Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. (Mateus 5:29-30)
Isso não significa que devamos nos mutilar fisicamente, mas que devamos, isso sim, estar dispostos a abrir mão do que quer que nos conduza ao pecado, mesmo aquilo que em si aparente ser perfeitamente bom. Em outras palavras, temos de fazer alguns sacrifícios em prol de nosso bem-estar espiritual. Não existe atalho para a santidade.
Todo esse sacrifício é em última instância feito visando o amor. A autonegação deve ser exercida visando o amor a Deus e ao próximo. Desnecessário dizer que esse tipo de amor não tem a ver com emoções ou sentimentos, mas trata-se de uma doação dinâmica de nossas vidas ao próximo. Jesus disse: "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (João 15:13). Precisamente este é o amor de Deus por nós:
Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o Seu amor. (I João 4:10-12)
Hoje em dia muito se fala sobre o "amor". Todavia, a ideia secular de amor tem a ver com auto-satisfação, não com auto-sacrifício. No mais das vezes, "eu te amo" significa "eu me amo e quero você". Isso não é amor, mas uma paródia demoníaca de amor. Quem quer que pregue um sistema ético baseado num amor que não envolva autonegação e auto-sacrifício prega a doutrina do Anticristo. Não se deixe enganar pelos lobos em pele de cordeiro. O amor que não exige a entrega total de si não é amor. Conforme ensinou São Tiago:
E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? (Tiago 2:15-16)
Portanto, o caminho do Cristo é o caminho da Cruz. Não há caminho alternativo à vida eterna que não seja através do sacrifício do amor sofredor.
Fonte: The Faith, Clark Carlton, Regina Orthodox Press,Salisbury, EUA, 1997, pág. 131-132.
Nota: um exemplo de falso sistema ético de amor é o apresentado por José Ortega y Gasset aqui.