Murometsev, “perguntei-lhe
se queria receber as últimas unções. Ele aceitou minha oferta com um sorriso
cheio de alegria e disse ‘Eu ficaria muito, muito grato’. Durante todo o tempo
que durou o sacramento ele segurou em suas mãos uma vela, e aos sussurros orava
e fazia o sinal da cruz”. Logo em seguida pareceu a Murometsev que Khomyakov se
sentia melhor, fato este que desejava transmitir a sua. Faites vous responsable de cette bonne nouvelle; je n'en prend pas la
responsabilité [*], disse Khomyakov a Murometsev, em tom quase jocoso. “É
claro que você está melhor, veja como está mais quente e seus olhos agora
brilham”, observou Murometsev. “E amanhã brilharão ainda mais!” respondeu
Khomyakov. “Essas foram suas últimas palavras”, disse Murometsev. “Ele viu com
muita clareza que todos aqueles sinais de aparente recuperação nada mais eram
que os últimos esforços de sua vida. Alguns segundos antes de seu fim ele persignou-se
com firmeza e de plena consciência. Aleksey Stepanovich Khomyakov morreu em paz”.
Ele morreu assim porque seu coração sentiu o toque vivo do poder divino ao qual
ambicionava – o toque do poder que vence a morte, que dá às pessoas a certeza de
uma vida futura rejubilante e pessoal. E
dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, disse o Salvador do mundo.
[*] Seja
responsável por esta boa notícia; eu não me responsabilizo.
Fonte: Mitrofan Lodyzhensky, Light Invisible, Holy Trinity Publications, Jordanville, NY, EUA, 2011. pág. 177.